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Uma Nova Corrida Nuclear Armamentista?

  • dri2014
  • Aug 14
  • 3 min read
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O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em 1987 durante o período da Guerra Fria, exigia que os Estados Unidos e a União Soviética destruíssem todos os seus mísseis balísticos de médio alcance, marcando a primeira vez que duas potências concordaram em diminuir seus arsenais nucleares – eliminando toda uma categoria de armas nucleares – e aceitar inspeções para a verificação da não-proliferação desses armamentos.

No entanto, a partir de 2014, 21 anos após a implementação do Tratado, os Estados Unidos passaram a alegar que a Rússia estava violando termos do acordo ao supostamente realizar testes de voo com mísseis nucleares e de produzir tais mísseis. As alegações se repetiram nos quatro anos subsequentes, enquanto a Rússia negava estar violando o tratado e acusava os Estados Unidos de não estarem em conformidade, argumentando que os Estados Unidos estavam violando os termos do tratado ao instalarem sistemas antimísseis na Romênia e Polônia que podiam lançar mísseis de alcance intermediário como o Tomahawks.

Em 2017, após uma série de alegações ao descumprimento do Tratado pelos dois países, o governo do então presidente Trump divulgou um planejamento estratégico que serviria para responder às supostas violações russas por meio da diplomacia, pela implementação da Comissão Especial de Verificação, e pela pesquisa e desenvolvimento de um novo míssil de cruzeiro convencional lançado do solo e medidas econômicas punitivas contra empresas que se acredita estarem envolvidas no desenvolvimento do míssil.

Os Estados Unidos se retiraram do acordo oficialmente em 2019. O presidente Vladimir Putin se pronunciou poucos meses depois, suspendendo a participação da Rússia no tratado, mas impondo uma moratória unilateral do emprego de tais mísseis. No dia 04 de agosto de 2025, Moscou anunciou a sua retirada oficial do tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) como contramedida diante da implementação de mísseis de alcance intermediário na Alemanha pelos Estados Unidos. A decisão russa baseou-se nas ameaças diretas à segurança do país perante a mobilização de unidades de lançamento de mísseis norte-americanos nas regiões da Europa, Filipinas e Austrália.

            Conforme a declaração do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, as condições da  moratória unilateral sobre a implantação de armas semelhantes não estavam mais vigorando devido às ações dos Estados Unidos em reposicionar e instalar plataformas de mísseis na Europa e na Ásia. Além disso, o ministério informou que a saída da Rússia tinha como objetivo a manutenção do equilíbrio estratégico e o combate à nova ameaça.

            É válido destacar que, em 2023, Putin comunicou a suspensão (e não a retirada da Rússia) do Novo Tratado START, que representa o único compromisso importante em vigor entre Washington e Moscou sobre controle nuclear. O acordo — assinado em 2010 e com validade para o ano de 2026 — delimita a quantidade para a detenção de ogivas nucleares estratégicas por ambos os países e estabelece um mecanismo de supervisão. A decisão da Rússia foi justificada na acusação de que os Estados Unidos – aliados da Ucrânia na guerra com a Rússia - estariam violando as diretrizes do pacto e tentando prejudicar a segurança nacional russa.

Recorde-se que um outro acordo estratégico importante, o Tratado sobre Mísseis Antibalísticos (ABM), assinado em 1972, foi extinto quando os Estados Unidos anunciaram, em 2002, sua retirada unilateral do mesmo.

            A inviabilidade de prosseguir com a moratória unilateral, cumprindo os termos do extinto tratado do INF, anunciada em agosto de 2025 pelo Kremlin, faz-se presente em uma conjuntura marcada pelo engajamento de Trump em estabelecer um acordo para o término da Guerra da Ucrânia. A iminência de uma corrida armamentista ao estilo das tensões vivenciadas no pós-Segunda Guerra Mundial, intensificada pela rapidez dos mísseis russos e da inovação tecnológica, contribui para o atual cenário de preocupações e instabilidade na região.

            O alerta europeu e as movimentações das potências em aprimorar suas capacidades bélicas foram anteriormente tratados no Panorama Internacional em vista das indicações de uma escalada militar direcionada contra a Rússia. A operação conjunta entre Berlim e Washington, além da recente implementação de um lançador de mísseis Typhon nas Filipinas pelos EUA, caracterizam o escalonamento atual das hostilidades contra a Rússia e China. Em contrapartida, a confirmação de Putin em relação ao funcionamento e direcionamento de um míssil hipersonico capaz de conter ogivas nucleares — Oreshnik — denota o tom da reação russa. À vista dos fatos, pode-se inferir a ocorrência de um dilema de segurança no contexto ocidental provocado pelas crescentes tensões entre a Rússia e as potências do Ocidente.

 
 
 

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