Interesses Financeiros nas Intervenções Americanas
O que a intervenção americana no Iraque, no Afeganistão e na Líbia têm em comum? O modo de operação do governo norte-americano é comprovadamente o mesmo, a despeito de os três casos terem envolvido administrações diferentes (Bush e Obama). Depois da intervenção armada e da remoção do líder (Saddam Hussein, Mullah Omar e Gadafi), os três países experimentaram um período de caos, ocasionado pela destruição da infraestrutura pública (pelas ações militares), a desestruturação do governo (com a perseguição daqueles tidos como membros ou simpatizantes do governo deposto), e pelo vácuo de poder. No caso da Líbia, as consequência foram ainda maiores, com graves e sistemáticas violações de direitos humanos por partes dos rebeldes vitoriosos, e a derrocada total da Líbia, tornando-se hoje um Estado falido, dividido, e povoado de milícias armadas e organizações terroristas.
No período da intervenção armada, o complexo industrial-militar é o grande beneficiado. Após a intervenção, esses e outros atores irão também tomar proveito da situação, pois começam os esforços de reconstrução do país mediante assistência financeira canalizada pelo Governo norte-americano. São bilhões de dólares investidos em (re)construção de escolas, hospitais, rodovias, na reforma das forças de segurança do país, etc. É nesse processo de reconstrução daquilo que os Estados Unidos ajudaram a destruir, que a rede de interesses privados atua juntamente com os seus patrocinados ou aliados no governo. Essas empresas são beneficiadas com contratos do governo norte-americano e do governo recém-instalado no país vítima da intervenção.
O Congresso americano divulgou estudo que mostra que as empresas americanas contratadas para trabalhar no Iraque e Afeganistão empregavam mais pessoas do que o número total de tropas estacionadas naqueles países. Somente no Afeganistão, havia 108 mil pessoas trabalhando para essas empresas em 2013, e entre 2012 e 2014 os Estados Unidos teriam investido mais de 100 bilhões de dólares na reconstrução do país.
Para citar um exemplo mais próximo, foi revelado que Hillary Clinton, enquanto Ministra das Relações Exteriores do Presidente Obama, tomava conselho sobre a Líbia com um ex-assessor do seu marido, Presidente Clinton. Esse assessor, chamado Blumenthal, mantinha um contrato com a Fundação Clinton, mas não era empregado pelo Departamento de Estado. A sua influência era tão grande, que Hillary circulava seus emails entre o alto escalão do Departamento de Estado. Ao mesmo tempo, Blumenthal assessorava uma série de empresas e mantinha ligações com ex-operadores de agências de inteligência. Nessa condição, Blumenthal influenciou as decisões de Hillary sobre a Líbia, e depois da remoção de Gadafi, procurou assegurar contratos de reconstrução e de inteligência com o novo governo Líbio e junto ao governo norte-americano. Num dos emails de Clinton para o Departamento de Estado, ela afirma que os líderes rebeldes líbios (que haviam assumido o poder) estavam cientes de quais empresas petrolíferas e bancos internacionais os haviam apoiado, e que eles iriam levar isso em consideração nas decisões que tomariam sobre quem teria acesso às ricas reservas de petróleo da Líbia.
O povo americano é mantido no escuro a respeito desse processo. A única coisa que ouvem é que os Estados Unidos precisam intervir para salvar a população daquele outro país das garras de um terrível ditador.