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Dependência Energética Expõe Limites das Sanções da UE ao Petróleo Russo

  • dri2014
  • Jul 9
  • 4 min read
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Desde o início da Guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, os países da OTAN — incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido e os países-membros da União Europeia — estabeleceram 17 pacotes de sanções contra a Rússia, tornando-a o ente estatal mais sancionado no contexto internacional de todos os tempos. As medidas de penalização refletem o objetivo de atingir as receitas russas, em especial seu setor de energia, representando uma alternativa para reduzir o financiamento russo na ofensiva contra o território ucraniano.

Em resposta às sanções impostas pelas potências ocidentais, a Rússia passou a redirecionar as exportações dos produtos petrolíferos ao mercado asiático e a arquitetar uma cadeia de distribuição dos seus combustíveis fósseis, com o apoio da Índia, Turquia e Marrocos nos processos de refinamento e reexportação. A estratégia de Moscou para manter os lucros provenientes das vendas de petróleo e gás abrange desde a utilização de embarcações clandestinas russas — conforme já relatado no Panorama — até a reorientação do destino dos óleos combustíveis para países como a China, Índia, Turquia, Arábia Saudita e Singapura.

Em 2024, a economia da Rússia cresceu cerca de 4,3%, superando o desempenho das principais economias ocidentais — Estados Unidos (2,8%), Reino Unido (1,1%) e a União Europeia — e contrariando as expectativas iniciais em relação ao impacto das sanções. Além disso, o comércio internacional de hidrocarbonetos, em volume, manteve-se estável devido ao deslocamento do eixo consumidor para a Ásia. De acordo com dados do Centre for Research on Energy and Clean Air (CREA), no ano passado as receitas russas advindas da comercialização de combustíveis fósseis sofreram uma queda de 5% em comparação a 2023, ao passo que houve um crescimento de 6% com as exportações do petróleo bruto.

Nesse sentido, destaca-se que as embarcações da frota fantasma contribuem diretamente para a estabilidade das exportações russas no contexto internacional. Dessa forma, os navios denominados “shadow fleets” atuam com o transporte clandestino de petróleo e gás, com vistas a driblar os embargos estabelecidos pelos Estados europeus. Estima-se que a frota obscura de Moscou representa aproximadamente 20% dos petroleiros mundiais, permitindo a manutenção do orçamento quanto à Guerra da Ucrânia por meio da venda paralela de produtos petrolíferos e seus derivados.

Em razão das restrições europeias impostas contra os derivados de petróleo da Rússia, os países asiáticos tornaram-se os principais mercados importadores. Desse modo, as remessas dos produtos petrolíferos sujos — tais como o petróleo bruto, óleo combustível e condensado sujo — em direção à Índia quase dobraram no mês de maio de 2025, enquanto que China e Singapura encontravam-se entre os principais consumidores do óleo combustível russo. Por sua vez, o fluxo de exportação de produtos refinados de petróleo marítimo e gasóleo a vácuo da Rússia para a Turquia ampliaram 75% em relação a abril do ano corrente.

Apesar do atual cenário de sanções por parte do ocidente, a Rússia continua a lucrar exponencialmente com a exportação indireta de petróleo, por meio de seus derivados, tanto para a União Europeia, quanto para os países asiáticos e do oriente médio, como a Índia, Turquia e Marrocos, que por meio de uma brecha nas sanções — a qual permite a compra dos derivados de petróleo russo — se apresentam como alguns dos atuais maiores refinadores de petróleo proveniente dos hidrocarbonetos russos.

O processo de refinamento dos hidrocarbonetos russos por outros países é uma brecha entre os 17 pacotes de sanções impostos, em que países compram o petróleo, o refinam, e revendem seus produtos combustíveis para outros países, em sua maior parte, países membros do G7. O CREA divulgou pesquisas rastreando as exportações de energia russa, acusando que países como Índia e Turquia são responsáveis por promover a comercialização do petróleo russo. O Ministério do Petróleo e Gás Natural da Índia declarou, por meio de sua conta na plataforma X, que “ O relatório do CREA é enganoso e representa uma tentativa enganosa de manchar a imagem da Índia, o quarto maior refinador de petróleo do mundo. Demonstra uma falta de compreensão da dinâmica global de oferta e demanda e da longa história da Índia como um grande exportador de produtos refinados.”

Diversos outros países aparecem na pesquisa, como a República Tcheca, que mesmo com as devidas sanções gastou 5 vezes mais com a importação de petróleo e gás russo do que em ajuda à Ucrânia. Países como Taiwan, Reino Unido e Espanha também são investigados por comprarem petróleo de origem russa por meio de países intermediários como o Marrocos, Turquia e Singapura.

Dados demonstram que o valor arrecadado pela Rússia na venda de combustíveis fósseis para países aliados à Ucrânia é maior do que a respectiva ajuda dada por esses aliados ao país. Isso demonstra que, de certa forma, a necessidade por petróleo dos países ocidentais tem servido para o financiamento russo no conflito contra a Ucrânia. Esses mesmos dados analisam os Estados Unidos como segundo maior consumidor do petróleo russo, atrás somente da China.

A falta de políticas diretas por parte do Ocidente para impedir o funcionamento das frotas fantasmas, e reprimir as brechas impostas pelas sanções à Rússia, demonstram um receio em, de fato, limitar a produção e exportação de gás e petróleo russo, uma vez que tal medida pode acarretar em um aumento exponencial nos preços de energia em países da União Europeia.

A situação controversa dada pelo financiamento indireto à economia russa pelos países aliados à Ucrânia, demonstra a dependência europeia do petróleo e uma escassez de alternativas viáveis, tanto para o esmaecimento das exportações russas, quanto para a substituição do uso do gás e do petróleo provenientes da Rússia. Esse cenário evidencia que o mercado global – mas especialmente, o mercado europeu – não tem capacidade de operar, atualmente, sem os combustíveis russos.

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