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O Jogo Estratégico de Xadrez na Síria


Já se observou nesse site que o objetivo estratégico dos Estados Unidos é de, juntamente com seus aliados europeus e outros (notadamente Turquia, Arábia Saudita e Qatar), promover uma mudança de regime na Síria. Uma vez atingido esse objetivo, o novo governo na Síria poderia autorizar o uso de seu território para o planejado gasoduto proveniente de Qatar e destinado à Europa. Estimam também os membros dessa coalização que o novo governo, que seria necessariamente Sunita, retiraria a Síria da esfera de influência Iraniana na região. Parte do plano de ação para lograr esse objetivo incluía o apoio a grupos rebeldes, radicais ou não, para fomentar a desestabilização do regime sírio. A criação do Estado Islâmico foi um resultado esperado da estratégia (conforme já noticiamos e comentamos aqui). Isso explica o esforço pífio dos Estados Unidos e demais membros da coalizão em derrotar o Estado Islâmico e a Al-Qaeda (al-Nusra) na região, assim como a política aberta de treinamento (na Turquia e Jordânia) e envio de grupos rebeldes armados para a luta contra o governo sírio. De início, a estratégia provocou, em resposta, o envolvimento do Irã na Síria por meio do seu representante no Líbano, o grupo armado Hizbollah. A consequência, obviamente, foi o agravamento do conflito interno, com a morte de milhares de sírios e o deslocamento interno e transfronteiriço de enormes parcelas da população síria (o que explica, em parte, a crise atual de refugiados na Europa).

Até então, a Rússia estava apoiando diplomaticamente o regime sírio de Assad, ao mesmo tempo em que procurava mediar uma saída política negociada da crise, por meio de um acordo que estabelecesse um governo de transição. Putin resolveu então dar nova direção à estratégia russa. O governo russo está acelerando sua presença militar na Síria, enquanto provê uma aumentada assistência humanitária e militar ao governo sírio. Noticia-se que a Rússia está deslocando aviões militares (pelo menos 28 até o momento), helicópteros militares de transporte e ataque, baterias de mísseis, e uma guarnição considerável de soldados para uma base aérea da cidade portuária de Latakia, situada numa região síria controlada pelo regime de Assad. A Rússia oficialmente ingressa no conflito contra o Estado Islâmico e seus aliados. Essas medidas, sem dúvida, fortaleceram o regime de Assad.

A nova política russa deixou a coalizão americana em xeque. Afinal, o objetivo publicamente anunciado dos aliados é o de combater o Estado Islâmico e Al-Qaeda. Ora, se os russos pretendem fazer o mesmo, como os Estados Unidos poderão se opor a isso? As medidas de Putin já surtiram efeitos imediatos: como a queda do regime de Assad fica mais difícil após a presença militar substancialmente majorada da Rússia, os europeus e americanos se mostram agora mais abertos a uma saída política para a crise. A Rússia tem condição de continuar a sua manobra de forma a assumir um papel protagonista no processo político para a solução da crise. É possível que, ao final desse processo, a Rússia surja numa posição estratégica no Oriente Médio mais favorável do que a dos Estados Unidos. A Síria não seria o único fator que levaria a Rússia a uma nova posição estratégica. A política atual dos Estados Unidos de reaproximação com o Irã tem, na verdade, produzido ondas negativas de choque nas suas relações com os países do golfo.

A nova influência russa na região é confirmada pela notícia de que o Iraque estaria coordenando e compartilhando inteligência sobre o Estado Islâmico com o Irã, Síria e Rússia, para desgosto dos americanos.

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