top of page

Conflito Armênia–Azerbaijão: Mediação dos EUA Leva a um Acordo Inicial entre os Países

  • dri2014
  • Aug 28
  • 4 min read
ree

O recente acordo entre Armênia e Azerbaijão, assinado no dia 08 de agosto, representa o abrandamento dos confrontos regionais que envolvem as duas nações. Mediado por Donald Trump, o compromisso prevê o estabelecimento das relações bilaterais e a concessão de direitos de exploração, para os Estados Unidos, em um corredor estratégico localizado no sul da Armênia, região alvo das tensões com os azeris nos últimos tempos.


O conflito entre os países refere-se a uma rivalidade de longa data acerca do controle do território de Nagorno-Karabakh, o qual é reivindicado por ambos os lados. Com a dissolução da URSS, em 1991, a Armênia e o Azerbaijão proclamaram emancipação política, marcando o declínio da influência russa na região. Posteriormente, já em 1992, eclodiu um embate bélico entre os dois Estados em disputa pela posse de Nagorno-Karabakh, que se autodeclarara independente. A partir disso, as hostilidades bilaterais persistiram, acarretando em um enfrentamento militar entre 2021 e 2022. Em 2023, o governo separatista de Nagorno-Karabakh anunciou a dissolução do país, tornando-se território azerbaijano.


Destaca-se que, apesar de se encontrar nas delimitações do Azerbaijão, tal região era ocupada de forma expressiva por grupos armênios étnicos, que se retiraram em grande escala do território devido a uma ofensiva dos azeris para recuperar o domínio da parte montanhosa no ano de 2023. Em reação a isso, o governo armênio acusou o Azerbaijão de promover limpeza étnica, ao passo que as autoridades de Baku contestaram a queixa, comprometendo-se a respeitar os direitos da comunidade etnicamente armênia e a restabelecer a passagem que conecta a região ao país fronteiriço.


O compromisso bilateral recentemente acordado, com mediação dos Estados Unidos, não trata-se de um tratado definitivo para a paz, todavia dispõe as principais diretrizes para a aproximação entre as nações. Dessa forma, o documento determina a restauração das relações interestatais, a contenção do uso da força e a cooperação nos aspectos econômico, trânsito e transporte, ambiental, humanitário e cultural. Além disso, o acordo inicial assegura aos Estados Unidos a exclusividade no desenvolvimento do corredor de transporte, denominado pelo governo estadunidense de “Rota Trump para a Paz e Prosperidade Internacional” (e conhecido como Corredor de Zangezur) que interliga a Europa e a Turquia ao Azerbaijão e à Ásia Central.

O tratado é concebido em uma conjuntura política alarmante para a Rússia, uma vez que denota um enfraquecimento da influência russa para conciliar as hostilidades na região do Cáucaso e o crescente aumento do envolvimento norte-americano relativo à instalação da rota pró-Ocidente adotada pela Armênia. Tendo em vista a concentração das ações russas na Guerra da Ucrânia, os demais países da porção sul do Cáucaso encontram-se persuadidos a integrar a OTAN e União Europeia, como a Armênia, que anteriormente sinalizou interesse em adentrar no bloco europeu.


O recente acordo assinado entre Armênia e Azerbaijão, mediado pelo presidente norte-americano Donald Trump, marca uma virada significativa na geopolítica do Cáucaso. O pacto prevê a abertura do chamado Corredor de Zangezur, que conectará os dois países sob garantias legais da soberania armênia, mas concedendo aos Estados Unidos direitos exclusivos de desenvolvimento e administração da rota por 99 anos. Esse arranjo, além de consolidar a paz momentânea na região, após décadas de tensões ligadas a Nagorno-Karabakh, representa um movimento estratégico que insere os Estados Unidos na dinâmica logística e comercial da região, tradicionalmente influenciada por Rússia, Turquia e Irã.


Para Moscou e Teerã, a entrada dos EUA na região central do Cáucaso não é apenas uma questão de infraestrutura, mas sim uma ameaça ao equilíbrio estratégico que mantinham. O corredor, ao se tornar uma via de conexão patrocinada pelo Ocidente, desloca o eixo da influência local, e enfraquece projetos que vinham sendo defendidos tanto por russos quanto por iranianos, como os corredores de transporte norte-sul que buscavam integrar o comércio regional fora do alcance da OTAN.


A Rússia, que sempre se colocou como mediadora entre os dois vizinhos caucasianos, se vê agora como peça não central no conflito, enquanto os EUA ocupam a dianteira diplomática e econômica. Para o Irã, a presença americana tão próxima de suas fronteiras é ainda mais alarmante: autoridades iranianas classificaram o projeto como “sensível” e perigoso, acusando Washington de tentar isolar o Irã, colocar uma possível presença militar na região, e cortá-lo de suas rotas tradicionais de contato com o Cáucaso.


O general Yadollah Javani, da Guarda Revolucionária, chegou a comparar o acordo ao caso ucraniano, sugerindo que a aproximação de países vizinhos com o Ocidente é um convite a instabilidades e conflitos. Ali Akbar Velayati, conselheiro do líder supremo, foi ainda mais incisivo, declarando que o “Corredor Trump” não será uma rota de paz, mas sim um cemitério para aqueles que tentarem consolidar o território às custas dos interesses iranianos.


Nesse cenário, as consequências para Armênia e Azerbaijão são ambíguas, ao mesmo tempo em que ganham a oportunidade de integração focada nos Estados Unidos e na União Europeia, fortalecendo suas economias e conquistando maior autonomia frente às pressões geopolíticas da região, ambos os países correm o risco de negligenciar os interesses de seus vizinhos geográficos imediatos. A Rússia e o Irã não apenas compartilham fronteiras e história com eles, mas também representam parceiros tradicionais em organizações regionais.


O afastamento dessas potências pode significar retaliações econômicas, redução de apoio político e até o surgimento de tensões militares caso a Rússia e o Irã sintam que sua segurança estratégica está ameaçada. Além disso, ao ceder o controle de uma infraestrutura crítica a uma potência externa, Armênia abre espaço para uma dependência crescente do Ocidente, o que pode comprometer suas decisões políticas e diplomáticas no futuro. Com o acordo, Azerbaijão ganhou não apenas território, mas também uma via de acesso direto a Turquia, um país protetor e parceiro estratégico. E o sonho turco de unir as nações turcas do Cáucaso sob a sua esfera de influência torna-se uma possibilidade.


Em suma, o acordo representa um triunfo imediato para a política externa norte-americana, projetando Trump como mediador de um feito histórico no Cáucaso. Contudo, ao privilegiar Washington e Bruxelas em detrimento de Moscou e Teerã, ainda mais em um período de crescentes rivalidades políticas e econômicas entre a Rússia e os EUA, eles podem ter lançado as bases de uma nova disputa geopolítica na região, em que a paz conquistada no presente se transforme em uma fonte maior ainda de tensões já existentes. O Corredor de Zangezur, mais do que um projeto de transporte, simboliza uma disputa por influência no Cáucaso, e coloca Armênia e Azerbaijão diante do desafio de equilibrar ganhos imediatos com o risco de se tornarem peças ainda mais críticas em um jogo entre potências rivais.

 
 
 

Comments


  • Facebook Classic
  • Twitter Classic
  • Google Classic
Últimas postagens
Fique sempre a par! Assine a newsletter do Panorama.

Equipe:

Coordenador e Editor do Projeto - Dr. I.M. Lobo de Souza

Pesquisadores e redatores - Ana Clara Lélis; Marcia Maria Da Silva Aguiar; Alicia Delfino Santos Guimarães; Milena Gabriel Costa.

Webdesigner - Caio Ponce de Leon R F , Márcia Maria da Silva Aguiar.

© Copyrights  - Todos os direitos reservados.

Departamento de Relações Internacionais - UFPB
bottom of page