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Guerra da Ucrânia: uns ganham, outros perdem



Em fevereiro de 2022, a Rússia lançou o que chamou de “Operação Militar Especial” na Ucrânia, dando início a um conflito armado com a Ucrânia que, recentemente, completou um ano. A guerra da Ucrânia tem repercutido grandemente nas relações políticas, estratégicas e econômicas entre a União Europeia e os Estados Unidos.

O suporte dos líderes europeus à Ucrânia colocou a Europa em um dilema. A intervencão europeia em favor da Ucrânia tem se dado em três eixos principais: imposição de sanções econômicas e financeiras contra a Rússia, apoio militar e financeiro à Ucrânia, e mobilização diplomática nos foros internacionais em apoio a Ucrânia. A implementação dessa politica de apoio a Ucrânia trouxe sérios problemas para a União Europeia, essencialmente nos meios econômico, com relação à necessidade de combustíveis e gas natural e seu impacto na indústria e na sociedade, e militar, tendo em vista a baixa produtividade da Europa nesse setor nos últimos anos.

Uma das principais questões, como mencionado, se dá no âmbito dos combustíveis e gas natural. Com o início da guerra, foram aplicadas inúmeras sanções por parte dos EUA e da UE contra a Rússia. A União Europeia tomou a decisão de terminar por completo a importação de petróleo e gás natural oriundos da Rússia. Por exemplo, o Nord Stream 1 e o Nord Stream 2, dois gasodutos que ligam a Rússia e a Europa por meio da Alemanha, nunca entraram em operação e foram recentemente destruídos por uma ação clandestina. Dessa forma, a União Europeia teve de aumentar seus investimentos no setor energetico e procurar meios alternativos de fornecimento de combustíveis e gás natural.

Que país mais se beneficiou com as sanções europeias? Os Estados Unidos, que se tornaram, ao lado da Noruega, o principal fornecedor desses produtos para a UE. Aproveitando a situação, o preço do LNG (Gás natural liquefeito) fornecido pelos EUA é mais de quatro vezes superior ao preço doméstico e muito mais caro do que o que era pago à Rússia. Isto tem gerado a incapacidade de certos países da Europa, como a Alemanha, de competir em setores industriais como o de fabricação de aço, vidro, alumínio, entre outros, e levado empresas europeias à falência ou simplesmente se transferir para outros países com a matriz energética mais barata, como os EUA. Em vão, os Estados europeus têm pedido aos EUA empatia e solidariedade com a situação no outro lado do oceano atlântico.

É notório o quanto os Estados Unidos têm ganhado até mesmo no campo da indústria militar, à custas dos europeus, por mais que os mesmos sejam seus aliados declarados. Ao enviar quantidades enormes de armas e munição para a Ucrânia, os estoques militares dos europeus diminuíram consideravelmente. Em razão disso, a Europa tem importado uma alta quantidade de armas, visto o seu pouco investimento bélico nos últimos 20 anos, demonstrando a carência das forças armadas europeias no que tange os fundamentos necessários para a guerra convencional. A maioria dos países europeus carece atualmente de estoques básicos de munição e equipamento bélico. De onde provém as armas e munições importadas? Dos Estados Unidos. Assim, a indústria bélica dos os Estados Unidos está lucrando enormemente às custas dos países da União Europeia. E, como todo o equipamento militar depende de pecas de reposição e serviços de manutenção, essa dependência só tende a aumentar. Aliás, os EUA usam o conceito de interoperabilidade de equipamentos militares dos diferentes aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para promover a aquisição de armas e munições fabricadas pela indústria militar norte-americana.

O enfraquecimento militar da Europa tem relação direta com a presença da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em seu território. Com a entrada dos países europeus no acordo, sua segurança ficou sob o domínio da organização, e por consequência, dos EUA, que a controla. A OTAN deveria ser capaz de coordenar e integrar forças, fundindo unidades militares de diferentes Estados e formando uma organização coesa que lute eficazmente. Entretanto, ela se provou incapaz de integrar de forma harmônica os Ministérios de Defesa e as Divisões de Armamento dos mais de 25 países europeus que fazem parte desse bloco. Assim, a solução para essas falhas no sistema de segurança tem sido tornar a defesa europeia fundamentalmente uma responsabilidade americana, ao mesmo tempo em que exige mais gastos dos europeus. Dessa forma, a OTAN tem exigido mais investimentos dos países da União Europeia enquanto a torna dependente dos EUA para manutenção da sua segurança. Hoje, pode-se dizer que a política externa europeia está sujeitada à OTAN, que é dominada pelos EUA. Assim, os EUA têm usado o conflito da Ucrânia para consolidar sua indispensabilidade para a segurança europeia e aumentar a dependência do continente europeu.

Portanto, é perceptível que a guerra da Ucrânia tem trazido prejuízos para a União Europeia, bem como ganhos substancias para os Estados Unidos. A superação dessa situação pelos europeus é difícil. Considerando todas as crises que atingiram a União Europeia nos últimos anos e o desenvolvimento instável de sua vizinhança, os Estados-membros claramente preferem a manutenção do status quo vigente.





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