Trump impõe tarifa adicional à Índia por comprar petróleo russo
- dri2014
- Aug 28
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Portando uma matriz econômica amplamente diversificada, a República da Índia constitui-se como um dos principais atores do regime de comércio internacional, figurando como uma participação decisiva em fóruns multilaterais de cooperação econômica, em especial no tocante ao Sul Global. Em 2024, sua pauta importadora representou um percentual de aproximados 23,49% de seu Produto Interno Bruto — equivalente a um montante de US$ 697 bilhões — conforme dados do Banco Mundial. A indistinção ideológica que fundamenta o seu comércio com os demais Estados do sistema internacional faz-se respaldada pelo seu longo histórico de não-alinhamento, remontando à sua liderança no Movimento dos Países Não Alinhados, proeminente na Guerra Fria. Esse contexto pode ser visto ao observar como a Índia é, atualmente, um dos maiores compradores de petróleo russo, e como se tornou um mercado de exportação relevante para Moscou após o afastamento comercial de vários países europeus quando a Rússia lançou sua invasão em larga escala na Ucrânia em 2022.
Tendo em vista esse cenário, Donald Trump, o presidente dos EUA, fez uma declaração por meio de uma publicação em sua rede social, Truth Social, na qual assegurou que aumentaria os impostos sobre os produtos indianos, afirmando que a Índia "não se importa com quantas pessoas na Ucrânia estão sendo mortas pela máquina de guerra russa". Além disso, Trump seguiu fazendo críticas à Índia: "A Índia não está apenas comprando grandes quantidades de petróleo russo, mas também vendendo grande parte do petróleo comprado no mercado aberto com grandes lucros", escreveu ele, afirmando que por isso aumentará substancialmente as tarifas pagas pela Índia aos EUA. Assim, Trump emitiu uma ordem executiva no dia 06 de agosto de 2025 impondo uma tarifa adicional de 25% sobre a Índia, sob a justificativa de que o país continua comprando petróleo russo e, com esse acréscimo, a tarifa total sobre as importações indianas chega a 50%.
Em resposta à ameaça do presidente Donald Trump, o governo indiano rejeitou as críticas ocidentais sobre a importação de petróleo russo e reiterou que a defesa dos interesses nacionais seguirá como prioridade. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Randhir Jaiswal, afirmou que o país protegeria seus interesses econômicos e que "o ataque à Índia é injustificado e irracional", afirmando o direito soberano do país de garantir o fornecimento de energia de acordo com suas necessidades. Jaiswal também argumentou que as importações da Índia só começaram depois que os países ocidentais desviaram os fornecimentos tradicionais para a Europa após a eclosão da guerra na Ucrânia. Ele também garantiu que, na verdade, os próprios EUA encorajaram a Índia a importar gás russo no início do conflito, "para fortalecer a estabilidade dos mercados globais de energia".
Ademais, acusou a União Europeia e os EUA de adotarem uma postura considerada hipócrita: "É revelador que as mesmas nações que criticam a Índia estejam se envolvendo em relações comerciais com a Rússia", disse Jaiswal. Ele afirma que no caso da Índia, esse comércio é necessário para manter a segurança energética de 1,4 bilhão de indianos, enquanto o comércio entre a Rússia e a Europa, por exemplo, não representa uma obrigação nacional vital. Jaiswall também observou que os EUA continuam importando hexafluoreto de urânio russo para sua indústria nuclear, paládio para veículos elétricos e outros produtos industriais, ficando claro, assim, a crítica do governo indiano aos EUA por impor tarifas, quando os próprios ainda mantêm relações comerciais com a Rússia. No ano passado, os EUA ainda comercializaram mercadorias no valor estimado de US$ 3,5 bilhões com a Rússia, apesar das sanções e tarifas.
O governo de Nova Delhi ainda afirmou que é "extremamente lamentável que os EUA tenham escolhido impor tarifas adicionais à Índia por ações que vários outros países também estão tomando em seu próprio interesse nacional". Assim, como esforço para atenuar os efeitos do aumento de tarifa dos EUA, seu maior parceiro comercial (responsável por 18% das exportações indianas), a Índia planeja aumentar suas exportações para 50 países, de acordo com veículos de comunicação locais. Reforça-se retoricamente a necessidade de reduzir a dependência excessiva de qualquer mercado isolado, em especial o norte-americano, ampliando sua presença em regiões alternativas. A estratégia revisada do governo abrange cinquenta países que, em conjunto, respondem por aproximadamente 90% das exportações totais da Índia. A estratégia prevê ampliar o engajamento com novos mercados, sobretudo no Oriente Médio e na África. A iniciativa será adaptada a produtos específicos e orientada por três metas centrais: diversificar as exportações, substituir importações por itens de produção nacional e elevar a competitividade internacional. Essa nova política tem como objetivo reduzir a dependência de qualquer mercado e minimizar os riscos associados a interrupções comerciais.
Andrew Korybko argumenta que inúmeros elementos justificam a postura altiva indiana em evitar alinhamentos com polos de poder concorrentes no sistema. A ambição de Nova Délhi em projetar-se como “Voz do Sul Global” implica em uma imagem de autonomia estratégica para com seus parceiros comerciais, que caso comprometida abriria espaço para que Pequim ocupasse esse papel de liderança entre os países em desenvolvimento. Korybko aponta que o petróleo russo faz-se fundamental à indústria indiana, garantindo competitividade e barateando insumos energéticos mediante sua ambição de projetar-se enquanto terceira maior economia do planeta. Leva-se em consideração, também a dependência histórica de armamentos russos a dilemas próprios de segurança do Estado indiano, visto que a Índia perderia parte significativa de sua capacidade de dissuasão mediante ameaça simultânea de China e Paquistão.
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