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Hostilidades Entre Estados Unidos e Venezuela Reacendem Crise Diplomática

  • dri2014
  • 5 days ago
  • 4 min read
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Durante os últimos dias, os Estados Unidos implementaram uma série de medidas que reforçam a postura do atual governo no combate ao narcotráfico na América Latina, gerando intenso debate sobre os possíveis objetivos políticos subjacentes dessas ações.


O presidente Donald Trump assinou uma Diretiva secreta que autoriza o uso da força contra cartéis de drogas na região, sinalizando uma escalada significativa na política antidrogas da administração americana. A medida foi apresentada oficialmente como um esforço para interromper redes criminosas transnacionais que têm impactos diretos nos Estados Unidos e em países aliados na região, incluindo rotas de tráfico de drogas que atravessam o Caribe e a América Central.


Historicamente, os Estados Unidos têm utilizado ações coordenadas com forças locais e, em alguns casos, forças próprias para tentar enfraquecer os cartéis de drogas, mas a assinatura da presente diretiva representa uma intensificação da política adotada por Washington, ampliando o poder de ação do governo americano na região.


Em paralelo à assinatura da diretiva, Washington despachou uma força naval para o Caribe, posicionando embarcações militares nas proximidades da costa venezuelana. Tal mobilização tem repercussões políticas e simbólicas, pois combina presença militar visível com a capacidade de exercer pressão sobre atores envolvidos em atividades ilícitas. A presença de navios de guerra próximos à Venezuela demonstra a disposição dos Estados Unidos de adotar medidas diretas contra o narcotráfico e reforça a mensagem de que a administração Trump está atenta às rotas de tráfico e à atuação de grupos criminosos transnacionais.


Ainda que oficialmente a movimentação seja justificada pelo combate ao tráfico, a ação também representa um gesto diplomático e político, mostrando força e determinação, que historicamente têm sido utilizados em estratégias de pressão – a ameaça implícita do uso da forca armada - sobre governos considerados problemáticos para os interesses americanos.


Paralelamente a essas medidas, a administração americana aumentou a recompensa pela captura do presidente Nicolás Maduro e o vinculou formalmente a um cartel de drogas venezuelano. Esse movimento remete a precedentes históricos, como o caso de Manuel Noriega, antigo líder do Panamá, que também foi acusado de envolvimento com narcotráfico e posteriormente preso e julgado em tribunal americano, numa intervenção militar realizada no ano de 1989. A comparação com Noriega não é apenas simbólica: ela reforça a narrativa de que líderes latino-americanos podem ser responsabilizados internacionalmente por atividades ilícitas de grande escala, estabelecendo um padrão de intervenção política e legal em casos considerados estratégicos pelos Estados Unidos.


Ao relacionar o presidente venezuelano a atividades criminosas, Washington cria um quadro de legitimação para ações futuras, sejam elas de natureza legal, militar, econômica ou política, reforçando a ideia de que a luta contra o tráfico de drogas pode se sobrepor a considerações de soberania.

Entende-se que a assinatura da Diretiva secreta, o envio da força naval para o Caribe e a acusação direta contra Nicolás Maduro representam um movimento coordenado da administração americana, que mistura combate ao narcotráfico com sinais claros de poder político e diplomático, talvez visando a mudança de regime na Venezuela e em outros países da região. A ação demonstra uma tentativa de fortalecer a posição dos Estados Unidos na região, enquanto simultaneamente estabelece parâmetros legais e simbólicos que podem legitimar medidas futuras contra líderes latino-americanos envolvidos em atividades ilícitas.


Segundo alguns críticos, a adoção da medida norte-americana visando ameaçar a segurança nacional da Venezuela poderia ser considerada uma violação à Resolução dos Poderes de Guerra, uma vez que a frota naval encontra-se na proximidade das águas venezuelanas sem autorização prévia do Congresso dos Estados Unidos que, de acordo com tal diretriz federal, deve ser notificado sobre qualquer ação de caráter militar dentro de um prazo de 48 horas pelo presidente. Além disso, conforme apontado no Al Jazeera, especialistas questionam a legalidade da ação empreendida pelos Estados Unidos, visto que qualquer ação marítima deve seguir as normas previstas na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.


Assim sendo, tem-se que as ações da frota naval enviada, composta por 4500 fuzileiros navais, encontram-se sujeitas às leis constitucionais norte-americanas e ao Direito Internacional, o que inviabilizaria a realização da prisão do chefe do Executivo da Venezuela pelos Estados Unidos. Vale mencionar que o contingente naval de Trump é insuficiente para invadir um território caracterizado por uma geografia rica em montanhas, selva e centros urbanos.


Em reação à atual conduta de Washington, Maduro solicitou que seus apoiadores se unissem às milícias venezuelanas para proteger o país de interferências externas de qualquer natureza, afirmando que “nenhum império tocará o solo sagrado da Venezuela". Por sua vez, o representante da ala de oposição a Maduro declarou que a soberania do país deve ser respeitada pelos demais e que qualquer ato de força contra o país deve ser rejeitado, não importando a origem.


Quando perguntado sobre as intenções americanas quanto a uma mudança de governo na Venezuela, o Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou que isso seria uma decisão presidencial, mas que o país estaria munido com todos os recursos das Forças Armadas. O antigo assessor da Casa Branca para questões latino-americanas, Juan González, disse em entrevista ao The Guardian, que o agrupamento de embarcações militares se assemelha a um teatro político, expressando que poderia ser apenas uma demonstração de força. Todavia, em caso de intensificação da presença dos Estados Unidos na costa da Venezuela, é possível que as hostilidades criem um cenário adverso de intervenção política na América do Sul.


No que diz respeito à reação de outros países latino-americanos, Argentina, Paraguai e Equador exprimiram apoio ao governo de Donald Trump. Sendo o primeiro a se pronunciar sobre a questão, o presidente do Equador, Daniel Noboa, chamou o Cartel de los Soles de "grupo terrorista do crime organizado" que representa perigo à população venezuelana. Santiago Peña, presidente do Paraguai, se manifestou por meio de nota informando que o seu país deveria destinar esforços ao combate e prevenção do crime organizado transnacional. Assim como os demais, a Argentina também categorizou o Cartel de los Soles como organização terrorista. Em contrapartida, o presidente da Colômbia teceu críticas ao envio do destacamento naval norte-americano, justificando sua posição com base no princípio da proporcionalidade.

 
 
 

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