Ventos de Guerra Novamente
Historiadores como Barbara Tuchman mostram que a Primeira Guerra Mundial foi antecedida por intensas preparações militares e formação de alianças entre as grandes potências. Havia um sentimento geral de que a guerra era inevitável, algo fortalecido pelo chamado culto da ofensiva, que apregoava a vantagem militar e estratégica da doutrina militar ofensiva.
Estamos revivendo algo semelhante no que diz respeito ao “sentimento” da inevitabilidade da guerra. Os sinais são vários e de variadas fontes:
O comandante do exército da Suécia afirmou recentemente ser possível que dentro de poucos anos a Suécia esteja envolvida numa guerra contra um “oponente qualificado” (Rússia).
Um General Britânico que serviu como vice-comandante supremo da OTAN até 2014, publicou um livro intitulado “2017: Guerra com a Rússia”, onde prevê um cenário hipotético em que eventos desencadearão uma guerra total entre a OTAN e a Rússia. Em artigo publicado, defendeu a possibilidade real de sua análise ser confirmada pelos fatos.
O Secretário de Defesa norte-americano afirmou recentemente que a estratégia nuclear da OTAN estava sendo revigorada para melhor integrar a dissuasão nuclear e convencional, e assegurar que os membros da organização planejarão e treinarão como se fossem lutar uma guerra, de forma a dissuadir a Rússia de pensar que poderia se beneficiar de um ataque nuclear num conflito com a OTAN.
O Chefe do Estado-Maior das forças armadas norte-americanas declarou em outubro desse ano que a “determinação estratégica” dos Estados Unidos estava sendo desafiada assim como as alianças, e advertiu àqueles que desejassem causar danos ao país que os Estados Unidos vão “pará-lo e bater mais forte em você do que jamais sofreu antes”. O general enfatizou especialmente a Rússia, mas também mencionou em sua fala o Irã, a Coréia do Norte e a China.
Naturalmente, toda essa retórica tem servido de justificação para a manutenção ou até mesmo o aumento dos orçamentos militares, satisfazendo assim os interesses corporativos e da indústria militar dos Estados. O problema é que as alegações acabam se internalizando no imaginário dos governantes, das elites e finalmente da população como um todo.
Tanto a OTAN quanto a Rússia e seus aliados têm se envolvido em exercícios militares de larga escala. No caso da OTAN, até mesmo países que fazem fronteira com a Rússia (Estados Bálticos) têm recepcionado exercícios ou demonstrações militares, sem falar em países não membros da organização e vizinhos da Rússia, como a Ucrânia. Por seu turno, na primeira semana de outubro de 2016, a Rússia conduziu um exercício de defesa civil que envolveu 40 milhões de cidadãos russos (vale notar eu em 2013 os russos efetuaram um exercício semelhante que envolveu 60 milhões de pessoas)!! Estão sendo também testados os novos poderes legais conferidos ao Ministério da Defesa para, mediante os Distritos Militares, assumir o controle administrativo total de cada uma das regiões da Rússia numa situação de guerra. Os Russos suspenderam a aplicação de um acordo bilateral com os Estados Unidos para a eliminação de uma quantidade enorme de plutônio usado em armas nucleares. Poucos dias atrás, um canal de televisão do Ministério de Defesa russo alegadamente anunciou que os "esquizofrênicos dos Estados Unidos estariam preparando suas armas nucleares contra Moscou". E, mais recentemente, o governo russo teria determinado que os oficiais governamentais trouxessem de volta ao país seus filhos que estão estudando no exterior. Podem essas ações serem interpretadas como medidas de prevenção ou de preparação?
Presentemente, dois teatros de operações militares poderiam funcionar como o gatilho de uma eventual guerra entre a OTAN e a Rússia: a Síria e a Ucrânia. Destes dois, a Síria é o perigo mais urgente (conforme se verá no próximo comentário).