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Tensões se acirram entre a Turquia e nações da UE


Após meses de recentes confrontos em sua busca por gás natural e petróleo na região do Mediterrâneo Oriental, em áreas nas quais Grécia e Chipre reivindicam direitos econômicos, a Turquia volta aos holofotes internacionais, dessa vez com um olhar crítico da União Europeia (UE). Na última semana, o Parlamento Europeu, órgão legislativo da UE composto por mais de 700 eurodeputados, aprovou uma resolução não vinculativa em apoio ao Chipre, país insular do mediterrâneo também membro da UE, instando os líderes do bloco a “agirem e imporem sanções duras em resposta às ações ilegais da Turquia”.

A resolução se refere às atividades ilegais praticadas pela Turquia no distrito de Varosha, na cidade de Famagusta, região norte do Chipre, abandonada em 1974, após a invasão turca, pelos cipriotas gregos expropriados, que se refugiaram na parte Sul da ilha. A questão, não resolvida desde os anos 80, se reacendeu depois que o presidente turco Tayyip Erdogan fez uma visita em novembro à República Turca de Chipre do Norte, a parte separatista cipriota unicamente reconhecida internacionalmente pela Turquia.

Ademais, foi também matéria de debate no Parlamento Europeu as ações militares ilegais e unilaterais da Turquia e sua atuação direta em apoio ao Azerbaijão no conflito de Nagorno-Karabakh, bem como suas ações na Líbia e na Síria, além da desestabilização nas relações UE-Turquia, que atingem um ponto mínimo histórico. De maneira prática, a resolução deve reforçar o apoio às pressões individuais da França e da Alemanha, por meio de sanções do bloco contra a Turquia, já em dezembro, seguindo uma ameaça anterior feita pela UE.

É preciso considerar que a Turquia, além de ser candidata à adesão à UE e fazer parte da OTAN, representa uma parceria estratégica fundamental para os europeus em muitas áreas, entre elas a questão do gás e dos refugiados. Nesse sentido, um diplomata europeu afirmou que, com relação a sanções mais firmes e incisivas, “não há consenso no Conselho (dos governos da UE). Ainda é muito cedo”.

A Alemanha, atual detentora da presidência de seis meses da UE e maior parceira comercial da Turquia na Europa, que tentou mediar as disputas recentes entre Ancara e Atenas no Mediterrâneo, detém agora a chave para determinar se as sanções serão impostas ou não. Decerto, a hostilidade e o tom acusatório da Turquia influenciarão a decisão alemã.

Os dois países se encontram numa disputa diplomática após Ancara acusar as forças alemãs de realizarem uma busca “não autorizada'” em um de seus cargueiros à procura de armas. Essa ação alemã fazia parte da operação Irini, uma missão lançada em 31 de março de 2020 com sede localizada em Roma, operada sob a égide da Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD), e que objetiva o monitoramento do embargo de armas da ONU à Líbia.

O Ministério das Relações Exteriores turco disse que convocou os representantes diplomáticos da Alemanha, UE e Itália para protestar contra a operação. Um porta-voz do Ministério da Defesa da Alemanha disse que fuzileiros navais alemães entraram no navio, o "Rosaline-A", de um helicóptero depois que nenhuma resposta foi recebida da Turquia a um pedido para realizar uma busca. Entretanto, o Ministério das Relações Exteriores da Turquia insiste em afirmar que a ação foi conduzida sem autorização e com o uso da força. Apesar da busca ter sido encerrada quando a equipe recebeu resposta da Turquia, que recusou a permissão, não foi detectada nenhuma mercadoria proibida, e, segundo autoridades turcas, o "Rosaline-A" estava transportando apenas tinta e ajuda humanitária.

Em outra ocasião, no meio deste ano, durante uma das reuniões entre os ministros de defesa da OTAN, um funcionário do ministério francês expôs o desconforto vivenciado com a Turquia durante os últimos capítulos da guerra civil na Líbia. Os dois aliados abraçam lados opostos no conflito líbio, e dias anteriores, autoridades turcas acusaram a França de violar decisões da ONU e da OTAN, que apoiam o Governo de Acordo Nacional (GNA), ao respaldar forças do Khalifa Haftar. Na mesma assembleia, a França denunciou um episódio contra a marinha turca no Mediterrâneo. Segundo o relato francês, durante uma fiscalização de manutenção do embargo de armas à Líbia, seus navios foram assediados por fragatas turcas, que, ao que tudo indica, estavam tentando violar o embargo e traficar armas para a Líbia. Uma visita surpresa à Trípoli, do ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, azedou ainda mais o relacionamento entre os dois membros da OTAN.

Há desconfiança por parte da UE de que a Turquia está cometendo violações regulares e cada vez mais flagrantes ao embargo, alimentando uma guerra por procuração, o que está evitando soluções políticas. Assim, a Turquia denuncia que a participação alemã na missão Irini mostra que Berlim não é imparcial no conflito, alegando que o embargo é parcial e beneficia o líder rebelde Khalifa Haftar. Cavusoglu insiste que a operação é tendenciosa e ilegítima, já que a anfitriã da conferência internacional sobre o conflito líbio não se mostrou imparcial nem neutra. Ao mesmo tempo, a Turquia é um dos maiores apoiadores do GNA e lhes fornece apoio militar, incluindo drones que ajudaram as forças da GNA a empurrar Haftar para fora do noroeste da Líbia.

Isso desencadeou a aplicação de sanções por parte da UE a uma das empresas turcas que estariam supostamente violando o embargo, a Avrasya Shipping, acusada de contrabandear armas para a Líbia. Agora, após a crise entre Turquia e Alemanha, alguns países da UE estão pressionando por novas sanções contra os violadores do embargo de armas à Líbia, numa clara insinuação à Turquia.

A Turquia de Erdogan está se indispondo com os dois países centrais e mais influentes da União Europeia, além de outros aliados da OTAN. A assertividade turca no Mediterrâneo, no Cáucaso, e no Oriente Médio elevou os riscos de isolamento diplomático e de sanções. Por quanto tempo poderá a Turquia manter sua atual orientação de política externa?

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