A Reeleição de Putin
Na segunda-feira, dia 18 de março de 2024, aconteceram as eleições presidenciais da Rússia. Obtendo 87,28% dos votos, o que é um recorte na tradição eleitoral russa, Putin garantiu o seu quinto mandato no cargo por uma grande margem, sendo apoiado por mais de 75 milhões de eleitores. Os oponentes de Putin na corrida eleitoral de 2024 consistiam no candidato do Partido Comunista, Nikolay Kharitonov, Vladislav Davankov do partido Novo Povo, e Leonid Slutsky do Partido Liberal Democrata, que receberam, respectivamente, 4,31%, 3,85% e 3,20% dos votos.
Vladimir Putin foi eleito presidente pela primeira vez em 2000, servindo dois mandatos consecutivos de quatro anos até 2008. Posteriormente, ele continuou no Kremlin de Moscou, sede do governo russo, como primeiro-ministro de Dmitry Medvedev, que ocupou o cargo presidencial de 2008 a 2012. Em seu mandato, Medvedev promoveu uma reforma constitucional que estendeu o mandato de um presidente para seis anos. Substituindo Medvedev, Putin esteve no poder novamente em 2012 e foi reeleito em 2018. Como parte de uma nova reforma constitucional em 2020, a Rússia alterou suas regulamentações eleitorais, o que culminou na anulação dos mandatos anteriores de Putin, permitindo que ele se candidatasse em 2024. Se ele completar o seu próximo mandato de seis anos, Putin ultrapassará Joseph Stalin, tornando-se o líder russo com mais tempo de serviço em mais de 200 anos. Há, na Europa, exemplos de mandatos longos também. Na Alemanha, Angela Merkel foi eleita Chanceler alemã por quatro mandatos sucessivos, governando o país de 2005 a 2021!
Os aliados da Rússia parabenizaram o presidente Vladimir Putin por sua vitória nas eleições, mas os líderes ocidentais denunciaram consensualmente o resultado como “ilegal”. Um porta-voz do Conselho de Segurança da Casa Branca, dos Estados Unidos, anunciou: “As eleições claramente não foram livres nem justas, considerando como o Sr. Putin tem aprisionado oponentes políticos e impedindo outros de concorrerem contra ele”. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, parabenizou Putin em uma postagem no aplicativo X recheada de ironia, escrevendo ao fim “Sem oposição. Sem liberdade. Sem escolha”. Além dele, o Representante dos Negócios Estrangeiros da UE, Josep Borrell, também insistiu, ironicamente, que a eleição foi “livre e justa”, com a oposição reprimida e sem observadores internacionais presentes, alegando: “Esta eleição foi baseada em repressão e intimidação”. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, também se pronunciou, reconhecendo o resultado como ilegítimo ao falar: “Todo mundo no mundo entende que essa pessoa, como muitas outras ao longo da história, ficou doente com o poder e não hesitará em fazer qualquer coisa para governar para sempre. Não há maldade que ele não faria para manter seu poder pessoal. E ninguém no mundo estaria protegido disso”. Vale notar que Zelensky, ao contrário de Putin, não realizou eleições gerais na Ucrânia, invocando a lei marcial instituída e renovada continuamente. O mandato de Zelensky formalmente se encerrou desde 1 de abril desse ano de 2024.
Em postagem nas redes sociais, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha declarou que “a pseudo-eleição na Rússia não é nem livre nem justa, o resultado não surpreende ninguém. O governo de Putin é autoritário, e se baseia na censura, repressão e violência. A ‘eleição’ nos territórios ocupados da Ucrânia é nula e sem efeito e constitui outra violação do direito internacional”. Antonio Tajani, ministro das Relações Exteriores da Itália, falou coisas semelhantes e o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, ressaltou a ausência de monitoramento independente da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa. Ainda, o ministro de Relações Exteriores da República Tcheca, Jan Lipavsky, chamou a eleição de “farsa e paródia”. O Presidente da Hungria, Orban, e Milorad Dodik, o presidente pró-russo da Republika Srpska, que compreende 48% da área da Bósnia e Herzegovina, foram os únicos representantes da região europeia a parabenizarem Vladimir Putin.
Em contrapartida a maioria do Ocidente, Pequim parabenizou Putin, dizendo que a “China e Rússia são os maiores vizinhos um do outro e parceiros estratégicos abrangentes na nova era”. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, disse que o presidente Xi Jinping e Putin “continuarão a manter trocas próximas, liderar os dois países para continuar a manter a longa amizade de boa vizinhança e aprofundar a coordenação estratégica abrangente”. Além disso, o próprio Xi Jinping observou a vitória de Putin como prova de que ele conta com o apoio do povo russo e expressou confiança de que, sob sua liderança, a Rússia “será capaz de alcançar maiores realizações no desenvolvimento nacional”.
Outro que congratulou Putin em sua vitória foi o primeiro-ministro indiano Narendra Modi. Ele disse que estava ansioso para fortalecer os laços com Moscou para desenvolver sua “relação especial”. “Estou ansioso para trabalhar juntos para fortalecer ainda mais a Parceria Estratégica Especial e Privilegiada testada pelo tempo entre a Índia e a Rússia nos próximos anos”, foi o que o primeiro-ministro falou em postagem no X. Ainda, Modi saudou a “relação especial e privilegiada” entre as duas nações do BRICS. Moscou e Nova Delhi desenvolveram laços próximos durante a Guerra Fria, persistindo após a dissolução da União Soviética, com ambos os lados descrevendo-os como uma “parceria estratégica especial e privilegiada”. A Rússia fornece mais de um terço das armas da Índia e um terço de seu petróleo bruto, enquanto o volume geral do comércio entre os dois países está em “alta recorde”, o que foi anunciado pelo Ministro de Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, em dezembro de 2023. Ainda, a Índia se recusou a impor sanções à Rússia em resposta ao conflito na Ucrânia, resistindo às pressões das potências ocidentais.
Já nos países do Cáucaso, região que abrange o sul da Rússia e países vizinhos, a reação foi mais diversa. Parte das eleições russas aconteceram nas regiões separatistas da Geórgia, e esta condenou a ação como ilegal. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Geórgia disse: “Geórgia condena a realização das eleições presidenciais russas e a abertura ilegal das seções eleitorais nas regiões ocupadas da Geórgia, com o objetivo de envolver em massa a população local no processo eleitoral russo”. Por outro lado, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, parabenizou o presidente russo por sua vitória na eleição e desejou sucesso em seus esforços para o desenvolvimento e prosperidade do país. Durante a conversa telefônica, eles expressaram confiança de que a aliança e a parceria estratégica entre os países continuarão a se fortalecer e trocaram opiniões sobre as perspectivas de cooperação. Semelhante ao Azerbaijão, o Quirguistão e o Uzbequistão também congratularam Vladimir Putin por uma vitória “convincente” e desejaram sucesso para o reeleito. O presidente uzbeque, Shavkat Mirzyoyev, afirmou que a vitória “mais uma vez mostra claramente a confiança inabalável e o forte apoio da população”, e Sady Japarov, presidente da República do Quirguistão, demonstrou acreditar que os esforços conjuntos para fortalecer ainda mais as relações de aliança e parceria estratégica entre os dois países continuarão a contribuir para o desenvolvimento de toda a gama de cooperação interestatal em áreas prioritárias.
As reações de certos países árabes, africanos e latino-americanos foram, no geral, positivas. O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman Al Saud, parabenizou Putin por sua vitória nas eleições presidenciais da Rússia por meio de uma ligação ao presidente. “Durante uma conversa telefônica, o príncipe herdeiro e primeiro-ministro Mohammad bin Salman Al-Saud parabenizou calorosamente Vladimir Putin por sua vitória nas eleições presidenciais russas”, disse o serviço de imprensa do Kremlin. O líder sírio Bashar Assad também enviou uma mensagem. A mensagem dizia: “Permita-me parabenizá-lo por sua vitória e reeleição como presidente russo por uma maioria avassaladora”, de acordo com o canal Telegram da Presidência Síria. “Isso confirma o alto nível de confiança popular em você, sua política nacional e os objetivos estratégicos que estão alinhados com os interesses da grande Rússia”, acrescentou Assad. Ele desejou sucesso a Putin no cumprimento de suas funções, apontando para a natureza especial das relações entre Síria e Rússia. “Nossos países estão unidos por uma cooperação bilateral eficaz que contribui para sua maior prosperidade”, observou o líder sírio. O Emir do Catar, Sheikh Tamim Bin Hamad Al Thani, parabenizou Putin e expressou esperança para o desenvolvimento contínuo das relações entre os países, disse seu gabinete em um comunicado. “Sua Alteza, o Emir Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani, enviou um telegrama de congratulações a Sua Excelência, o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, por ocasião de sua vitória nas eleições, desejando-lhe sucesso e expressando esperança para o desenvolvimento e fortalecimento das relações entre os dois países”. O presidente Palestino, Mahmoud Abbas, congratulou o presidente por um telegrama, no qual desejou a Putin sucesso contínuo no desempenho das nobres tarefas confiadas a ele, e na realização dos objetivos e aspirações dele e do amigável povo russo. Abbas afirmou seu orgulho nas relações de amizade e solidariedade que unem os dois países e povos, e seu grande apreço pelo apoio da Rússia aos direitos do povo palestino.
O presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria do Níger, General Abdourahamane Tchiani, também parabenizou o presidente russo por sua reeleição, relatou a Agência Nigeriana de Imprensa. “Sua brilhante reeleição como chefe da Rússia me dá a chance de transmitir a Vossa Excelência, em nome do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria, do governo, do povo do Níger e em meu nome, os mais sinceros e calorosos parabéns e melhores votos para a sua nobre missão", ele foi citado como dizendo. O líder nigeriano também afirmou que seu país aguarda com expectativa trabalhar com Moscou para restaurar a soberania e assegurou sua disposição para trabalhar em conjunto com a Rússia para fortalecer as relações bilaterais.
Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, foi um dos lideres latino-americanos que parabenizaram Putin pela eleição: “Durante um período de instabilidade e violência no mundo; em meio à necessidade de paz, concórdia e alegria, marcamos seu triunfo como uma contribuição para a estabilidade tão necessária da humanidade, necessária para moldar nosso futuro em um ambiente melhor”, disse o presidente nicaraguense. O presidente da Bolívia, Luis Arce, também parabenizou seu homólogo russo por sua reeleição, descrevendo sua vitória como um reflexo da unidade do povo russo: “Da Bolívia, estamos enviando nossos mais sinceros parabéns a Vladimir Putin, que foi reeleito presidente da Rússia. Sua vitória confiante reafirma a unidade do valente povo russo, centrado na soberania e no desenvolvimento contínuo”, escreveu Arce na rede social X.
O resultado da eleição, ao reafirmar a liderança de Vladimir Putin, pode ser visto como decepcionante para aqueles que almejam uma mudança de regime na Rússia. Para esses observadores, a continuidade do governo Putin pode significar a manutenção do status quo político e econômico que alguns consideram estagnado ou autoritário. No entanto, o resultado também serve para ratificar Putin como um interlocutor crucial em qualquer negociação relacionada ao fim do conflito na Ucrânia, visto que a estabilidade política proporcionada pela liderança de Putin pode ser vista como um fator-chave para a continuidade das conversações de paz na região. Sua permanência no poder oferece uma base consistente para o diálogo internacional, particularmente em um contexto tão volátil quanto o conflito ucraniano. Putin demonstrou ser um ator central nas negociações anteriores e seu mandato renovado pode fortalecer sua posição como mediador e líder capaz de influenciar os acontecimentos na região.
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