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Países Reagem à Ofensiva Chinesa


O impacto que a crise do coronavírus terá na economia global ainda está por ser conhecido, mas algo que já vem sendo observado e sentido é a perda de valor de mercado de companhias de capital aberto pelo mundo: há estimativas de que, desde o início de março, quando foi declarada tardiamente a situação pandêmica pela Organização Mundial da Saúde, essas empresas tenham desvalorizado mais de 10 trilhões de dólares. Num cenário onde o mercado encontra-se, de maneira geral, desvalorizado, estimulam-se as chamadas ofensivas de investidores, pela qual o controle de empresas passa para outras firmas ou terceiros que disponham de capital suficiente para adquiri-las. No geral, essas ofertas visam tomar o controle da companhia por meio da aquisição de ações ou aumento da participação no capital para influenciar seu comando.

Cabe analisar que esse processo de compra e venda de ações e/ou empresas é comum no comércio internacional globalizado de hoje, mas que a aquisição de setores e firmas estratégicas é um ponto sensível para os Estados. Nesse sentido, países ocidentais e outros, veem com preocupação a ofensiva de empresas e firmas de investimento chinesas, pois são subsidiadas e controladas pelo governo de Pequim, isto é, pelo Partido Comunista Chinês (PCC).

Diante desta ameaça identificada, alguns países estão adotando políticas que visam proteger as empresas nacionais consideradas estratégicas e a tecnologia nacional. Países como Itália, Reino Unido, Alemanha e Espanha, drasticamente afetados pela Covid-19, impediram que estrangeiros comprem mais de um décimo do capital de suas companhias consideradas estratégicas. Numa tendência semelhante, nos EUA, o número de empresas americanas que utilizaram só no mês de março estratégias para proteger seus acionistas de investimentos do tipo é igual ao de todo o ano passado, segundo a consultoria FactSet, empresa de dados financeiros e software estadunidense.

Contra esse tipo nocivo de investimento, a União Europeia, onde as empresas já estavam na mira dos rivais, já busca se articular. Nessa perspectiva, Margrethe Vestager, vice-presidente executiva da Comissão Europeia, ressaltou a importância de “estar ciente de que existe um risco real de que as empresas vulneráveis possam ser objeto de uma aquisição". Recentemente, em reação às investidas estrangeiras, principalmente chinesas, a Comissão Europeia publicou uma proposta de política (White Paper). De acordo com esse documento, a abertura ao mercado e ao investimento fazem da economia europeia o que é hoje: um mercado único, forte, aberto e competitivo. Nesse sentido, para manter a sua prosperidade no ambiente econômico global, o continente assume algumas precauções, seguindo algumas regras para garantir condições equitativas e transações mutuamente benéficas as suas empresas. No entanto, alguns subsídios estrangeiros estão distorcendo o mercado interno da União Europeia e prejudicando essa igualdade. Como mencionado pela Comissão, quando esses recursos derivam de Estados de acesso restrito ou fechado aos mercados (referência indireta à China), esse dano é ainda mais provável, facilitando o processo de aquisição de empresas. A proposta sugere medidas para proteger as empresas europeias neste momento de fragilidade.

Os países que despertaram para a ameaça chinesa procuram proteger não apenas suas empresas e seus mercados, mas também sua segurança nacional. Um exemplo concreto desta reação pode ser encontrado no setor das telecomunicações. A Huawei, empresa chinesa, oferece o serviço 5G, com velocidades mais rápidas de download e upload de dados e uma cobertura mais ampla e conexões mais estáveis, que é o próximo estágio da conectividade à Internet móvel no mundo. Essa empresa é a maior produtora mundial de equipamentos de telecomunicações, e, assim como as demais grandes empresas chinesas, atua como braço do Partido Comunista Chinês (PCC). Com isso, ela compartilharia todo o tráfego de informações efetuado nas redes por ela controladas.

A lei chinesa estabelece que as empresas chinesas e estrangeiras que operam na China devem criar comitês no PCC. De acordo com essa lei, a Huawei criou um Comitê no PCC, mas alega que esse não está envolvido em nenhuma decisão operacional ou comercial, bem como que a empresa pertence a seus funcionários e não espionaria seus clientes. Entretanto, há pouca confiança nas justificativas da empresa. Sua controladora é o Comitê Sindical da Huawei Investment Holdings, que, como todos os comitês sindicais da China, é chamada "organização de massa", que são efetivamente de propriedade do Estado.

A questão é que o Partido Comunista Chinês colocou seus oficiais em funções de supervisão em todas as grandes empresas. Isso inclui a execução de diretrizes do PCC desde pequenas, como o aumento do espírito público e o estudo do pensamento de Xi, até questões maiores, como acesso a dados para todos os funcionários públicos, como expõe um relatório do professor de negócios Chris Balding, que lecionou na Escola de Negócios HSBC em Pequim.

Nesse âmbito, muitos Estados apresentaram preocupações acerca do uso da tecnologia 5G oferecida pela Huawei, que poderia trazer riscos significantes para a segurança, visto que seria um veículo para espionagem chinesa, assim como para a econômica nacional, pois o controle das informações poderia levar ao roubo de tecnologia nacional. Recentemente, o Presidente norte-americano assinou uma ordem de segurança nacional para banir a Huawei do país. No plano internacional, o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, alertou os membros do Five Eyes, cinco países que cooperam na esfera da inteligência, sobre os riscos de lidar com a empresa. Ele afirmou que "Quanto mais países, empresas e cidadãos perguntam em quem devem confiar com seus dados mais sensíveis, mais óbvia é a resposta: não é o Estado vigilante do PCC". Para inibir a contratação dos serviços da Huawei, nestes países, os EUA ameaçam suspender o compartilhamento de inteligência entre Five Eyes, a não ser que seus membros optem por banir os equipamentos 5G da Huawei.

Singapura, assim como na Austrália, Índia e a Alemanha, anunciou, durante essa semana, que os principais fornecedores de equipamentos para suas redes de 5G serão a Ericsson, uma empresa sueca que também atuará na Alemanha, e a Nokia, de origem finlandesa. O país almeja que o serviço esteja disponível em toda a cidade-estado até 2025. A Huawei da China está sendo desvinculada dos núcleos de rede da Singapura por questões de segurança nacional. Até o Reino Unido, que havia resistido à pressão estadunidense para impedir a Huawei de operar nas redes 5G britânicas, anunciou que está realizando uma nova revisão sobre o impacto da empresa chinesa de telecomunicações.

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