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Turquia: fator de risco no Oriente Médio - Parte I


A Turquia está se revelando um grave fator de risco para a estabilidade do Oriente Médio e a paz mundial. Tem apoiado, embora sub-repticiamente, grupos radicais na Síria e Iraque, particularmente o Jabhat al—Nusra (Al Qaeda) e o Estado Islâmico (assim como grupos armados a eles associados). Esta ajuda tem sido dada de diferente formas: (a)permitindo a passagem, por seu território, de voluntários estrangeiros oriundos de todo o mundo para integrarem-se aos dois grupos; b)provendo armas e munições, financiamento e treinamento.


Mais recentemente, foi revelado que o petróleo do Iraque e da Síria, roubado e contrabandeado pelo Estado Islâmico, era processado e escoado para o exterior com a conivência e colaboração do governo turco. Na verdade, o próprio filho do Presidente turco Erdogan estaria envolvido na operação de comercialização desse petróleo. Ora, uma ação eficaz contra o Estado Islâmico deveria visar, antes de tudo, a interrupção de suas fontes financeiras. Os Estados Unidos, e a coalizão de Estados que arregimentou na luta contra o Estado Islâmico, pouco lograram a respeito durante os 12 meses iniciais de sua intervenção armada contra o Estado Islâmico. Quando entrou no conflito, a Rússia, ao contrário, conseguiu devastar boa parte da infraestrutura de contrabando de petróleo do Estado Islâmico em menos de um mês. Foram mais de mil caminhões transportadores de petróleo destruídos, além de tanques de armazenamento.

A Turquia também invadiu – isto é, entrou com forças militares sem a autorização do governo do Estado – os territórios (incluindo o espaço aéreo) da Síria e do Iraque. Até hoje mantém forças militares na região de Mosul (Iraque), mesmo em face de veementes protestos e demandas de retirada emitidos pelo governo do Iraque.

O governo turco tem se utilizado da chamada “crise dos refugiados” para extorquir benefícios da Europa. Sabedor de sua posição chave de posto avançado da fronteira meridional da União Européia, a Turquia abriu suas fronteiras e permitiu a passagem de centenas de milhares de refugiados e migrantes econômicos pelas fronteiras da Grécia e Bulgária (aliás, a Grécia é um país com o qual a Turquia mantém um antagonismo histórico). Com a crise gerada pelo fluxo de refugiados, a Turquia extorquiu da Europa a promessa de 3 bilhões de euros e o descongelamento do projeto de admissão da Turquia na União Européia. Em troca, a assistência financeira européia asseguraria o fechamento efetivo da fronteira da Turquia com a União Européia, e a manutenção de campos de refugiados em território turco.

A Turquia tem adotado a prática de se imiscuir nos assuntos domésticos dos outros Estados da região, apoiando, por exemplo, a Irmandade Muçulmana no Egito (o que desagrada profundamente o atual governo egípcio), e promovendo a queda do regime de Assad na Síria.

Descobriu-se também que a Turquia estava, por anos, burlando o regime de embargo econômico imposto pelo Conselho de Segurança da ONU contra o Irã, pagando as importações de produtos do Irã com ouro.

Talvez o ato mais arriscado e espetacular da Turquia tenha sido a derrubada do avião militar russo há poucas semanas atrás. Mostrando ao mesmo tempo audácia e leviandade, a Turquia fez algo que até mesmo os Estados Unidos procuraram evitar a todo custo, durante e após a Guerra Fria.

Quais os parâmetros que têm orientado a política externa turca? Sob a ótica geopolítica, Erdogan se inspira numa política neo-otomana, buscando a ressurreição do antigo Império Otomano. Para esse fim, a Turquia se interessa por uma Síria dividida, enfraquecida e subserviente, a reinserção da Ásia Central, composta por países de etnia turca, na sua esfera de influência, a consolidação da Turquia Cipriota, e a eventual submissão do Líbano e partes do Iraque. A prevenção de um Estado Curdo é um objetivo igualmente prioritário, pois colocaria em risco a integridade territorial e política da Turquia (ante a larga minoria curda no país). Na perspectiva econômica, a Turquia busca a integração completa na União Européia e a redução de sua dependência em relação ao gás fornecido pela Rússia. Este último objetivo explicaria sua obsessão coma mudança de regime da Síria, pois isso permitiria a concretização do projeto de escoamento de gás do Qatar até a Turquia e a União Européia. No plano religioso e político, o neo-otomamismo prevê o restabelecimento da liderança religiosa e política da Turquia no mundo islâmico.


Como se vê, a agenda de política externa da Turquia representa um desafio para a ordem regional. Pot quê a Turquia tem tido a mão livre para a implementação de tantas políticas nefastas? Isto veremos no próximo post.

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