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Corrida Estratégica no Oceano Índico


Dois gigantes do continente asiático, Índia e China, compartilham algumas características em comum. Ambas são as nações mais populosas do planeta, reunindo aproximadamente um terço da população mundial, estão entre os países de maior desenvolvimento econômico dos últimos tempos, são potências nucleares e militares, e compartilham mais de 3.000 km de fronteira comum. Embora mantenham relações diplomáticas formais e participem conjuntamente de instituições regionais de cooperação, como a Shanghai Cooperation Organisation, as duas potências revelam um passado de conflitos e um presente permeado de competição estratégica. Os dois gigantes mantêm uma enorme disputa territorial, que já os levou a um conflito armado direto em 1962 e vários encontros armados de menor intensidade desde então. As fronteiras ainda não estão definitivamente assentadas, e a única solução provisória a que se chegou até o momento foi o estabelecimento, em 1993, de uma Linha de Controle que identifica as linhas provisórias de demarcação e o tamanho do contingente militar que pode ser estacionado ao longo da linha.

No plano estratégico, a disputa é incontestável e se estende aos oceanos. No Oceano Índico, em particular, a expansão chinesa é notória e preocupante para a Índia: celebrou acordos de cooperação econômica e militar com vários países da região que lhe permitirão a construção e acesso à bases navais e portos comerciais, incluindo Sittwe em Myanmar, Chittagong em Bangladesh, Hambantota em Sri Lanka, Gwadar em Paquistão, e em alguns países do chifre da África. Quanto à região conhecida como o chifre da África, a China inaugurou sua primeira base militar no exterior, localizada em Djibuti, ponto mais extremo do chifre da África, perto do estreito de Bab el-Mandeb, uma das linhas marítimas mais importantes e uma das três artérias marítimas do Oceano Indico. Orientando essas ações estratégicas, o plano chinês é, primeiramente, assegurar as importantes linhas marítimas de comunicação, por onde transitam mercadorias e petróleo na direção da China. https://idsa.in/idsacomments/ChinasSecondCoast_ngoswami_190614

Toda essa conjuntura aprofundou as inseguranças em Nova Délhi, e pode explicar a nova dinâmica estratégia da Índia. Uma das ações tomadas pelo governo indiano foi o acordo realizado com as Ilhas Seicheles, conjunto de ilhas localizadas no Oceano Índico. O acordo de 20 anos permite que a Índia construa uma base aérea e naval na Ilha de Assunção, uma das ilhas do pequeno país. Em troca, a Índia se comprometeu a aumentar a capacidade de defesa do arquipélago. A importância prática de Seicheles se dá pelo grande fluxo de barris de petróleo que passa diretamente por lá – cerca de 5,8 milhões de barris por dia. Claramente, a ação da Índia tinha como objetivo a contenção da crescente influência chinesa e contrapor-se ao estabelecimento progressivo da sua rota da seda no Oceano Índico. Entretanto, apesar das relações entre Índia e Seicheles terem sido de cooperação por muito tempo – a Índia já providenciou aeronaves, helicópteros e barcos militares à Seicheles, como também instalou um sistema de vigilância costeira na ilha – muitas críticas em relação ao acordo têm sido levantadas em Seicheles. Alguns temem que o acordo tenha sido uma espécie de cessão de território, outros que a construção da base militar causaria danos ao meio ambiente, outros ainda que a população não sabia de detalhes do acordo e prefeririam manter o não alinhamento com as grandes potências.

Outro exemplo da corrida estratégica das duas potências asiáticas por influência no Oceano Índico foi a recusa das Ilhas Maldivas – um antigo aliado da Índia situado no Oceano Índico - em participar de um exercício militar naval conjunto. Apesar de o embaixador das Maldivas afirmar que as ilhas não participariam das manobras navais conjuntas devido ao estado de emergência declarado no país - uma crise política se instaurou no governo das Maldivas – e de o almirante indiano descartar que o motivo para a recusa das ilhas tenha sido consequência da presença de navios de guerra chineses próximos à sua costa, especialistas afirmam que esta pode claramente ter sido a maior motivação. Há muito que a China – que apoia a permanência do atual presidente no poder - já sedimentou relações bilaterais fortes com o país, o que lhe permitiu instalar uma base militar na ilha de Marao, e construir um observatório marinho chinês.

No último dia 07 de março, logo após o início de um gigantesco exercício militar naval indiano no Oceano Índico, viu-se que uma frota naval chinesa que havia entrada no oceano índico voltou ao Mar da China Meridional. A presença de navios de guerra das duas marinhas na mesma área seria arriscada. O ministro da defesa indiano insinuou que os navios chineses estariam destinados às Maldivas, mas deram meia volta após terem ciência dos navios indianos participantes do exercício militar.

O desenvolvimento dessas ações tanto indianas quanto chinesas são um indicativo de que suas fronteiras geoestratégicas em relação ao Oceano Índico estão se expandindo simultaneamente. A diplomacia agressiva da China e a crescente ambição indiana podem representar um risco para a paz da região.

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