Minerais raros na guerra comercial entre EUA e China
- dri2014
- Jun 24, 2019
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A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China assume novos contornos. A China sinaliza, indiretamente, a possibilidade de suspender ou reduzir as exportações de minerais raros para os Estados Unidos. Estima-se que cerca de 80% das fontes de terras raras usadas pelos Estados Unidos são provenientes da China, e a redução das importações desses minerais causaria um impacto negativo tanto para o setor privado manufatureiro quanto para a indústria de defesa nacional. O aumento das tarifas americanas excluiu os minerais raros.
Esses minerais críticos contêm 17 elementos químicos que, na verdade, são abundantes na crosta terrestre, mas também são raros em razão da grande dificuldade de sua separação. Os minerais raros são componentes extremamente importantes na composição de celulares, telas de computador, televisores, câmeras, lâmpadas e até mesmo máquinas de lavar. Além disso, os minerais são indispensáveis para os equipamentos militares mais avançados, tais como os sistemas de orientação de mísseis, motores instalados em aviões, satélites, e radares de submarinos e navios de superfície.
Embora nenhuma ameaça tenha sido formalmente anunciada, o órgão de planejamento econômico da China informou que o restabelecimento de “controles de exportação” desses materiais está em pauta e sabe-se que a nação pode, a qualquer momento, optar por usá-los para salvaguardar seus próprios direitos e interesses de desenvolvimento.
A informação força o governo Trump a melhorar rapidamente seu entendimento sobre as fontes domésticas de terras raras e acelere as aprovações de licenças à mineração, visto não há caminhos imediatos para quebrar essa dependência. De certa forma, o governo norte-americano já estava antecipando essa possibilidade, pois o Departamento de Energia divulgou, ainda em 2010, um primeiro relatório sobre o estado da produção e oferta e como isto poderia ser melhorado, e em 2017 a administração Trump requereu novo planejamento a respeito.
A mera ameaça da China de suspender ou reduzir a exportação de minerais raros pode, na verdade, ser um “tiro no pé”. Uma situação de vulnerabilidade entre dois países – onde um é deles é fortemente dependente do outro – confere ao país dominante uma posição vantajosa. No entanto, esta situação pode ser substancialmente modificada em resposta a sanções impostas pelo país dominante contra o vulnerável.
Quando a China suspendeu a exportação dos minerais para o Japão, em retaliação a um incidente envolvendo uma disputa territorial e marítima, as empresas automotivas japonesas desenvolveram motores de carros híbridos que reduziram bastante ou até mesmo eliminaram a necessidade de elementos minerais raros na sua composição. E mais: o Japão empenhou-se e acabou descobrindo enormes reservas de minerais raros em sua zona marítima, o que significa que em prazo relativamente curto o país ficará completamente independente da China e se tornará seu competidor estratégico-comercial. Na recente viagem de Trump ao Japão, este foi um dos temas tratados.
O mesmo pode ocorrer em relação à ameaça chinesa contra os Estados Unidos. A mera ameaça já levou os EUA a estocarem esses minerais, e planejar o estímulo ao desenvolvimento da produção local e de fontes alternativas de fornecimento. Além disso, a inovação tecnológica pode reduzir a dependência desses minerais ou facilitar seu processamento de forma menos onerosa e menos danosa ao meio-ambiente.
Por estas razões, acredita-se que o governo chinês certamente terá cautela e pensará duas vezes antes de adotar esta medida excepcional.