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A grave crise de refugiados internacionais transitando países europeus tem uma identidade de origem inegável: as sucessivas intervenções Ocidentais nos países do Oriente Médio. Há refugiados que fogem de condições de vida precárias e ou de perseguição religiosa, como os de Somália, Eritréia e Nigéria, mas a grande maioria dos refugiados vem do Afeganistão, Síria e Iraque. Os migrantes econômicos da África usam a Líbia como portal para o Mediterrâneo e a Europa do Sul, ao passo que os demais refugiados chegam à Europa através da Turquia.
Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria foram ou têm sido objeto de intervenção armada dos Estados Unidos e outros países Ocidentais, às vezes por via da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte. As intervenções no Afeganistão e no Iraque deixaram um governo fragilizado e uma economia em frangalhos, enquanto a sociedade vive uma situação caótica de conflitos inter-étnicos e religiosos que colocam em risco a unidade do país. Destes países, o maior número de refugiados tem vindo da Síria. Estima-se que 4 milhões de sírios já deixaram seu país desde o início da guerra civil internacionalizada. Desde o princípio, como já observado em Notas anteriores, os rebeldes sírios foram incentivados, armados, treinados e financiados por países do Golfo (notadamente Qatar e Arábia Saudita), Turquia e países Ocidentais (principalmente os Estados Unidos). O garoto Aylan, achado morte numa praia Turca, é na verdade um refugiado Curdo da Síria, da cidade de Kobane, fugindo do Estado Islâmico ou até mesmo das forças turcas que iniciaram uma ofensiva contra os curdos na Síria. Sem o apoio externo, Al Qaeda na Síria e o Estado Islâmico não teriam florescido nem perpetrado os crimes de guerra que são largamente conhecidos. E se os rebeldes conseguirem tomar o poder na Síria, certamente ocorrerá uma nova leva de refugiados, desta vez composto por grupos étnicos e religiosos que endossam o regime de Assad (cristãos, alawitas, curdos, etc).
A Líbia tem sido usada como ponte para se chegar a Europa porque o país está – desde o fim da intervenção da OTAN em 2011 - devastado, ingovernável, e dominado por diferentes grupos armados. Durante o regime de Qaddafi, o fluxo de migrantes da África através da Líbia foi controlado após um acordo do seu governo com a União Européia, de modo a imigração ilegal para a Europa caiu em mais de 75% por volta de 2010. Durante a intervenção militar na Líbia em 2011, Qaddafi previu um caos no Mediterrâneo caso fosse removido do poder. Com a queda de Qaddafi, o país foi de fato deixado sem a menor condição de controlar suas fronteiras, e a predição está sendo confirmada pelos fatos.
A pergunta que tem sido feita pelos mais céticos é: quantos desses milhares de refugiados são na verdade operadores do Estado Islâmico ou da Al-Qaeda? Afinal, não bastam muitos para causar graves danos e muitas mortes numa operação suicida.
Por incrível que pareça, a solução que está sendo proposta pela França, Reino Unido e Estados Unidos para a crise dos refugiados é uma maior intervenção militar na Síria!!! Embora se destaque o Estado Islâmico como o alvo de maiores ataques, a agenda oculta de remoção de Assad do poder continuará a ser implementada. E como notado anteriormente, o Irã (abastecido de divisas com o fim do regime de sanções) e a Rússia continuarão a opor-se à deposição forçada do regime de Assad.