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Força Estrangeira de Ocupação na Síria



Ao longo dos anos, as relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a Síria variaram entre uma relutante acomodação recíproca à uma hostilidade mútua total. As relações diplomáticas entre os dois países foram estabelecidas em 1944, logo após o reconhecimento dos EUA de que a Síria havia alcançado sua independência efetiva de um mandato administrado pela França. Essas relações foram cortadas primeiramente em 1957, após uma tentativa fracassada de golpe pela Agência de Inteligência americana (CIA), que tinha como objetivo derrubar o até então presidente da Síria, Shukri al-Quwatli, e rompidas novamente em 1967, após a Guerra dos Seis Dias, na qual o governo israelense, com apoio dos EUA, realizou a ocupação das Colinas de Golã, região na fronteira síria. As relações entre os dois países foram retomadas em 1974, após a conclusão do Acordo de Desengajamento entre Israel e Síria, mas se tornaram hostis novamente em 1979, com a imposição de sanções severas à Síria pelos Estados Unidos, devido à inserção do Estado sírio na lista americana de patrocinadores do terrorismo. A Síria tem sofrido uma intensificação das sanções econômicas e financeiras aplicadas pelos EUA desde 2004, se exacerbando mais ainda a partir de 2011, com o início de um conflito interno na Síria, o que resultou na suspensão completa das relações formais sírio-americanas.

A Guerra Civil Síria é um conflito iniciado como consequência da Primavera Árabe, uma onda de revoltas que ocorreu no Norte da África e Oriente Médio a partir de dezembro de 2010, no qual a população insatisfeita passou a protestar contra o governo de Bashar al-Assad, e a repressão violenta motivou opositores a se armarem para a guerra. Essa guerra civil logo se internacionalizou, com a intervenção dos EUA, seus aliados europeus e alguns países do Golfo Pérsico em favor dos opositores do regime de Assad, ao passo que o Irã se postou em defesa do regime vigente.

O governo dos EUA, em particular, tem fornecido assistência militar e financeira visando fortalecer as forças de oposição, denominadas de forças rebeldes. A oposição está organizada na Coalizão Nacional Síria da Oposição e Forças Revolucionárias (CNSOFR), formada por diversas organizações, entre elas o Exército Livre Sírio (ELS). O governo dos EUA, em dezembro de 2012, reconheceu a CNSFOR como representante legítima da Síria, e criou o Grupo de Apoio Sírio (SSG, sigla em inglês para Syrian Support Group), que tinha como objetivo angariar recursos financeiros e apoio militar ao ELS.

O enfraquecimento do governo central sírio, aliado ao apoio internacional aos grupos armados de oposição, criou as condições ideais para o surgimento e expansão do Estado Islâmico a partir de 2014. O grupo, atuando a partir do Iraque, aproveitou-se do conflito para tomar o controle de grande parte do território sírio. O Estado Islâmico atraiu para a sua órbita e incorporou muitos grupos armados, aspirando dominar toda a região do Levante (Síria, Líbano, Palestina, e Iraque). Sob o pretexto de conter essas forças terroristas, que eles mesmo ajudaram a criar, os EUA instalaram bases militares, como a base de al-Tanf, localizada no sudeste da Síria, que foi estabelecida em 2016. O governo sírio expressou sua oposição à intervenção dos EUA na Síria e exigiu a retirada das forças americanas do seu território, contando com o apoio de seus principais aliados, Rússia e Irã, e de países como a Turquia. No entanto, os EUA continuam a ocupar parte do território sob a falsa alegação de que existiria ainda a ameaça terrorista.

Essas bases militares também foram estabelecidas em áreas ricas em petróleo no nordeste e leste da Síria, dando início a um processo de roubo sistemático do petróleo sírio. O Ministério do Petróleo da Síria afirma que as forças dos EUA estavam roubando 80% da produção de petróleo da Síria, causando perdas diretas e indiretas de cerca de 107,1 bilhões de dólares aos setores de petróleo e gás da Síria. Essa suposta atitude tem ressonado de forma negativa com a comunidade internacional; o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, descreveu as ações americanas como "pilhagem ilegal" e "banditismo" e afirmou que os EUA estão exacerbando o desastre humanitário na Síria. As acusações são prontamente refutadas pelo governo americano. De fato, não há justificativa aceitável no direito internacional para a presença e as ações dos EUA no território sírio.

Acontecimentos recentes, como o devastador terremoto que avassalou partes do noroeste da Síria em fevereiro, assim como a crescente vitória do governo sírio no combate às forças rebeldes, comprometem a presença dos Estados Unidos no território. O presidente sírio, Bashar al-Assad, tem usado a tragédia para induzir a reaproximação desses países com Damasco, na esperança de que seu regime possa ser trazido de volta ao domínio árabe e que ele possa pôr fim às sanções contra seu governo. Expulso da Liga Árabe desde 2011, a diplomacia da reaproximação já começa a dar resultados. Os Emirados Árabes Unidos já mantêm relações diplomáticas com a Síria; Arábia Saudita, Egito e Tunísia estão em negociações com a Síria para o restabelecimento das relações diplomáticas; e nesse mês de abril, os representantes da Síria, Turquia, Irã e Rússia estarão reunidos em Moscou para ajustar uma solução para a crise interna da Síria. Espera-se que em breve a Síria voltará a ser admitida na Liga dos Estados Árabes, já que os Estados árabes se demonstram inclinados ao estreitamento de suas relações com a Síria. Pode-se dizer, então, que a progressiva readmissão da Síria na comunidade dos países árabes, juntamento com o apoio da Rússia, Turquia e Irã, isolará os Estados Unidos e tornará politicamente insustentável a continuação da presença militar dos EUA no território sírio.

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