O Impacto Regional da Reconciliação entre Arábia Saudita e Irã

As relações bilaterais entre o Irã e a Arábia Saudita, rivais de longa data no Oriente Médio, têm sido tensas devido a várias questões geopolíticas, como aspirações de liderança regional, políticas de exportação de petróleo e relações com os Estados Unidos e outros países ocidentais. Em 1987, quando as forças de segurança sauditas em Meca, na Arábia Saudita, entraram em conflito com peregrinos iranianos em um protesto anti-EUA, resultando em mais de 400 mortos, e, em retaliação, manifestantes iranianos saquearam a embaixada saudita em Teerã, capital do Irã, as relações diplomáticas entre os dois países foram suspensas até 1990. Elas foram interrompidas novamente, dessa vez por sete anos, após a execução, pelo governo, de Nimr al-Nimr, proeminente clérigo xiita que era uma força motriz por trás dos protestos antigovernamentais contra a Arábia Saudita, e o ataque de 2016 às missões diplomáticas sauditas no Irã.

Entretanto, ambos os países concordaram, em março de 2023, em retomar as relações, após o anúncio de um acordo diplomático mediado pela China, pondo fim a décadas de antagonismo e competição estratégica na região. Muitos dos conflitos ali presentes estão associados ao contexto maior do antagonismo Saudita-Iraniano e sunita-xiita. Assim, a distensão nas relações entre os dois países está produzindo efeitos positivos na resolução de outros conflitos regionais.

Isso pode ser observado na Guerra Civil do Iêmen, onde o Irã e a Arábia Saudita apoiam lados diferentes, com a Arábia Saudita apoiando o governo do Iêmen, enquanto o Irã apoia os rebeldes Houthi. A Arabia Saudita e seus aliados do Golfo interviram militarmente no conflito, o que gerava custos materiais, financeiros e humanos para os sauditas sem que houvesse a finalização do conflito. Em 9 de abril deste ano, a delegação saudita se reuniu com representantes Houthis em Sanaa, capital do Iêmen, para discutir um cessar-fogo permanente no país. Embora ainda não esteja claro os detalhes sobre o acordo pendente, fontes indicam que ele pode incluir um cessar-fogo de seis meses, reabertura de fronteiras e portos, pagamento de salários para iemenitas em todo o país, medidas de reparação e compensação, e uma retirada de todas as forças estrangeiras do Iêmen antes do início de um processo político. Após mais de oito anos de guerra no país empobrecido, as reuniões levaram alguns a terem um otimismo cauteloso de que os combates no Iêmen podem estar diminuindo. Ainda que o acordo mediado pela China, entre a Arábia Saudita e o Irã, possa ter um impacto positivo na situação do Iêmen, o progresso observado se deve, principalmente, em razão dos anos de trabalho diplomáticos de Omã. Omã tem desempenhado um papel importante na mediação de conflitos e na promoção de estabilidade na região, atuando como um facilitador neutro e confiável nas negociações observadas, sendo fundamental para o avanço de iniciativas que visem resolver questões pendentes relacionadas à intervenção no conflito do Iêmen.

A Guerra Civil na Síria é outro conflito regional em que a Arábia Saudita e o Irã têm interesses opostos; nela, o Irã apoiou o governo sírio militarmente com bilhões de dólares, enquanto a Arábia Saudita foi uma importante fornecedora de ajuda material e financeira aos grupos rebeldes. Em razão disso, a Síria foi suspensa da Liga Árabe como uma forma de provocar mudança de regime ou ao menos pressionar o governo sírio a buscar uma solução pacífica para o conflito. No entanto, a recente reaproximação entre os dois países pode ter contribuído para uma mudança nessa dinâmica. A recente retomada das relações diplomáticas entre a Arábia Saudita e o Irã pode abrir caminho para a Síria ser readmitida na Liga Árabe. A Arábia Saudita tem adotado uma nova abordagem em relação ao Irã, abandonando a estratégia de isolamento e optando por uma abordagem mais multifacetada, que inclui tanto o engajamento com o Irã como os esforços para conter sua influência na região, incluindo na Síria. Ela, que anteriormente apoiava os rebeldes sírios na luta contra o governo de Bashar al-Assad, pode agora buscar uma aproximação com a Síria como uma forma de conter a influência do Irã na região, no intuito de promover a estabilidade regional e garantir seus interesses estratégicos.

Outra questão influenciada pelas relações Saudita-Iranianas é a crise diplomática envolvendo o Catar. Em março de 2017, o Catar foi acusado de apoiar vários grupos terroristas e sectários com o objetivo de desestabilizar a região, devido ao estreitamento das suas relações com o Irã, o que resultou, em junho do mesmo ano, na ruptura de suas relações diplomáticas com Bahrein, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito. O Catar negou veementemente seu envolvimento com práticas terroristas e se mostrou a favor de retomar relações e negociações com os países no intuito de superar a crise. O início da resolução dessa problemática tem sua origem na distensão das relações entre a Arábia Saudita e o Irã, já que o bloqueio teve como principal causa a especulação da influência do Irã sobre o Catar devido à aproximação entre os dois. Após anos de tensão, em 2022, o Egito foi o primeiro país a retomar suas relações diplomáticas com o Catar, seguido por Bahrein, em abril de 2023. Com a redução das tensões entre a Arábia Saudita e o Irã, esses países podem ter sido motivados a restabelecer suas relações diplomáticas com o Catar.

A partir dos casos observados, nota-se uma onda de paz e reconciliação que tem atingido o Oriente Médio, fruto, principalmente, da reconciliação das relações diplomáticas entre os dois principais antagonistas da região, a Arábia Saudita e o Irã. A recente melhora das relações entre esses dois países traz esperança de uma resolução pacífica para os conflitos, ajudando a diminuir tensões e a construir pontes entre os Estados do Oriente Médio. A reconciliação entre a Arábia Saudita e o Irã é apenas um passo na direção certa, mas é necessária a cooperação e o compromisso de todos os países da região para alcançar a paz e a prosperidade no Oriente Médio.