A Cúpula de Paz na Suíça
Longe de suas dificuldades no campo de batalha, a Ucrânia está lutando para manter o apoio político do maior número possível de países na sua guerra com a Rússia. O presidente Volodymyr Zelensky voou para as Filipinas, Arábia Saudita, Singapura, Catar e Itália nas últimas semanas em uma campanha para aumentar a pressão sobre a Rússia para cessar os combates em seus termos. No dia 15 de junho de 2024, Zelensky se reuniu com outros líderes e representantes de países em um resort nas montanhas suíças para uma cúpula de paz organizada pelo governo da Suíça. Essa investida diplomática, em vez de remediar fissuras na simpatia global pela Ucrânia, acabou por expô-las. O presidente ucraniano, que convidou o líder chinês Xi Jinping para participar da conferência na Suíça, entrou em conflito público com a China, que, segundo ele, desencorajou outros países de participar.
No dia 16 de junho, encerrou-se a Cúpula para a Paz para a Ucrânia, realizada na Suíça, que tinha como objetivo traçar um caminho para o fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Cerca de 100 delegações de países e organizações internacionais participaram do evento. Embora a maioria dos participantes tenha assinado o comunicado final, várias nações importantes não o fizeram.
A declaração final (Comunicado Conjunto) pareceu ser um compromisso diplomático. Ela mencionou a “guerra em curso da Federação Russa contra a Ucrânia”, mas depois focou em questões secundárias, delineando uma “visão comum” sobre questões cruciais, incluindo: a segurança de todas as instalações nucleares conforme os princípios da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com atenção especial à Usina Nuclear de Zaporizhzhia, que tem estado no centro dos conflitos entre Rússia e Ucrânia; o livre fluxo de produtos agrícolas ucranianos para países interessados, destacando a proteção de navios mercantes e infraestruturas portuárias no Mar Negro e no Mar de Azov; e a troca de todos os prisioneiros, além da devolução de civis ucranianos deslocados ilegalmente, com ênfase nas crianças deportadas. Ela também inclui uma cláusula sobre a necessidade de envolver todas as partes nas negociações, sugerindo um desejo de envolver a Rússia em futuras cúpulas. Contudo, dada a postura dos países envolvidos na crise, essa possibilidade parece improvável.
No total, 82 delegações assinaram a declaração final. A Presidente da Suíça, Viola Amherd, afirmou em coletiva de imprensa que a “grande maioria” dos participantes concordou com o documento, incluindo: Austrália, Áustria, Canadá, Chile, Costa Rica, Costa do Marfim, Comissão Europeia, Conselho Europeu, Parlamento Europeu, França, Geórgia, Alemanha, Gana, Grécia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Quênia, Kosovo, Letônia, Noruega, Palau, Catar, Sérvia, Turquia, Ucrânia, Reino Unido e Estados Unidos.
No entanto, alguns países relevantes do Sul Global não assinaram. O Brasil participou da cúpula como observador, mas não apoiou o comunicado. Outros países que não assinaram incluem o México, a Tailândia e a Indonésia. A Índia declarou que Nova Delhi optou por não aderir ao comunicado conjunto devido à ausência da Rússia na cúpula: a Rússia não foi convidada para a cúpula, pelo que Moscou a descartou como "inútil". O príncipe Faisal bin Farhan al Saud, Ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, expressou preocupações semelhantes e orientou seu país a não assinar. A África do Sul também não apoiou a declaração. Iraque, Jordania e Ruanda a assinaram, mas logo depois retiraram seu apoio.
Karl Nehammer, chanceler da Áustria, que assinou a declaração, explicou que culpar o Kremlin pela guerra foi uma fonte de discórdia. Ele disse que “É uma questão de escolha específica das palavras, mas mesmo aqueles que não vão assinar deixaram claro que sua posição é a mesma: a guerra deve acabar”.
Muitos analistas consideraram o evento irrelevante, argumentando que os principais pontos não foram discutidos. Eles também afirmaram que a cúpula prolongou uma discussão já abordada pelo Plano de Paz da China, que o Ocidente rejeitou como “vago”. A análise revela que o documento da cúpula é semelhante a seis dos doze pontos do Plano de Paz da China: basear a resolução do conflito na Carta da ONU; libertação de prisioneiros de guerra e detidos; segurança das usinas nucleares; proibição do uso de armas nucleares; manutenção da segurança alimentar e das cadeias de suprimentos; e evitar a militarização. Os seis pontos omitidos incluem o apelo para cessar-fogo, retomada das negociações de paz, abandono da mentalidade da Guerra Fria, resolução da crise humanitária, remoção de sanções unilaterais e apoio à reconstrução pós-conflito (para saber mais sobre o Plano de Paz da China para a Guerra na Ucrânia, acesse esse link!).
O resultado limitado da Cúpula não poderia ter sido outro, pois não se pode esperar sucesso de um fórum multilateral de negociação onde uma das duas partes do conflito não foi convidada a participar. O objetivo dos países ocidentais, ao promover a Cúpula, era seguramente mostrar uma frente mundial unida contra a Rússia e isolá-la diplomaticamente. No entanto, a solidariedade diplomática dada pelos países do BRICS+ e seus aliados à Rússia mostrou a coesão do expandido bloco de cooperação política e econômica e frustrou a iniciativa.
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