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Trump e a ameaça de tarifa extra sobre os países do BRICS e seus apoiadores

  • dri2014
  • Jul 22
  • 5 min read
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Desde que assumiu novamente o cargo de presidente dos Estados Unidos, neste ano, Trump já anunciou uma série de novas tarifas sobre produtos importados de outros países, se apoiando no argumento de que isso restabeleceria o equilíbrio do comercio bilateral, incentivaria a indústria americana e criaria empregos. Assim, em abril de 2025 aconteceu o que ele chamou de "Dia da Libertação", em que foi divulgado uma onda de novas tarifas sobre produtos de diversos países ao redor de todo o globo, alguns chegando a 50%, embora tenha rapidamente suspendido esses planos mais agressivos permitindo três meses de negociações até 9 de julho.

Agora, o presidente Trump ameaçou os países que apoiarem as políticas do bloco denominado Brics com uma tarifa extra de 10%, sob a justificativa de que esse apoio iria contra os interesses dos EUA. Embora ele afirme que não vê o bloco como uma “ameaça séria”, acredita que foi criado para "destruir o dólar para que outro país possa assumir o controle e ser o padrão". Ele afirmou em suas redes sociais que "Qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas dos BRICS pagará uma tarifa ADICIONAL de 10%. Não haverá exceções a essa política”.

O Trump é abertamente um grande crítico do BRICS. Essa postura se dá principalmente por este ser um bloco econômico e político formado por países emergentes - Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arabia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Iran e Indonésia - que buscam promover uma ordem internacional mais multipolar e menos centrada em potências ocidentais, além de impulsionar a posição internacional das nações membro e desafiar a hegemonia dos EUA a Europa Ocidental. Com a expansão do Brics, segundo o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu a 17ª cúpula anual de líderes do bloco esta semana, este bloco de nações representa mais da metade da população mundial e 40% da produção econômica global.

A XVII Cúpula do BRICS, realizada entre os dias 6 e 7 de julho de 2025, sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, configura-se então como um esforço de cooperação multilateral para mudar a atual conjuntura internacional marcada por um unilateralismo de Washignton. Em um cenário marcado pela crescente fragmentação das ordens institucionais tradicionais e pelo questionamento das estruturas hegemônicas de poder, o encontro reitera o papel do BRICS como vetor estratégico de contestação e reconfiguração da governança global.

Sediada no Brasil, a cúpula ratifica um esforço de abrangência e estreitamento dos laços entre Estados circunscritos ao conceito de Sul Global. Tal cenário inevitavelmente evidencia as tensões entre as relações sistêmicas entre o Norte desenvolvido e o Sul em processo de fortalecimento. Em 2024, Trump ameaçou impor tarifas de 100% aos países do Brics caso eles adotassem uma moeda própria com o objetivo de rivalizar diretamente com o dólar americano. Contudo, apesar desta ameaça não ter se concretizado, o presidente dos EUA segue fazendo intimidações aos apoiadores do bloco, quando Trump advertiu os países a não colaborarem com as nações do Brics, após os membros do bloco criticarem as políticas tarifárias dos EUA e sugerirem reformas no Fundo Monetário Internacional (FMI) e na forma de avaliação das principais moedas.

Após uma reunião de dois dias no Rio de Janeiro, os ministros das Finanças do Brics divulgaram uma declaração na qual criticaram as tarifas, considerando-as uma ameaça à economia global e uma fonte de "incerteza para as atividades econômicas e comerciais internacionais". Andrew Wilson, secretário-geral adjunto das Câmaras de Comércio Internacionais, afirmou que será um desafio para os países interromperem seus negócios com a China: "Afastar-se da China... em vários setores é muito mais difícil de ser alcançado na prática no mundo (...) Se você olhar para o domínio da China em vários setores — veículos elétricos, baterias e particularmente terras raras e ímãs — não há alternativas viáveis à produção chinesa”.

Ademais, em declaração conjunta emitida em 6 de julho, os líderes do BRICS condenaram as ações militares de Israel, um aliado dos EUA, na Faixa de Gaza e no Irã, e solicitaram reformas nas instituições globais, dizendo que o aumento de "medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais" era uma ameaça para o comércio global. Além disso, também afirmaram a necessidade de alternativas de pagamento para reduzir a dependência do dólar americano e do sistema da Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (SWIFT), um sistema de mensagens de pagamento transfronteiriço que tem sido utilizado para aplicar sanções dos EUA e da União Europeia contra entidades da Rússia e do Irã.

Destarte, a referida Cúpula do BRICS busca adotar como eixo norteador a cooperação do Sul Global - a fim de uma pretendida governança mais inclusiva, atrelada a uma crítica concernente à persistência de assimetrias estruturais no Sistema Internacional. Em seu escopo temático, o documento instrumentaliza o esforço de remodelar a política global sob uma práxis internacionalista - cuja abertura para cosmovisões não-ocidentais, tal como mecanismos de regionalismos plurais e alternativas à dependência excessiva do dólar e dos instrumentos de Bretton Woods acaba por fomentar sublevação contra um papel periférico do sistema. Tal estratégia no tabuleiro internacional perpassa, pois, múltiplas instâncias - desde a cooperação para o desenvolvimento, o esforço de institucionalizar o Banco do BRICS como importante ator do sistema financeiro e até mesmo transversalizando-se em eventuais questões de segurança e fomento da paz.

No que diz respeito à posição dos países membros do BRICS, observa-se que eles apresentam divergências em alguns aspectos. Em resposta ao alerta tarifário de Trump em 7 de julho, o presidente do Brasil afirmou: “Não queremos um imperador”. Ele destacou que o BRICS busca “uma nova maneira de organizar o mundo do ponto de vista econômico” e reiterou seu desejo por relações comerciais que “não dependam do dólar”. Por outro lado, o porta-voz do Ministério do Comércio da África do Sul, Kaamil Alli, disse que o país "não é antiamericano" e ainda está aberto a negociar um acordo comercial com os Estados Unidos. A Índia não forneceu imediatamente uma resposta oficial a Trump. Enquanto a Malásia, que participou como país parceiro e foi penalizada com tarifas de 24%, as quais foram posteriormente suspensas, afirmou que mantém políticas econômicas independentes e não está centrada em um alinhamento ideológico. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, negou que o BRICS seja "contra qualquer país". Ele afirmou que o grupo é contra o uso de tarifas "como ferramenta de coerção e pressão". Já o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que os membros do BRICS “compartilham abordagens comuns e uma visão de mundo comum sobre como cooperar com base em seus próprios interesses".

A disruptividade sutil do status quo no leque temático da cúpula ratifica, por outro lado, a não mais plena capacidade das superpotências do mundo desenvolvido em operar mecanismos de ingerências e intervenções contra atores do sistema que considerem subversivos a seus ditames. Para além da busca desenfreada da retomada de autoridade geopolítica, trata-se sobretudo da ciência de que ela, em algum grau, está esvaindo-se.

 
 
 

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