A Guerra Comercial entre EUA e China Continua
Em maio de 2024, o atual presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, passou a tomar medidas com o intuito de proteger os trabalhadores e as empresas americanas de práticas comerciais desleais da China. O objetivo é promover investimentos significativos e criar empregos de qualidade em setores-chave para o futuro econômico e a segurança nacional do país. Nesse cenário, as práticas comerciais injustas da China, incluindo transferência forçada de tecnologia, roubo de propriedade intelectual e inundações de mercado com produtos a preços artificialmente baixos, representariam uma ameaça às empresas e trabalhadores americanos. Para combater esses problemas e neutralizar os danos, Biden ordenou o aumento de tarifas sobre as importações chinesas, com base na Seção 301 da Lei do Comércio de 1974.
Segundo a administração Biden-Harris, a agenda “Investir na América” já catalisou mais de 860 bilhões de dólares em investimentos empresariais através de incentivos públicos inteligentes em indústrias do futuro, como veículos elétricos (VE), energia limpa e semicondutores. Apoiada pela Lei Bipartidária de Infraestruturas, pela Lei CHIPS e Ciência e pela Lei de Redução da Inflação, esses investimentos estão criando novos empregos na manufatura e energia limpa, revitalizando as comunidades.
Como afirma o presidente Biden, os trabalhadores e empresas americanas podem superar qualquer concorrente, desde que haja uma concorrência leal. No entanto, tem-se afirmado que, durante demasiado tempo, o governo chinês utilizou práticas injustas e não mercantis. Essas práticas aumentam a capacidade excessiva e as exportações da China, criando riscos para as cadeias de abastecimento e a segurança econômica dos EUA, de modo a prejudicar significativamente trabalhadores, empresas e comunidades americanas.
A fim de combater tais práticas comerciais, os Estados Unidos estão fazendo investimentos para criar e manter empregos bem remunerados, tendo como foco setores estratégicos. Desde o início da agenda "Investir na América", quase 800.000 empregos industriais foram criados e a construção de novas fábricas duplicou, enquanto o déficit comercial com a China é o mais baixo em uma década. Além disso, para encorajar a China a eliminar suas práticas comerciais injustas, o governo Biden está direcionando aumentos nas tarifas em setores estratégicos como aço e alumínio, semicondutores, veículos elétricos, baterias, minerais críticos, células solares, guindastes ship-to-shore e produtos médicos. Como exemplo, é possível mencionar o aumento de certas tarifas, como é o caso de certos produtos de aço e alumínio, por exemplo, que aumentará de 0-7,5% para 25% em 2024, e de semicondutores, que terá um aumento de 25% para 50% até 2025.
Ao levar em consideração tal atitude estadunidense, tem-se que o principal intuito é, de fato, incentivar o desenvolvimento das indústrias norte-americanas conforme o risco é diminuído. Na área de veículos elétricos, por exemplo, a tarifa irá aumentar de 25% para 100% em 2024, de modo a garantir que o futuro da indústria automobilística será feito na América por trabalhadores americanos. Com isso, o atual governo está incentivando o desenvolvimento de um mercado robusto de veículos elétricos através de créditos fiscais empresariais para fabricação de baterias e produção de minerais críticos, assim protegendo investimentos e empregos das importações chinesas a preços injustos.
Diante deste cenário, para promover a eliminação de práticas injustas feitas pela China, a representante comercial Katherine Tai recomendou que os produtos atualmente sujeitos às tarifas da Seção 301 continuem a ser tarifados. Algumas modificações propostas por Tai nos setores estratégicos são o estabelecimento de um processo de exclusão de máquinas utilizadas na fabricação nacional, a alocação de fundos adicionais à Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos e a maior colaboração entre empresas privadas e autoridades governamentais.
Análises econômicas mostram que as tarifas tiveram pequenos efeitos negativos no bem-estar econômico dos EUA, impactos positivos na produção dos EUA nos setores mais afetados pelas tarifas, impactos mínimos nos preços e no emprego em toda a economia. Os efeitos negativos estão associados principalmente às tarifas retaliatórias da China.
Nesse cenário, Brad Setser, especialista em comércio do Conselho de Relações Exteriores, comentou que as tarifas indicam a determinação de Biden em não permitir que o presidente chinês Xi Jinping obstrua seus planos para uma transição verde feita na América. Ele destacou que a tarifa mais significativa foi sobre os EVs. Isso porque, atualmente, apenas 2% das importações de EVs dos EUA vêm da China, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS). No entanto, as tarifas mais elevadas visam dificultar ainda mais a entrada do país asiático no mercado americano.
Com as eleições domésticas prestes a acontecerem nos Estados Unidos, tal cenário abriu espaço para Donald Trump, o candidato presidencial republicano, comentar sobre as medidas tomadas pelo governo Biden, assim criticando por agir lentamente e não ser suficientemente específico. “Onde eles estiveram durante três anos e meio? Eles deveriam ter feito isso há muito tempo”, disse Trump. Ele também defendeu uma ação mais ampla contra outros produtos chineses. Em resposta, Biden afirmou que sua abordagem é mais inteligente comparada à de Trump, acusando seu antecessor de falhar em aumentar as exportações americanas e contribuir para a produção nacional. Altos funcionários dos EUA negaram que as mudanças estivessem ligadas às eleições presidenciais, afirmando que a ação não tem motivação política, mas certo é que Biden adotou medidas nos últimos meses para fortalecer o apoio entre os trabalhadores sindicalizados antes das eleições de novembro.
Greta Peisch, ex-conselheira geral do Gabinete do Representante Comercial dos EUA, destacou a importância das tarifas para a indústria americana, afirmando que são cruciais para proteger os investimentos das empresas dos EUA. O Ministério das Relações Exteriores da China reagiu às normas, afirmando que Pequim se opõe aos aumentos tarifários unilaterais que violam as regras da Organização Mundial do Comércio e prometeu tomar todas as medidas de segurança para salvaguardar os seus direitos e interesses legítimos.
Além disso, o Ministério de Comércio da China (MOFCOM) recomendou que os EUA cancelassem imediatamente as tarifas adicionais sobre os produtos chineses, prometendo tomar todas as medidas cabíveis – inclusive levar o caso à OMC, se preciso for, para defender seus direitos, no âmbito do comércio internacional. O MOFCOM ainda criticou a medida dos EUA, caracterizando-a um caso típico de manipulação política, que terá um impacto sério na atmosfera para a cooperação bilateral.
Autoridades e especialistas chineses também criticaram a medida dos EUA, afirmando que ela possui motivação política no meio de um ciclo eleitoral conturbado. Além disso, parte dos analistas acredita que as tarifas adicionais dos EUA não impedirão a ascensão das indústrias chinesas relevantes, porque as exportações chinesas possuem ampla diversidade de destinatários.
A recente visita do Presidente Xi Jinping à Europa, sua primeira viagem internacional de 2024, destacou a importância estratégica das relações entre a China e a União Europeia, diante das tensões e incertezas nas relações bilaterais do país com os Estado Unidos. A escolha dos países visitados – França, Sérvia e Hungria – refletiu o desejo da China de aprofundar a cooperação econômica e os intercâmbios interpessoais com a Europa. A França, com sua longa história de relações diplomáticas com a China, e a Sérvia e Hungria, como parceiros econômicos próximos, foram destinos estratégicos para reforçar os laços e promover o desenvolvimento mútuo, especialmente em um contexto global de incertezas.
No cenário geopolítico atual, a visita de Xi Jinping também buscou promover o entendimento mútuo entre a China e a Europa para salvaguardar interesses comuns. A China vê a UE como um defensor do multilateralismo e um parceiro crucial na mitigação de riscos geopolíticos, especialmente no contexto da Iniciativa Cinturão e Rota. O apoio da China à autonomia estratégica da UE e a cooperação em questões globais, como mudanças climáticas e inteligência artificial, destacam a importância de uma parceria robusta e resiliente.
Além das questões econômicas e geopolíticas, a visita enfatizou o fortalecimento dos intercâmbios interpessoais, incluindo educação, cultura e turismo, como fundamentais para o entendimento entre as sociedades chinesa e europeia. O acordo de isenção de visto para cidadãos de vários países europeus é um exemplo concreto desse esforço. A visita de Xi Jinping simboliza a tentativa da China de promover a cooperação com a Europa, transcendendo diferenças ideológicas nas relações sino-europeias, em uma conjuntura de perdas chinesas no mercado americano.
Nesse sentido, tanto China quanto Estados Unidos parecem se esforçar por influência geopolítica em espaços como o da União Europeia, numa corrida por ampliação comercial, produtiva e tecnológica. Os EUA têm adotado um discurso de teor protecionista e antiglobalista, especialmente com relação ao parceiro chinês, enquanto a China busca no comércio internacional maior espaço de crescimento e de projeção de poder. Resta saber se as medidas adotadas pelos EUA terão o poder de conter o crescimento chinês e de melhorar a situação interna do país. Enquanto isso, a China terá de movimentar-se no tabuleiro de xadrez global, para mitigar os danos das tensões que se instauram no Sistema Internacional.
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