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A Turquia Invade a Síria Novamente


Após a invasão de 2016, quando a Turquia ocupou Jarablus e Dabiq até a área de al-Bab, o país volta a adentrar o território sírio em janeiro de 2018, desta feita na direção de Afrin, uma região (e cidade) no norte da Síria. Nos dois casos, a Turquia tem agido sem a autorização, e até mesmo diante do protesto oficial do governo da Síria. Irã, aliado da Síria, também condenou a invasão. Diferentemente da primeira invasão, a recente movimentação mostra logo de início os principais objetivos turcos. Em 2016, a Turquia utilizou como pretexto o combate ao Estado Islâmico (EI) a fim de liberar cidades próximas à fronteira das mãos do grupo terrorista. Sabia-se que esse não era o objetivo real, pois, comprovadamente, os turcos auxiliavam o EI, ou seja, não havia coerência em suas ações. A real intenção seria evitar a formação de um Estado curdo independente na sua fronteira com a Síria e estabelecer uma zona de segurança dentro do território sírio. Nesta nova invasão, porém, os objetivos estão explícitos: militarmente, derrotar as forças curdas e impedir a formação do Estado Curdo; politicamente, garantir, na Síria, sua influência no processo diplomático sobre o futuro do país; e criar uma zona protegida na Síria para onde os refugiados sírios em território turco pudessem se reinstalar.

A região de Afrin é ocupada pelo YPG, uma força de defesa curda que a Turquia considera ligada ao PKK, um grupo armado de liberação nacional classificado de terrorista pelos turcos. Em 20 de janeiro deste ano, os bombardeios à cidade de Afrin tiveram início e Erdogan anunciou que pretende atacar também a cidade de Manbij (a 100 kms ao leste de Afrin) e Idlib, no nordeste da Síria. O problema é que em Manbij estão aproximadamente 1000 soldados americanos, parte das forças da coalizão. O porta-voz norte-americano da coalizão, quando indagado sobre um possível ataque turco que atingisse as forças americanas na região, respondeu que as forças estavam em alerta e, se necessário, responderiam em autodefesa. Pelo lado turco, em recente discurso no Parlamento turco, o Presidente Erdogan ameaçou indiretamente os norte-americanos, afirmando que “aqueles que dizem que responderão agressivamente se forem atingidos nunca experimentaram um tapa Otomano”. Note que Erdogan usa o termo “otomano” ao invés de “turco”. Para apaziguar os ânimos, os presidentes Erdogan e Trump conversaram ao telefone e o Secretário de Estado norte-americano esteve pessoalmente em Ankara.

Diante da complexa situação, certo é que a solidariedade da aliança militar da OTAN fica sob tensão. Além das controvérsias com os americanos, Paris manifestou descontentamento com ação turca, e a Alemanha anunciou o congelamento de fornecimento de armas para a Turquia. Ainda assim, a oposição não deverá ser muito forte nem delongada. A Turquia possui o segundo maior exército da OTAN e está localizada em um lugar estratégico para os EUA, próximo à Europa, à Rússia e ao Oriente Médio. Devido a essas características geopolíticas, é considerada uma peça-chave do Tratado do Atlântico Norte. As recentes ações agressivas da Turquia na Síria, e as declarações de Erdogan, podem indicar que o presidente turco considera a presença dos EUA na região como um cálculo de forças contra a Turquia. Essa situação explicaria a recente aproximação dos turcos com russos e iranianos, indesejada pelos EUA, deteriorando a relação entre os dois países, o que pode piorar com a ameaça da invasão à cidade de Manbij. Com o compromisso turco para com seus aliados da OTAN em constante dúvida, o que se pode afirmar com certeza é que a Turquia tem consciência de que a OTAN precisa mais dela que o contrário.

Certamente, o que fica claro em mais uma situação envolvendo a Síria é que não é de interesse dos países adjacentes ao conflito que a guerra chegue ao fim, prejudicando ainda mais os civis que há muito sofrem com a situação e piorando a crise de refugiados que atinge o mundo inteiro.

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