O Alto Custo da Aliança Atlântica
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), criada originariamente para a defesa da Europa Ocidental e América do Norte contra uma possível invasão das forças do bloco comunista, serviu bem aos interesses dos países Europeus. Não apenas se beneficiavam da proteção nuclear norte-americana, mas o estacionamento de forças convencionais americanas em território europeu e a disponibilização dos recursos militares americanos em caso de agressão externa permitiram que os europeus dedicassem mais recursos ao seu desenvolvimento econômico e social.
Com o fim da guerra fria, a OTAN, que perdera sua finalidade original, teve de se remodelar para justificar sua continuada existência. Interviu militarmente nos Balcans, no Afeganistão, e na Líbia, e se expandiu progressivamente na direção leste, alcançando, com a incorporação dos países bálticos, a fronteira com a Rússia. Além disso, os países do leste europeu prontamente disponibilizam seu território para o estacionamento de forças e equipamentos norte-americanos.
Com a crise da Ucrânia, os europeus estão agora sentindo os custos econômicos e militares da Aliança Atlântica. A alegada ameaça de agressão russa serve de pretexto para uma decisão coletiva de aumento do orçamento militar dos países membros, mesmo em face da crise econômica (irrisório crescimento econômico ou queda do PIB) e financeira (alto nível de endividamento) experimentada pela maioria países europeus. O compromisso estratégico gerado pela Aliança possibilitou aos Estados Unidos pressionarem os países europeus pela imposição de severas sanções econômicas e financeiras contra a Rússia. Sanções, especialmente contra uma economia significativa como a da Rússia, funcionam como um via de duas mãos, gerando consequências negativas imediatas para aqueles que as impõem.
Para se ter uma idéia, as exportações alemães retrocederam 18% em 2014, e apenas nos 2 primeiros meses de 2015, em 34%. Nos países Bálticos, a queda nas exportações foi de 40% (Látvia), 30% (Lituânia) e 25% (Estônia). As exportações de alimentos da Lituânia, por exemplo, caíram em 94% nos 4 primeiros meses desse ano, e o Banco Central do país prevê uma queda de 0,7% no crescimento do PIB nesse ano. Países que mantinham fortes laços de comércio com a Rússia, como a Áustria, por força na redução das suas exportações, passam também a importar menos uns dos outros.
Empresas europeias que possuem interesses comerciais significativos no mercado russo, são forçadas a transferir ao menos parte de sua produção para a Rússia, gerando perda de emprego e de capital de investimento nos países da União Europeia. Grandes projetos de investimento anunciados pelo governo russo irão excluir as empresas da União Europeia, visto que a confiança na efetiva entrega dos bens ou serviços fica abalada. Por exemplo, a Rússia encomendou junto à França dois navios de guerra enormes que serviriam para transportar uma frota de helicópteros e tropas. O custo total do projeto ultrapassou 1 bilhão de euros. Os navios foram concluídos, mas não entregues, por causa das sanções. A Rússia vai exigir a devolução do dinheiro pago, uma multa adicional, e provavelmente nunca mais fará encomendas militares da França. Os navios construídos não podem sequer serem utilizados pela OTAN, pois seguiram as especificações técnicas dos equipamentos militares russos. Argumenta-se que o seu afundamento será menos oneroso do que a sua manutenção.
Em suma, o longo e cuidadoso trabalho de construção de relações bilaterais entre a União Européia e a Rússia está sendo destruído pela estratégia proveniente de Washington, enquanto os Estados Unidos pouco tem sido afetado pelas sanções e a resposta russa. A União Européia decidirá em junho desse ano se manterá, reduzirá ou aumentará o regime de sanções contra a Rússia. Até o momento, os países da União Européia têm se comportado como colônias dos Estados Unidos.
A pergunta é: quando os europeus vão acordar e afirmar a sua independência? Como bem disse o ex-primeiro ministro da França em entrevista recente, "Hoje, a Europa não é independente... os Estados Unidos estão conduzindo a União Européia a uma cruzada contra a Rússia, o que contradiz os interesses europeus".
Atualização: a União Europeia decidiu estender suas sanções contra a Rússia por mais 6 meses, condicionando seu levantamento à implementação plena do acordo de Minsk. Isso significa que o governo da Ucrânia e seus aliados têm o poder de, provocando o retorno das hostilidades com as regiões autônomas, causar sucessivas prorrogações das sanções