A Nova Guerra Fria - Diferença entre o Discurso e a Prática na Política Externa
No seu primeiro ano do primeiro mandato na Presidência dos Estados Unidos, Obama anunciou em 2009 a manutenção e expansão de um sistema de defesa contra misseis balísticos nucleares na Europa. Este programa tem sido implementado sob a égide da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Em 2009, Obama justificou o sistema mencionando a ameaça posta pelo programa nuclear e balístico do Irã. Ocorre que no ano passado, os Estados Unidos, Alemanha, China, Rússia e França celebraram um acordo com o Irã sobre o seu programa nuclear, acordo esse que foi ratificado pelo Conselho de Segurança na sua Resolução 2231 (2015). Presidente Obama classificou o acordo com o Ira como um “sucesso substancial”, assinalando sua crença de que esse acordo “satisfaz os interesses de segurança nacional dos Estados Unidos e de seus aliados”. O acordo, que visa a assegurar a não proliferação nuclear no Irã, já resultou inclusive no levantamento das sanções impostas pelo Conselho de Segurança contra o país.
Se a ameaça nuclear Iraniana está contida em virtude desse acordo de 2015, por que continuar com o programa de defesa de misseis na Europa? Em particular, por que os sistemas estão sendo instalados na Polônia, República Checa e Romênia? A resposta é óbvia: o sistema foi planejado não para conter os mísseis iranianos, e sim os mísseis balísticos nucleares russos. Por esta razão, a posição dos russos de que o acordo com o Irã requer uma revisão nos planos de instalação do sistema na Europa até o momento não produziu resultados.
O perigo, que poucos notam, é que a colocação desses sistemas de defesa irá causar inevitavelmente uma corrida de armamentos, de forma a manter-se a paridade estratégica entre a Rússia e a OTAN. Por exemplo, o governo russo já anunciou a aquisição de 40 novos misseis balísticos intercontinentais ainda em 2015, além de estar desenvolvendo uma nova modalidade de misseis balísticos que seriam alegadamente capazes de furar o bloqueio de um sistema de defesa antibalístico. No fim das contas, apenas o complexo industrial-militar será beneficiado por esse ciclo vicioso e altamente perigoso.