top of page

A Europa em Alerta: Risco Real de Guerra?

  • dri2014
  • 4 days ago
  • 4 min read

As recentes mobilizações das potências europeias para aumentar suas capacidades militares e preparar suas populações para possíveis crises têm intensificado os alertas sobre a possibilidade de uma escalada bélica contra a Rússia. As medidas adotadas pelos países europeus incluem a ampliação dos investimentos dos sistemas de defesa e infraestrutura, distribuição de guias de sobrevivência para a guerra e preparação de kits de emergência. A busca da Europa por autonomia estratégica corresponde ao desejo de superar a dependência dos Estados Unidos em razão da instabilidade do atual governo Trump e de conter as ações coordenadas de Moscou relacionadas ao expansionismo e ao risco de rompimento de ligações submarinas por embarcações russas.

Diante da crescente deterioração das relações diplomáticas da União Europeia com a Rússia e da percepção de uma ameaça cada vez mais concreta, diversos países europeus, bem como a própria União Europeia, têm adotado uma série de medidas emergenciais e estruturais para se prepararem para um possível cenário de guerra. O sentimento de urgência, que antes se mostrava restrito à esfera da diplomacia e das decisões militares, agora chega diretamente à vida cotidiana dos cidadãos, às escolas e às políticas públicas nacionais.

No Reino Unido, o governo, acompanhado por setores da imprensa, orientou os cidadãos a prepararem kits de emergência domésticos. Os manuais e campanhas veiculadas sugerem que a população mantenha estoques de água potável, alimentos não perecíveis, lanternas, baterias e medicamentos básicos. A medida foi motivada principalmente pelo receio de ataques cibernéticos, sabotagens e outras formas de guerra híbrida que poderiam comprometer a infraestrutura energética e os serviços essenciais. A recomendação, embora vista por alguns como alarmista, se apresenta em um contexto mais amplo de preparação civil para emergências que se alinha com as diretrizes da União Europeia.

Na Alemanha, o debate sobre a prontidão para um eventual conflito ganhou um novo rumo após declarações de ministros do governo sugerirem que o sistema educacional deveria preparar as crianças e adolescentes para situações de guerra. Por exemplo, foi dito pela Ministra de Educação alemã que os colégios alemães deveriam começar a incluir conteúdos voltados à conscientização sobre defesa civil, segurança nacional e comportamentos em tempos de crise ou catástrofes potenciais. A declaração da representante ministerial se faz contemporânea às animosidades entre os Estados europeus e Moscou, bem como aos recentes investimentos de até € 1 trilhão nas forças armadas e no rearmamento do país. A aprovação do parlamento alemão à proposta de Merz indicam os esforços feitos em prol de romper com a dependência dos Estados Unidos, modernizar as capacidades bélicas à vista de um conflito com a Rússia e garantir a resiliência das redes críticas, como transporte, energia e comunicações.

Essa proposta, que gerou debate público, reflete um movimento mais amplo no país: o Parlamento alemão já aprovou, no final de 2024, um plano de investimento de até 1 trilhão de euros em defesa e infraestrutura, citando diretamente a ameaça russa como justificativa. O objetivo é reforçar a capacidade militar do país, modernizar as Forças Armadas e garantir a resiliência das redes críticas, como transporte, energia e comunicações.

A Comissão Europeia, inclusive, também lançou recentemente diretrizes semelhantes para todos os Estados-membros. A orientação geral é que cada cidadão esteja pronto para enfrentar situações de crise severa, incluindo cenários de conflito armado. A recomendação não se limita a kits domésticos: ela inclui ainda a importância de identificar abrigos seguros, conhecer procedimentos de evacuação e ter um plano de comunicação familiar em caso de interrupção de redes móveis e internet. Em alguns países, como Suécia e Noruega, panfletos com essas instruções estão sendo amplamente distribuídos para todas as residências, reforçando a mensagem de que a preparação deve ser encarada com seriedade.

Essas ações civis se somam à movimentação institucional por parte da União Europeia para reforçar sua base de defesa. Propostas como a criação de estoques obrigatórios de munições entre os países-membros e a centralização de compras militares têm como objetivo garantir que o bloco esteja pronto para uma resposta rápida diante de qualquer agressão. O Comissário Europeu de Defesa, em declarações recentes, foi categórico ao afirmar que a Europa precisa abandonar a ilusão de que a guerra está distante e agir como se o conflito fosse uma possibilidade concreta.

Em todos esses casos, o pano de fundo é o mesmo: uma mudança no paradigma europeu de segurança. A guerra na Ucrânia, iniciada em 2022, foi o catalisador dessa transformação, e a linguagem da dissuasão foi substituída pela da preparação concreta.

As medidas adotadas nos últimos meses revelam uma Europa que se prepara não apenas militarmente, mas também psicologicamente, socialmente e logisticamente para um cenário de instabilidade prolongada. A mensagem é clara: diante da incerteza do cenário internacional, estar preparado passou a ser não apenas uma política de segurança, mas uma obrigação civil. O futuro permanece incerto, mas a resposta dos governos europeus indica que eles não pretendem ser pegos de surpresa.

De outro lado, a propagação do medo na população europeia atenderia a dois objetivos relevantes. Primeiramente, o fantasma da invasão dos países da União Europeia e OTAN pela Rússia ajuda a justificar o aumento substancial de investimentos em defesa, e a consequente redução dos gastos sociais e aumento da dívida pública. Além disso, a propagada ameaça iminente da Rússia justificaria a inserção progressiva da política de defesa comum na esfera de competência exclusiva da União Europeia, aumentando ainda mais os poderes das instituições da União em detrimento da soberania dos Estados membros.

Comentarios


  • Facebook Classic
  • Twitter Classic
  • Google Classic
Últimas postagens
Fique sempre a par! Assine a newsletter do Panorama.

Equipe:

Coordenador e Editor do Projeto - Dr. I.M. Lobo de Souza

Pesquisadores e redatores - Ana Clara Lélis; Marcia Maria Da Silva Aguiar; Alicia Delfino Santos Guimarães; Milena Gabriel Costa.

Webdesigner - Caio Ponce de Leon R F , Márcia Maria da Silva Aguiar.

© Copyrights  - Todos os direitos reservados.

Departamento de Relações Internacionais - UFPB
bottom of page