De que lado a China está?
Se viveu nas recentes semanas uma sensação de esperança quando o assunto é a crise nuclear da Coréia do Norte. O espectro de uma possível guerra parece desaparecer com a reaproximação dos governos das coreias incentivada pelas Olimpíadas de Inverno de 2018 que acontecem em PyeongChang, cidade da Coréia do Sul. O acordo entre os dois governos previa o envio de uma delegação coreana conjunta para o desfile na cerimônia de abertura e participação nas Olímpiadas. O acordo ainda pressupunha que o time de hóquei feminino da Coréia do Sul fosse composto, também, por atletas norte-coreanas. O que impressiona e impulsiona ainda mais essa sensação de “trégua” é o feito histórico da presença da irmã de Kim Jong Um, Kim Yo-Jung, no evento, pois em 30 anos de governo, esta é a primeira vez que um membro da família visita o território sul-coreano.
Diante desse contexto de “trégua”, um fato levanta questionamentos: a inesperada alocação, por parte da China, de 300 mil soldados e de armamentos, incluindo mísseis, na sua fronteira com a Coréia do Norte. Apesar do momento não ser de grandes tensões, a alocação militar chinesa na fronteira é, para os especialistas, uma indicação de que Pequim está se preparando e adaptando-se a uma possível crise militar entre americanos e norte-coreanos num futuro próximo. As tropas em questão seriam acionadas caso a guerra se instaurasse na península coreana e estariam armadas com o mais novo sistema antiaéreo de mísseis, inclusive contra aeronaves sul-coreanas e americanas. Se a missão das tropas seria controlar o fluxo de refugiados norte-coreanos, em caso de guerra, ou intervir no conflito ao lado dos norte-coreanos, caso a independência do país ou o regime esteja sendo ameaçada (como o fez na Guerra de Coréia, 1950-1953), isto ainda não está claro.
Neste delicado jogo de equilíbrio de poder, a China exerce um papel fundamental. A China é a principal apoiadora da Coreia do Norte, sendo o destino de 90% das exportações norte-coreanas. Qualquer pacote de sanções impostas pelo Conselho de Segurança precisa, para que seja realmente eficaz, da anuência e cooperação da China. A preservação da independência da Coreia do Norte assegura a China contra uma Coréia unificada e em aliança militar com os Estados Unidos. Por outro lado, a China deseja manter boas relações com os EUA e evitar a nuclearização da Coreia do Sul e do Japão, o que poderia ocorrer sob a justificativa de fazer frente a uma Coreia do Norte nuclearizada.
Isto explica a postura da China nas atuais tensões entre a Coréia do Norte e os EUA: em relação à escalada do conflito de discursos entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, a China tem sido relativamente neutra, chamando as partes à moderação. A China tem apregoado a importância da diplomacia e do diálogo, de forma a evitar a opção militar como solução da crise, sugerindo, por exemplo, um congelamento do programa nuclear norte-coreano e dos exercícios militares conjuntos de EUA e Coreia do Sul. Outra questão que tem levado a China a pressionar a Coreia do Norte é o potencial fluxo de imigrantes norte-coreanos para o território chinês que um conflito militar acarretaria, já que a superpopulação é um problema social do gigante asiático. Os chineses não veem com bons olhos a aproximação geográfica de forças armadas norte-americanas, o que pode ser potencializado pelas mais novas movimentações de Trump: o envio de 1000 marinheiros ao leste da Ásia para “conter o avanço chinês” e o desejo do presidente norte americano de realizar uma parada militar para demonstrações de poder bélico. Diante disso, a alocação das tropas chinesas, até então, não declaram sua posição, mas podem ser um aviso de precaução ao mundo sobre uma potencial guerra nuclear.