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A Disputa Estratégica sobre as ilhas-Estado do Pacífico



Nas últimas décadas a China e as ilhas-Estado do Pacífico (IEPs) construíram uma base sólida de cooperação, com laços diplomáticos estabelecidos desde a década de 1970. Esse relacionamento levou a uma ampla cooperação em mais de 20 áreas, como comércio, proteção ambiental, redução da pobreza, saúde e educação, demonstrando um compromisso com o desenvolvimento mútuo e com a prosperidade na região. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores chinês, a China tem sido uma fonte essencial de assistência econômica e técnica para os IEPs, fornecendo ajuda sem impor quaisquer condições políticas. Pode-se afirmar que o apoio da China contribuiu significativamente para o crescimento e desenvolvimento das nações insulares do Pacífico.

Visitas presidenciais foram fundamentais para elevar as relações China-IEPs a novos patamares; em 2014 e em 2018, o presidente chinês Xi Jinping visitou a região do Pacífico Sul e realizou reuniões com líderes regionais, marcando uma virada significativa em seus relacionamentos bilaterais. Essas visitas ajudaram a enfatizar a importância da cooperação entre a China e as nações insulares do Pacífico.

Mais recentemente, em abril de 2022, a China assinou seu primeiro acordo de segurança no Pacífico Sul com as Ilhas Salomão. O acordo permite que navios da marinha chinesa façam visitas de rotina aos portos das ilhas e também possibilita que os serviços de segurança chineses treinem as forças policiais locais, com o objetivo de, nas palavras do Primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, reforçar a reposta do governo à agitação doméstica que ocorria no país alguns meses antes do acordo ser firmado. Em julho desse ano de 2023, o Primeiro Ministro das Ilhas Salomão esteve em Pequim para firmar outra série de acordos de cooperação nas áreas econômica, técnica e de segurança, um pacote que estabelece uma parceria estratégica entre os dois países.

Na disputa estratégica com a China, a resposta dos Estados Unidos tem sido uma ofensiva diplomática na região desde o ano passado. A região assumiu uma importância renovada para os EUA, à medida que eles buscam fortalecer seus relacionamentos e presença na Ásia em meio às crescentes tensões com uma China que expandiu rapidamente suas capacidades navais nos últimos anos. A embaixada norte-americana foi reaberta nas Ilhas Salomao, e em setembro do ano passado realizou-se uma cimeira dos lideres das ilhas-Estado do Pacífico, onde os EUA prometeram um pacote de ajuda financeira para ajudar no combate aos efeitos da mudança climática.

Na sua política de cerco estratégico da China, interessa muito aos Estados Unidos manter relações estreitas com o maior dos países das ilhas do Pacífico, Papua Nova Guiné (PNG). Em maio deste ano, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, viajou para a PNG com o objetivo de assinar dois novos acordos: um de cooperação em defesa e outro relativo ao combate de operações marítimas transnacionais ilícitas.

A PNG serve como porta de entrada geográfica entre a Ásia e a Oceania, demarcando efetivamente uma fronteira entre as duas regiões. Devido à sua importância estratégica e militar, a PNG tem sido um ponto focal de conflitos, incluindo a Guerra do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, que colocou o país firmemente sob a influência do Reino Unido e da Austrália. Apesar de seus laços históricos com países de língua inglesa, ela continua sendo uma das nações mais pobres do mundo e enfrenta desafios significativos de desenvolvimento de infraestrutura.

Devido a isso, o país desenvolveu uma política externa que pode ser melhor descrita como “amigo de todos, inimigos de ninguém”, buscando explorar o maior número possível de oportunidades de desenvolvimento e sustentar sua autonomia estratégica, atraindo o interesse da China, que vê o país como um importante parceiro; entretanto, enquanto a China busca fortalecer suas relações econômicas com o país, os EUA buscam transformar Papua Nova Guiné em um posto militar com o propósito de conter a influência da China na região e estabelecer seu próprio controle sobre a região. A PNG busca um equilíbrio delicado ao navegar por esses interesses geopolíticos e nega ter se posicionado contra a China diante dos novos acordos firmados com os Estados Unidos; sua vulnerabilidade e subserviência histórica ao Ocidente tornam difícil que o país resista às propostas das grandes potências.

A região do Pacífico se tornou um campo de batalha para uma “guerra fria” entre a China e os Estados Unidos, com ambas as potências disputando influência. No entanto, países como a Papua Nova Guiné não desejam se alinhar exclusivamente com nenhum dos lados; eles se esforçam para se fortalecer, evitando a dependência de qualquer poder específico. O objetivo final é continuar sua abordagem de "amigos de todos, inimigos de ninguém" e manter a autonomia em meio às crescentes tensões. Caso haja um aumento no ritmo de investimentos de todas as partes envolvidas e se os piores cenários forem evitados, a competição entre a China e os EUA pode levar a resultados positivos para PNG e as outras ilhas-Estados do Pacífico, tornando-as mais capazes de afirmar com vigor seus próprios interesses.

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