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Alinhamento estratégico: Reino Unido e União Europeia se reaproximam 5 anos após o Brexit.

  • dri2014
  • Jul 9
  • 4 min read
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A guerra travada entre os governos russo e ucraniano introduziu novos dilemas de segurança para o continente europeu, que remontam aos temores de um expansionismo do Kremlin que pautaram as relações internacionais do continente no século XX. A postura de alerta, pautando-se na defesa a uma hipotética guerra continental, constitui um dispositivo retórico amplamente instrumentalizado pelas instâncias decisórias da União Europeia - tal como em alguns de seus Estados-membros individualmente. O alinhamento das políticas externas reflete medidas que buscam reforçar o poder geopolítico progressivamente enfraquecido do continente, reforçando e centralizando mais o poder das instituições da União Europeia. 

Tendo em vista esse cenário, cinco anos após o Brexit, o governo britânico parece estar se movendo em direção a uma reaproximação lenta com a União Europeia. Apesar de não ter um mandato popular claro para essa mudança, uma recente reunião entre as duas partes resultou em avanços políticos significativos, o que sinalizaria o início de um novo capítulo nas relações entre o Reino Unido e a UE.

Nesse sentido, um acordo informal divulgado pela UE apresenta algumas conclusões dessas negociações exploratórias, principalmente sobre a cimeira Reino Unido - União Europeia de 19 de maio de 2025, em que buscaram áreas com potencial comum para reforçar sua cooperação bilateral. Inicialmente, o documento trata sobre o interesse mútuo da UE e do Reino Unido em reforçar a sua cooperação em matéria de segurança e defesa. Em síntese, isso incluiria o apoio à Ucrânia; iniciativas de segurança e defesa; mobilidade de material e pessoal militar; segurança espacial; diálogos regulares de alto nível e consultas estratégicas; consolidação da paz e gestão de crises; questões cibernéticas; combate a ameaças híbridas e resiliência de infraestruturas críticas.

No que diz respeito a priorizar as pessoas no centro da relação entre a UE e o Reino Unido, as partes compartilham a opinião de que é do interesse mútuo fortalecer os laços interpessoais, principalmente entre as gerações mais jovens, além de buscarem criar um programa de intercâmbio que permita a participação de jovens da União Europeia e do Reino Unido em atividades como trabalho, estudos, voluntariado e viagens, por um período limitado. Esse programa deve ter termos acordados, incluir um processo de visto específico e garantir um número de participantes que seja aceitável para ambas as partes. Além disso, devem trabalhar visando a associação do Reino Unido ao programa Erasmus+ da União Europeia.

Buscando reforçar suas economias e proteger, ao mesmo tempo, o planeta e seus recursos naturais, foi estabelecido que é do interesse tanto do Reino Unido quanto da União Europeia fortalecer suas relações econômicas e promover a prosperidade mútua a partir da cooperação estreita no domínio da eletricidade. Ademais, em relação às novas tecnologias energéticas, como o hidrogênio, as partes apoiam o intercâmbio técnico regulatório contínuo, a captura, utilização e armazenamento de carbono e biometano.

Outro setor relevante ajustado no Acordo foi a colaboração mútua para a criação de uma Área Sanitária e Fitossanitária Comum, por meio de um Acordo Sanitário e Fitossanitário, que será conhecido como “Acordo SPS”. Esse acordo tem por objetivo um aumento grande na movimentação de animais, produtos animais, plantas e produtos vegetais entre a Grã-Bretanha e a União Europeia, já que poderão ser realizadas sem os certificados ou controles atualmente exigidos para tais movimentações.

Partindo-se de um contexto geopolítico, a tentativa do Reino Unido pós-brexit de reaproximar-se do bloco continental pode ser depreendida como um esforço de prover uma plataforma conjunta de enfrentamento a uma entendida ameaça russa à segurança do continente. Tal presunção levou-lhes ao acordo informal intitulado “Parceria de Segurança e Defesa entre a União Europeia e o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte”, de maio de 2025; cujo escopo escrutina e ratifica as ações implementadas e discutidas entre a União Europeia e o Reino Unido para o contexto referido. Apesar de não portar vinculação jurídica formal, baseia-se em tratados já firmados, como o Acordo de Comércio e Cooperação (TCA).

Para além de reforçar os alegados valores comuns compartilhados entre os países - direitos humanos, democracia e respeito às normas internacionais -, o documento dispõe sobre bases estratégicas que nortearão os mecanismos de cooperação bilateral e diálogo institucional entre os dois atores. O acordo delineia inúmeras medidas que estruturam a parceria estratégica entre a UE e o governo de Londres no campo da segurança e defesa, suscitando instrumentos de consulta e coordenação periódica entre altos representantes de defesa e relações exteriores de ambos, a fim de garantir alinhamento estratégico e resposta coordenada diante de ameaças à segurança continental. O rol temático reafirma os compromissos cooperativos em áreas-chave como cibersegurança, ameaças híbridas, defesa espacial e contraterrorismo. A reaproximação toma um escopo excepcional quando o documento menciona a abertura mútua para a participação em treinamentos conjuntos a organizações como a OTAN, tal como exercícios de simulação e missões civis e militares sob os interesses convergentes.

A reaproximação entre o Reino Unido pós-brexit e a União Europeia faz-se, portanto, reflexo de uma mudança na estratégia da inserção internacional dos Estados europeus, priorizando esforços conjuntos na preservação do peso geopolítico historicamente associado ao continente num Sistema Internacional progressivamente militarizado e multipolar.

 
 
 

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