Os impactos das tarifas dos EUA na pauta de exportação brasileira
- dri2014
- Aug 14
- 4 min read

Tendo em vista o aumento da tarifa sobre as importações brasileiras pelo governo dos EUA, os exportadores do Brasil começaram a buscar mercados alternativos de forma a compensar a diminuição da demanda americana. A tarifa de 50% entrou em vigor no dia 06 de agosto e tem como principais alvos o café e a carne, setores importantes da economia brasileira, embora quase 700 itens terem sido incluídos em uma lista de exceções, com alíquota reduzida de 10%, as exportações de café e carne ficaram de fora e foram atingidas pela tarifa máxima.
Essa é uma das medidas da guerra comercial iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump - lançada contra diversos países - e tem como consequência a escalada das tensões entre o Brasil e os EUA. Trump defende esse aumento nas tarifas sobre produtos alegando que pretendia corrigir desequilíbrios comerciais, apesar do fato de os EUA terem tido um superávit comercial de US$ 6,8 bilhões com o Brasil em 2024 e por muitos anos anteriores, demonstrando uma contradição nesse argumento.
Tratando-se do comércio entre os países em termos setoriais, os Estados Unidos são o principal destino do café brasileiro, adquirindo cerca de 8 milhões de sacas, quase um quarto de todas as exportações do país. A China, por sua vez, tem uma participação bem mais reduzida: foi apenas o décimo maior comprador, com 529.709 sacas no mesmo período, volume 6,2 vezes menor que o enviado aos EUA, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). O Ministério da Indústria e Comércio Exterior do Brasil estimou que 35,9% das exportações para os EUA serão afetadas pelas tarifas, alertando que as perdas anuais podem chegar a US$ 14,5 bilhões. Além disso, fica ainda mais claro o impacto do aumento tarifário ao observar a safra de 2024/2025, em que o Brasil exportou 7,468 milhões de sacas de café para os EUA, tornando-se o maior destino das exportações brasileiras de café, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, representando 16,4% do total das exportações brasileiras de café. Ademais, do ponto de vista financeiro, isso representou US$ 1,9 bilhão em exportações de café, além de US$ 1,35 bilhão em carne.
De acordo com uma declaração da embaixada chinesa pela rede social X (Twitter) "A China aprovou a autorização de 183 novas empresas brasileiras de café para exportar para o mercado chinês", acrescentando que a medida entrou em vigor em 30 de julho e permanecerá válida por cinco anos. Do ponto de vista chinês, o chá ainda domina os hábitos diários, mas o consumo de café cresceu 15% na última temporada, segundo dados da Organização Internacional do Café (OIC). Tal cenário pode ser visto ao observar também o número de cafeterias de marca no país, que cresceu 58% nos últimos 12 meses, impulsionado pela expansão de marcas globais como a Starbucks e pela popularização do consumo urbano por redes locais, como a Luckin Coffee. Esse aumento pode representar o reflexo da recente iniciativa da China em expandir suas relações comerciais e de importação com o Brasil. Considerando o potencial de crescimento no consumo de café que o mercado chines tem para oferecer, já que ainda está longe de atingir seu potencial máximo - o consumo per capita no país é de apenas 16 xícaras por ano, muito abaixo da média global de 240 - o cenário se mostra fértil para importações brasileiras.
Tais restrições fizeram-se notadas também noutros setores do comércio de commodities brasileiros, em especial no mercado de carne bovina. No período de uma semana após o anúncio da tarifa de 50% sobre a carne bovina brasileira, dentre outros produtos, verificou-se um impacto significativo nos frigoríficos nacionais, marcada pela suspensão de parte da produção voltada ao mercado norte-americano. Segundo Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), alguns frigoríficos, especialmente em estados como Mato Grosso do Sul, já pararam de produzir carne destinada aos EUA, enquanto outros reduziram de forma expressiva seus embarques. Diante do cenário extraordinário em que se insere na cadeia de comércio nacional, o setor buscou redirecionar a produção a outros mercados estratégicos, tais como China, Sudeste Asiático e Oriente Médio - almejando mitigar-se o impacto da perda de acesso aos Estados Unidos.
Conforme dados coletados pela plataforma Comexstat, instância de monitoramento do comércio exterior brasileiro vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o Estado brasileiro figura como um dos mais proeminentes exportadores de carne bovina - tal como demais produtos agrícolas - no fluxo de commodities dentro do regime internacional de comércio. Configurando-se como segundo principal destino das exportações brasileiras de carnes congeladas, em 2024 o comércio com os EUA contabilizou um montante de US$ 885.026.418,00 em seu valor FOB (Free On Board) para o ano de 2024 (dados extraídos do Comex Stat). Em abril de 2025, os EUA registraram um recorde de importações: US$ 229 milhões por 44,2 mil toneladas. Mas já em junho, esse volume despencou para apenas 13,5 mil toneladas, no valor total de US$ 75,4 milhões.
Por outro lado, nota-se um crescimento exponencial das compras feitas por importadores mexicanos após o anúncio das restrições, que dispararam de apenas 3,1 mil toneladas para recordes 16,2 mil toneladas - um aumento de 423% no comparativo com o mesmo período do ano anterior, considerando o período entre janeiro e junho de 2025. Esse crescimento meteórico fez com que o México - que outrora não figurava nem entre os dez maiores compradores - ultrapassasse os Estados Unidos na pauta exportadora nacional, tornando-se o segundo maior comprador da carne brasileira. No acumulado de julho, até o dia 28, os EUA gastaram US$ 68,7 milhões para importar 12,3 mil toneladas de carne brasileira - queda de aproximadamente 70% em relação ao desempenho de abril. Em contrapartida, o México pagou US$ 69 milhões e importou praticamente o mesmo volume - 12,1 mil toneladas - posicionando-se à frente dos americanos também nesse indicador.
Considerando que tal acréscimo súbito dá-se pela notável integração das economias mexicana e estadunidense, o aumento exponencial reflete, sobretudo, a resiliência da logística do mercado de commodities internacionais - ressaltando a estrutura de interdependência do regime de comércio global em seus moldes contemporâneos. Assim, a principal alternativa brasileira contra as ações arbitrárias da economia estadunidense, visando atenuar as consequências negativas na economia, é buscar expandir sua zona de exportação, através de novos mercados consumidores, sobretudo em mercados alternativos ao Norte Global.
Comments