Alianças Novas no Chifre da África
A Etiópia, um país localizado no Chifre da África, é assolada por conflitos internos entre o governo federal e as forças separatistas do Tigré, uma região ao norte do país. A divisão étnica das regiões e a consequente formação de coalizões têm afetado a coesão política do país. Embora a região não seja controlada pelo governo central etíope, o Tigré é considerado o “coração” histórico do país, detendo uma condição de autonomia regional em relação ao governo de Adis Abeba. Essa autonomia foi posta em risco após 14 de novembro de 2020, quando a Força Nacional de Defesa lançou uma operação militar contra a Frente de Libertação do Tigré, e desde então foram iniciados os ataques mútuos entre as frentes. O acordo de paz de Pretória de 2022, que encerrou a guerra de Tigray, está sob ameaça. Na Etiópia, o chefe da Frente de Libertação do Povo Tigray removeu o chefe da administração interina de Tigray em 7 de outubro, sinalizando uma recorrência do conflito entre o governo central e as forças separatistas na região.
No plano internacional, a situação da Etiópia não é menos complicada. Em janeiro de 2024, a Etiópia, que não dispõe de litoral, concordou em arrendar 20 quilômetros de litoral da Somalilândia — uma região separatista da Somália— em troca do reconhecimento da sua independência. O primeiro-ministro etíope ressaltou o "direito" da Etiópia de recuperar o acesso histórico ao Mar Vermelho, embora o vizinho Djibuti tenha oferecido um porto alternativo. O acordo de janeiro de 2024 concedeu à Etiópia terras na Somalilândia para uma base naval em troca do reconhecimento da independência da Somalilândia. O Governo Somali rejeitou veementemente o acordo, caracterizando-o como ilegal e uma violação de sua integridade territorial, pois considera a Somalilândia parte de seu território. Os presidentes somali e eritreio se encontraram dias após o anúncio do acordo portuário para discutir maneiras de "fortalecer os laços e promover a cooperação". A mídia somali disse que a visita de dois dias foi "improvisada", sugerindo que foi em resposta ao acordo. Somália também pediu à União Africana (UA) que substitua 10.000 soldados etíopes por tropas egípcias na missão de paz da UA aprovada pela ONU, que luta contra o grupo militante somali al-Shabab.
Enquanto isso, o Egito tem uma disputa de décadas sobre a mega-represa recentemente construída por Addis Abeba no Nilo. O governo egípcio alega que essa barragem ameaça a sua segurança hídrica, evidenciando as tensões bilaterais com a Etiópia. Egito e Somália assinaram um acordo bilateral de cooperação em defesa no Cairo em agosto e a comunicação social egípcia disse que o Egito enviou 1.000 soldados para Mogadíscio entre 27 e 29 de agosto, enquanto a comunicação social internacional noticiou dois carregamentos de armas, incluindo munições, armas, artilharia e outras armas desde agosto, o que levanta preocupações acerca da escalada de tensões na região do Chifre da África.
Com a escalada de tensões na região, os presidentes do Egito, Eritreia e Somália formalizaram e aprofundaram uma aliança contra a Etiópia durante uma cúpula trilateral em 10 de outubro de 2024 na Somália, que é parte de uma ação que os três países estão desenvolvendo para combater a Etiópia se ela seguir adiante com seu acordo portuário com a Somalilândia. O presidente egípcio Abdel Fatah al Sisi, o presidente eritreio Isaias Afwerki e o presidente somali Hassan Sheikh Mohamud se encontraram em Asmara, Eritreia, para fortalecer os laços e coordenar a segurança regional. Os presidentes abordaram “uma ampla gama de questões regionais e internacionais” e concordaram em fortalecer as instituições estatais somalis e o Exército Nacional Somali para “enfrentar vários desafios internos e externos”. Em resposta às ações regionais da Etiópia, uma aliança perigosa está tomando forma. Uma declaração conjunta afirmou que os três chefes de Estado concordaram em “melhorar as instituições estatais somalis para enfrentar vários desafios internos e externos e permitir que o Exército Federal Nacional Somali enfrente o terrorismo em todas as suas formas”. Vale destacar que a reunião marcou a primeira visita de Sisi a Asmara e ocorreu depois que o Egito enviou armas para a Somália.
A região conhecida como o Chifre da África é muito relevante do ponto de vista geopolítico, e os desenvolvimentos políticos devem ser acompanhados e analisados detidamente.
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