O Projeto de Internacionalização da Moeda Chinesa
A hegemonia do dólar americano se expressa de diversas maneiras. Uma das mais importantes é o financiamento das trocas comerciais. Os países exportam e importam entre si e a moeda de troca é tradicionalmente o dólar americano. A prática do comércio exterior exige, portanto, que os países tenham de adquirir dólares americanos ou obter empréstimos de dólares para financiarem suas exportações e necessidades de expansão das exportações. Assim sendo, os países ficam dependentes dos Estados Unidos de duas maneiras:
uma crise financeira nos Estados Unidos, como a de 2008, pode secar imediatamente as fontes de financiamento em dólares, o que acarreta (além da recessão) uma redução desproporcional do comércio internacional;
o governo americano tem o poder de impor severas sanções financeiras, basicamente excluindo o país alvo do sistema global de pagamentos, o que afeta a capacidade dos bancos de transacionarem em dólares americanos e as operações financeiras e comerciais das empresas daquele país. No momento, os Estados Unidos aplicam sanções contra a Rússia, Irã e Síria. Isso constitui uma ferramente poderosa da política externa norte-americana.
A ascensão dos países emergentes, porém a oferecer alternativas para essa situação, e a China é uma boa ilustração.
A China se tornou o primeiro ou segundo maior mercado importador e exportador de muitos países, incluindo os países emergentes. Para reduzir sua dependência do dólar e ao mesmo tempo internacionalizar sua moeda (o renminbi), a China concluiu acordos de trocas de moedas com um grande número de países, e ao mesmo tempo, criou condições para que esses e outros países possam ter acesso a sua moeda para o financiamento das importações e exportações. Foi estabelecido em Hong Kong um mercado para títulos da dívida em renminbi. Até o momento, os títulos chineses e a taxa de câmbio do renminbi têm apresentado um nível desejável de estabilidade. O Banco Central chinês também tem se mostrado disposto a emprestar os valores necessários em renminbi. Uma terceira vertente da estratégia chinesa é a aquisição maciça de ouro para o lastro da sua moeda. Finalmente, a China está criando instituições financeiras alternativas, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura e o Banco de Desenvolvimento (este último com a participação dos demais países do BRICS - Brasil, Índia, Rússia e África do Sul).
A internacionalização do renminbi não significa que a China pretende substituir de imediato o dólar americano como moeda internacional de reserva. Os chineses adotam uma perspectiva de longo prazo na consecução de seus objetivos. O que desejam é que a China se torne, primeiramente, uma das moedas a serem usadas em transações internacionais. A China sabe que para tomar o lugar do dólar americano, o renminbi tem um longo percurso a percorrer. Atualmente, só 2.2% dos pagamento globais são efetuados em renminbi, ao passo que o dólar americano responde por 44.6%. No entanto, deve-se notar que, somente no ano passado, a moeda chinesa já subiu do 13º para o 5º lugar, tendo ultrapassado recentemente o dólar canadense e o dólar australiano.