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Guerra Comercial em Curso: Os Efeitos Duradouros das Tarifas de Trump

  • dri2014
  • Jul 24
  • 4 min read
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A política comercial adotada por Donald Trump em seu segundo mandato tem-se baseado na imposição de aumento de uma série de impostos de importação sobre mercadorias oriundas de outros países. De acordo com o presidente norte-americano, as tarifas objetivam impulsionar o setor industrial dos Estados Unidos, reduzir a diferença do valor entre as exportações e importações e o aumento da arrecadação, e incentivar os consumidores a comprar produtos fabricados no país.

O pacote tarifário não é uma novidade na condução econômica de Trump. Ao longo de sua primeira gestão, entre 2016 e 2020, o presidente anunciou a incidência de tarifas de importação para itens como painéis solares, máquinas de lavar, aço, alumínio, além da implementação de tributos de 25% sobre mais de 800 mercadorias de origem chinesa. A primeira guerra tarifária do Donald Trump foi respondida por países como a China, Canadá e membros da União Europeia.

Desde o seu retorno à Casa Branca em janeiro de 2025, a amplitude das barreiras comerciais tem se expandido significativamente. Em seu primeiro mandato, o governo de Trump aplicou tarifas direcionadas a países específicos, ao passo que desta vez os encargos tributários são generalizados, tornando-os inevitáveis.

Com relação a alguns países, Trump tem utilizado os encargos comerciais como estratégia de negociação para o atingimento de objetivos não comerciais também, exigindo, por exemplo, o maior controle sobre o contrabando de drogas e a imigração irregular nas fronteiras compartilhadas com o Canadá e o México.

A imposição dos tributos deu-se em um contexto econômico dos Estados Unidos marcado pelas tendências de desinflação nos custos de moradia e de outros serviços essenciais, queda contínua nos preços da gasolina e de pacotes de viagens e acumulação de estoques pré-tarifários pelas empresas importadoras. Os mercados mais impactados pelas tarifas foram o de vestuário, commodities e veículos automotores.

Entre as principais repercussões no cenário doméstico, mencionam-se o aumento dos preços de eletrodomésticos, móveis e brinquedos e o congelamento de alguns setores, como o mercado imobiliário e de trabalho. Apesar do crescimento das taxações, relatórios de inflação dos últimos três meses demonstraram que os preços mantiveram-se estáveis, com uma dilatação acentuada. Espera-se que os custos de mercadorias como equipamentos médicos e suprimentos cirúrgicos, eletrônicos e bebidas alcóolicas encareçam nos próximos meses. É estimado, pelos economistas, que os acréscimos nos preços comecem a afetar mais os consumidores ao decorrer do ano. Também calcula-se que a tarifa média efetiva geral de 2025 será de 17,9%, sendo a maior desde 1934.

Em contrapartida da expectativa criada com o anúncio das medidas tarifárias, houve um aumento no índice de desemprego para 4,1%, representando uma diminuição da ocupação de postos de trabalho. Quanto aos efeitos no PIB real — aquele que não considera os impactos inflacionários — visualiza-se uma expansão de 0,8 pp menor do que todos os impostos aduaneiros do ano. Diante da volatilidade dos preços, é previsto que os ajustes da taxa de juros pelo FED (Federal Reserve) distanciem-se da meta de 2%, com o aumento dos preços.

O encolhimento das vendas do varejo também configura uma consequência negativa da política de impostos. Ainda assim, empresários do setor produtivo sustentam que as taxas altas e voláteis terão reflexos nos preços pagos pelos consumidores. No mercado financeiro, os preços das ações têm passado por instabilidades. Desde março, a moeda americana desvalorizou-se consideravelmente, em razão dos receios relativos aos efeitos das tarifas no crescimento econômico. As flutuações têm afetado também os rendimentos de títulos do tesouro e a cotação de criptomoedas.            

 A política tarifária adotada por Trump vem rompendo com décadas de adesão americana ao livre comércio, e gerou uma série de repercussões negativas tanto no plano doméstico quanto internacional. A imposição unilateral do país de tarifas, especialmente sobre a China e a União Europeia, gerou instabilidade nas relações internacionais. Países parceiros passaram a encarar os EUA com desconfiança, dada a instabilidade das decisões econômicas do novo governo Trump, questionando sua disposição em cumprir compromissos multilaterais. Além disso, a imprevisibilidade da política comercial americana afetou a confiança de empresas e investidores, o que têm resultado na suspensão, e reavaliação de diversos acordos e tratados comerciais.

Entre as respostas mais imediatas às tarifas impostas pelos Estados Unidos estiveram as retaliações da China, país que vem sendo o principal alvo da guerra comercial, que elevou tarifas sobre produtos agrícolas americanos, e sobre a exportação de seus minerais raros – disputa que rendeu novos acordos comerciais dos EUA com a Ucrânia, como explicamos nesta matéria.

A União Europeia também respondeu à guerra tarifária, taxando produtos simbólicos dos Estados Unidos, como motocicletas e bebidas alcoólicas. Essas medidas provocaram perdas econômicas concretas para diversos setores americanos, e alimentaram uma escalada de tensões que colocou em xeque a estabilidade do sistema comercial internacional.

Com a elevação dos custos de importação, muitas empresas multinacionais passaram a buscar alternativas à fabricação na China, optando por relocalizar suas operações em países como Vietnã, Índia ou México. Embora isso tenha sido apresentado como uma tentativa de “repatriar” a produção, na prática significou aumento de custos, menor eficiência e impactos inflacionários.

As implicações geopolíticas de longo prazo das política tarifárias podem ser significativas. As decisões instáveis tomadas pelo governo Trump abriram espaço para que a sociedade econômica internacional vislumbrasse diferentes perspectivas à atual dominância dos Estados Unidos no cenário político, financeiro e econômico global.

Iniciativas como o RCEP (Parceria Regional Econômica Abrangente), lideradas por países asiáticos e sem a participação americana, demonstram a crescente perda de protagonismo dos EUA na definição das regras do comércio internacional. Ao enfraquecer sua presença nesses espaços, os Estados Unidos cedem influência estratégica em regiões fundamentais para a nova ordem econômica global.

Por fim, a política tarifária de Trump abriu caminho para a intensificação de guerras comerciais prolongadas. O uso recorrente de tarifas como instrumento de pressão política e econômica alimenta ciclos de retaliação entre países, dificultando a cooperação internacional em momentos críticos – como pandemias, crises financeiras ou transições energéticas. Além disso, cria um precedente para que outras potências adotem políticas protecionistas semelhantes, ameaçando décadas de avanços na construção de um sistema comercial mais aberto.

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