A Turquia Está Agitando o Mundo Novamente
Depois da tentativa frustrada de golpe, Erdogan tomou medidas internas para consolidar seu poder de forma ditatorial. No plano internacional, a Turquia tem tomado medidas que se revelam no mínimo muito preocupantes. Já se falou, em outro Comentário, a respeito da irresponsável derrubada de um avião militar russo por caças turcos em novembro de 2015, colocando em pé de guerra a Rússia e um país membro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A resposta russa foi rápida: fecharam o espaço aéreo sírio aos turcos e impuseram sanções contra a Turquia. Em junho de 2016, Erdogan enviou carta ao Presidente russo Putin se desculpando pelo incidente, e em agosto, após a tentativa de golpe, visitou Putin em Moscou para restabelecer os laços entre os dois países.
Por outro lado, Erdogan acusa os Estados Unidos de darem guarida ao mentor do golpe, Fethullah Gulen, um clérigo islâmico que vive exilado nos EUA desde 1999. O governo turco tem pressionado os EUA para que Gulen seja extraditado de volta a Turquia, onde responderá por crimes contra o Estado. A cartada de Erdogan é simples: ameaçar cortar os laços da Turquia com a OTAN, ao mesmo tempo em que se mostra cortejando a Rússia e o Irã. Mais concretamente, Erdogan enviou aproximadamente 7000 homens das forças de segurança para cercar a base aérea da Incirlik, na Turquia, e cortou o suprimento de água e energia elétrica. A base é utilizada pela OTAN, e controlada pelos americanos. Essa medida mostra o risco de se ter um aliado autocrata e imprevisível como a Turquia de Erdogan: na base de Incirlik, os americanos mantêm aproximadamente 50 bombas nucleares táticas!!! O que aconteceria se a Turquia de Erdogan se apoderasse dessas armas de uma hora para outra???? Já se noticia agora que os EUA estariam transferindo parte desse arsenal nuclear para a Romênia, um membro da OTAN mais confiável. A energia elétrica somente foi reativada no dia 22 de agosto, conforme informa o Comando Europeu dos EUA.
No dia 24 de agosto, o mundo se surpreendeu com a notícia de que a Turquia invadiu militarmente a Síria. O governo da Síria prontamente condenou a violação de sua soberania e integridade territorial. O objetivo anunciado foi libertar algumas cidades e áreas próximas da fronteira turca que estão sob ocupação das forças do Estado Islâmico. Para um país que comprovadamente auxiliava o Estado Islâmico, essa mudança de postura não convence. Na verdade, pode-se apontar dois objetivos reais para essa invasão. Primeiramente, a Turquia quer evitar a criação de uma área controlada pelos curdos em toda a extensão de sua fronteira meridional, pois isso poderia ser a semente de um futuro Estado Curdo, atraindo a enorme população curda que reside dentro de suas fronteiras. Daí a ação para impedir que as forças curdas que integram a Frente Democrática Síria consigam ligar o corredor que uniria as cidades de Jarablus e Azaz. Ao mesmo tempo, a Turquia teria a tão-sonhada zona de segurança que quisera estabelecer no norte da Síria.
A outra razão para a invasão pode estar intimamente ligada à data da invasão: 24 de agosto. Nesse dia, no ano de 1516, os Otomanos, sob a liderança de Selim I, derrotaram as forças do Sultanato Mameluco do Egito, do Levante e Hijaz, ocasionando o domínio Otomano sobre o Oriente Médio. Onde ocorreu essa batalha historicamente marcante? Em Dabiq, uma cidade síria localizada na região que está sendo invadida pela Turquia! Estará a Turquia de Erdogan, sob a cobertura da OTAN, iniciando a concretização do seu sonho de fazer renascer o antigo Império Otomano???