Declaração Internacional Polêmica
Em 20 de outubro de 2016, os Parlamentos da Polônia e Ucrânia firmaram uma declaração conjunta intitulada “Declaração de Memória e Solidariedade”. A Declaração culpa a União Soviética e a Alemanha nazista pelo início da II Guerra Mundial e pelas medidas de repressão em escala maciça contra os poloneses e ucranianos, condenando também as decisões tomadas em Yalta (1945), que provocaram a “escravização” da Europa Oriental e Central. Voltando-se para o quadro político atual, a Declaração condena a “política externa agressiva” da Rússia, incluindo sua “ocupação da Criméia” e o apoio dado à “intervenção militar na Ucrânia Oriental”, o que constituiria uma ameaça à paz e segurança de “toda a Europa”. Finalmente, expressa apoio à admissão da Ucrânia na OTAN e conclama todos os parceiros Europeus a protegerem a Europa contra “agressão externa”.
A Declaração ignora o fato de que em 1939 e durante toda a II Guerra Mundial até 1991, a Ucrânia era uma república da União Soviética. Mesmo com a derrocada da União Soviética, a Ucrânia permanece como sucessora legal da União Soviética, caso contrário não teria permanecido com o território da anterior República Socialista Soviética da Ucrânia. Forças ucranianas integravam o exército vermelho durante a invasão da Polônia, em setembro de 1939. Estaria o parlamento ucraniano se auto-condenando pelas práticas de agressão na II Guerra Mundial??? E mais. Em razão da guerra, partes consideráveis do território polonês (conhecido como “Kresy Wschodnie” ou "fronteiras orientais") foram incorporados à República Socialista Soviética da Ucrânia. Ao denunciar a ordem internacional do pós-guerra, estaria o Parlamento ucraniano renunciando o direito aos territórios poloneses anexados???
Ao colocar a defesa da Ucrânia contra a agressão russa como parte da segurança de toda a Europa, a Declaração transforma o que seria um conflito interno ou internacionalizado na Ucrânia numa guerra em potencial de proporções continentais e de natureza nuclear! Ao manifestar apoio à admissão da Ucrânia na OTAN, a Declaração toca num ponto nevrálgico que, para a Rússia, é inadmissível estrategicamente.
Embora a Declaração conjunta não seja propriamente um instrumento assinado pelos Governos dos respectivos países, não se deve olvidar que a aprovação pelos respectivos parlamentos envolveu o apoio da base política dos respectivos governos. No caso da Ucrânia, essa ilação é menos verdadeira, pois as regiões separatistas (ou federalistas) de Donetsk e Luhansk, somadas à Crimeia e Sevastopol não estão mais representadas.