A Geopolítica da Nova Guerra Fria
O fim da Guerra Fria foi caracterizado por alguns marcos históricos claramente identificáveis: a dissolução da União Soviética (1991), a extinção do Pacto de Varsóvia (1991), a conclusão da Carta da Paris para uma Nova Europa (1990), o Acordo sobre a Resolução Final com respeito à Alemanha (1990), e o Tratado sobre as Forças Convencionais na Europa (1990).
A Organização do Tratado de Varsóvia, uma organização regional de cunho militar que congregava a União Soviética e os países comunistas do Leste Europeu, havia sido criada em 1955 como uma resposta direta à criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 1949, e a adesão da República Federal da Alemanha à OTAN (1954). Com o fim da Guerra Fria, o Pacto de Varsóvia foi extinto, a União Soviética se desmembra em 15 novas repúblicas, e estas, juntamente com os países da Europa do Leste se democratizam. Apregoava-se o início de uma nova ordem mundial, e o Conselho de Segurança da ONU atuava com a tão sonhada unanimidade dos membros permanentes.
Surpreendentemente, a OTAN, que havia sido criada para conter uma possível invasão soviética da Europa Ocidental, foi mantida. Para não ser acusada de irrelevância, teve de rever seu conceito estratégico, isto é, a lista de ameaças e riscos que justificam sua existência. Extrapolando o seu papel original de aliança militar de cunho puramente defensivo, destinada a prestar assistência ao membro que sofresse uma agressão armada, a OTAN passou a intervir militarmente, sob diferentes justificativas, em vários países ou regiões, tais como: Bósnia (1992-2004), Kosovo (1999- ), Sérvia (1998), Macedônia (2001-2003), Afeganistão (2001- ), e Líbia (2011).
E mais: a OTAN iniciou um processo de expansão na direção do Leste Europeu. Ao final da Guerra Fria, a organização dispunha de 16 membros. Atualmente, a OTAN é composta de 28 membros, incluindo todos os antigos membros do Pacto de Varsóvia e os países Bálticos. Com estes processos de alargamento, o território da OTAN já chegou à fronteira da Rússia na Estônia e Letônia. Mas a OTAN não se contenta com a presente fronteira. A organização incorporou recentemente países dos Balcãs, como Albânia, Croácia e Macedônia, e anunciou a intenção de admitir a Ucrânia e a Geórgia num futuro próximo. A Ucrânia já está envolvida numa controvérsia com a Rússia a respeito da Criméia e da região de Donbass, desde 2014, e esse país possui a maior fronteira ocidental da Rússia. A Geórgia também enfrentou uma crise militar e política com a Rússia em 2008 e faz fronteira com o sul da Rússia. Se confirmadas, essas novas admissões levarão a OTAN para a fronteira oeste, noroeste e meridional da Rússia, algo que seria inaceitável para os russos.
Ainda insatisfeita com o nível de expansão atingido, a OTAN tem se voltado para garantir acesso militar ou cooperação militar com os países nórdicos (Noruega, Suécia e Finlândia), tradicionalmente neutros. Por exemplo, anunciou-se, recentemente, que a OTAN e a Suécia firmaram um acordo de cooperação militar que permite a organização operar no território sueco para treinamentos ou na eventualidade de um conflito.
Imagine agora um cenário hipotético oposto: com o fim da Guerra Fria, a OTAN se dissolve, mas o Pacto de Varsóvia continua a existir e se expande continuamente na direção oeste, incorporando ex-membros da OTAN (França, Alemanha, Itália, etc) e chegando finalmente a admitir o Canadá e o México, países que fazem fronteira com os Estados Unidos. Como os Estados Unidos reagiriam? Os americanos quase desencadearam a Terceira Guerra Mundial em 1962, quando a então União Soviética ousou instalar uma base militar em Cuba.....