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A Importância da Crise na Ucrânia


Para aqueles que pensam que a guerra civil e secessionista da Ucrânia não passa de um problema local, que não pode repercutir nos outros países, leia com atenção esse texto. Desde a eclosão da crise na Ucrânia, a postura militar e política dos países tem mudado substancialmente. Os Estados Unidos, a OTAN e a Rússia revisaram sua Estratégia de Segurança nacional para identificar o outro lado como uma grave ameaça. A nova Doutrina Militar da Rússia (2014) declara a OTAN como uma das principais ameaças militares externas, e a mais recente Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos (2015) cita a Rússia como um país agressor ou potencialmente agressor nada mais do que 10 vezes! O Secretário norte-americano da força aérea, assim como o comandante dos US Marines, reiteraram que a Rússia é a maior ameaça externa aos Estados Unidos e OTAN. Quando a OTAN, essa organização suspendeu toda cooperação com a Rússia desde 2014 e recriou o cenário de uma ameaça russa pairando sobre a Europa para pressionar por uma expansão dos orçamentos militares dos membros e de seu papel nos respectivos países (a Organização decidiu, na última Cimeira de Wales em 2014, pelo “reforço mais significativo da segurança coletiva desde o fim da Guerra Fria”).


Mas a mudança de postura não se reservou ao plano das ideias e políticas abstratas. Já noticiamos aqui os inúmeros exercícios militares realizados pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e pelas forças armadas russas no ano passado e no corrente ano. São manobras militares únicas pela dimensão extraordinária das forças envolvidas, pelo local onde ocorrem, e pelo número de países participantes (no caso da OTAN). Noticiamos também o deslocamento e estacionamento de novos contingentes militares e armas e equipamentos militares por parte dos dois lados (a Rússia, por exemplo, em Kalinigrado e na Crimeia, ao passo que a OTAN na Europa do Leste e países bálticos –Latvia, Estônia e Lituânia). A OTAN também criou centros de comando e controle militares avançados em países da Europa do Leste. O mais extraordinário foi a realização em 2015, pela OTAN, de exercícios militares oficiais na Ucrânia, um país que não é membro da organização.


Os Estados Unidos reabriram sua Central de Comando Estratégico localizado dentro da Montanha Cheyenne, que havia sido desativado há quase 10 anos atrás. Trata-se de uma verdadeira cidade construída na década de 60 dentro de uma montanha, com 15 estruturas de 3 andares cada, e destinada a sobreviver a uma guerra atômica. E agora anuncia-se que o Pentágono (Ministério da Defesa dos Estados Unidos) está revisando seus planos militares no caso de uma futura guerra contra a Rússia, e muitos “jogos de guerra” estão sendo conduzidos. Jogos de guerra são simulações de cenários de guerra entre 2 países, conduzidos por membros das forças armadas, levando em consideração os recursos militares de cada lado, para determinar qual lado sairia vencedor e, portanto, os pontos fortes e fracos de cada qual. As simulações se deram em torno de uma imaginada invasão russa nos países bálticos. Por coincidência, os céus dos países bálticos são patrulhados pela força aérea de países membros da OTAN.


Recentemente, descobriu-se que os Estados Unidos acertaram com a Alemanha emprego de 20 novas ogivas nucleares (do tipo B61) na território alemão (membro da OTAN). A respostas russa foi imediata: consideraram a medida uma violação do Tratado de Não-Proliferação, e consideram a possibilidade de instalar novos mísseis balísticos nucleares Iskander no seu enclave europeu de Kaliningrado.


Lembre-se que os militares conseguem a manutenção ou aumento de seus orçamentos alimentando o medo da população contra uma ameaça externa. Igualmente, a existência da uma ameaça russa serve para justificar a continuação da OTAN, que havia perdido sua razão de ser desde o fim da Guerra Fria (a organização teve de rever seu conceito estratégico mais de uma vez desde então para justificar sua existência).


Contrariamente ao que fez na década de 70, quando os Estados Unidos reataram relações diplomáticas e estratégicas com a China, dissociando-a ainda mais da então União Soviética, o atual governo norte-americano tem conseguido o feito de antagonizar os 2 países simultaneamente, causando um novo alinhamento estratégico entre a China e a Rússia.

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