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A Guerra Tecnológica entre os EUA e a China



Os Estados Unidos têm implementado restrições ao acesso da China à tecnologia de semicondutores desde, pelo menos, 2019. Naquele ano, o governo liderado por Trump proibiu a Huawei, empresa chinesa multinacional de equipamentos para redes e telecomunicações, de adquirir componentes essenciais dos Estados Unidos, necessários para seu processo de produção. Em agosto de 2022, os Estados Unidos foram ainda mais longe, ao proibir a exportação de quatro tecnologias relacionadas à fabricação de semicondutores, alegando que eram “vitais para a segurança nacional”, e adotaram uma lei considerada histórica com o objetivo de impulsionar a produção doméstica de semicondutores.

Semicondutores têm constituído o campo de batalha da guerra tecnológica entre os EUA e a China. Em 7 de outubro de 2022, o governo Biden anunciou um conjunto de controles de exportação, para garantir a maior liderança possível dos EUA nessa corrida tecnológica emergente. Por meio dessas restrições, os EUA buscaram limitar o acesso da China a semicondutores avançados, necessários para modelos de inteligência artificial (IA) intensivos em dados, supercomputadores e mísseis hipersônicos. Além disso, as medidas também dificultaram a capacidade da China de criar seus próprios chips de ponta, uma vez que impedem o uso de equipamentos de design e fabricação de semicondutores originários dos EUA, incluindo o software de automação de design eletrônico (EDA) essencial para criar esses semicondutores avançados.

As sanções americanas não ficaram sem resposta por parte do governo chines. Em maio de 2023, a China deu um passo significativo na guerra comercial, orientando seus operadores a evitar o uso de chips da Micron Technology, Inc., produtora americana de memória de computador e armazenamento de dados de computador, em projetos específicos de infraestrutura devido a preocupações com a segurança nacional. Esse anúncio da Administração do Ciberespaço da China (ACC) deve ser compreendido no contexto mais amplo da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, assim como nos esforços das cadeias de suprimentos para enfrentar o aumento na demanda por semicondutores, que são fundamentais para a eletrônica de consumo. A empresa americana está sofrendo enormes perdas.

Ainda em julho desse mesmo ano, de acordo com o seu Ministério do Comércio, a China começou a controlar as exportações de alguns metais amplamente utilizados na indústria de semicondutores nos EUA,. Esse controle, justificado pela China como medida necessária para proteger a sua segurança e os seus interesses nacionais, exige que os exportadores procurem autorização para enviar alguns produtos, como gálio e germânio. A decisão de gerir as exportações dos raros elementos que a China classifica como estratégicos ocorre num momento em que os EUA ponderam novas restrições ao envio de microchips de alta tecnologia para a China, segundo relatos da mídia.

Mais recentemente, a China surpreendeu os EUA com o lançamento da Huawei, o Mate 60 Pro, que ilustrou o notável avanço da indústria de semicondutores chinesa, mesmo diante das restrições impostas pelos Estados Unidos. O novo chip Kirin 9000 deste smartphone foi produzido na China com tecnologia de 7 nanômetros pela Semiconductor Manufacturing International Corp. (SMIC), o principal fabricante de chips do país, como revelado em uma análise conduzida pela TechInsights, em colaboração com a Bloomberg.

Até o momento, as empresas de semicondutores chinesas têm utilizado seus recursos de maneira eficaz para produzir chips mais avançados, apesar de empregarem ferramentas mais antigas. O jornal China Daily, que possui respaldo do governo, expressou otimismo ao afirmar que “Há esperança de que as empresas chinesas consigam superar as sanções e restrições do governo dos EUA ao fornecimento de chips”, refletindo a determinação do setor de tecnologia chinês em enfrentar esses desafios. Nesse sentido, o governo chines anunciou recentemente um fundo de investimento no valor de 40 bilhões de dólares destinado à pesquisa e produção domésticas de semicondutores. Espera-se que, em curto espaço de tempo, a China se tornará autossuficiente nessa área tecnológica vital.

As sanções americanas têm como objetivo limitar o acesso da China a tecnologias de semicondutores avançados, especialmente aqueles usados em setores estratégicos, como inteligência artificial, supercomputadores e defesa. Elas buscam, também, impulsionar a produção doméstica de semicondutores nos Estados Unidos e exercer pressão sobre a China em questões de segurança nacional e comércio, representando um desafio significativo para a China, que ainda depende de componentes estrangeiros em suas cadeias de suprimentos. Além disso, elas estão contribuindo para o aumento das tensões nas relações entre os EUA e a China, com implicações geopolíticas mais amplas. As empresas americanas que dependem do mercado chinês para exportações de semicondutores e outros produtos de alta tecnologia também são afetadas pelas sanções, prejudicando a economia dos EUA, já que muitas dessas empresas têm relações comerciais interdependentes com a China, destacando a complexidade das decisões relacionadas à imposição de restrições comerciais.

Por meio delas, se é desencadeada uma série de implicações complexas e desafios, tanto para os atores envolvidos, quanto para o cenário global. A competição na área de semicondutores representa, portanto, apenas um dos muitos elementos dessa disputa geopolítica, e seu desfecho continuará a moldar as relações internacionais e a indústria de tecnologia nos próximos anos.

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