O Estado Islâmico é um Lobo Solitário?
Os avanços extraordinários do Estado Islâmico (ISIS), que colocam em risco o Iraque e várias comunidades étnicas e religiosas, teriam inspirado a reação dos Estados Unidos e demais países da coalizão contra essa organização. A campanha aérea, como se noticiou, abrangeria alvos do Estados Islâmico na Síria e no Iraque. Depois de semanas da anunciada campanha militar, era de se esperar que as forças do Estado Islâmico estivessem debilitadas e seus territórios abandonados.
Ao contrário, ISIS adicionou a cidade Iraquiana de Ramadi, capital da província de Anbar, às suas conquistas. Quase toda a província de Anbar, incluindo as cidades de Mosul e Faluja, estão agora nas mãos de ISIS. Essa província, vale lembrar, é populada majoritariamente por Sunitas, a mesma vertente do Islão do Estado Islâmico. Na Síria, a antiga cidade de Palmyra, no centro do país, foi a sua última conquista.
Por que ISIS ainda floresce, a despeito da coalizão de países formada contra ele? Primeiramente, a campanha aérea dos Estados Unidos tem se mostrado pífia, muito aquém da capacidade militar dos americanos. Há relatos de comboios de 200 ou mais veículos do Estado Islâmico que transitaram incólumes no Iraque, antes da tomada de Ramadi.
Nesse contexto, o comandante Iraniano da Força Quds (shiita), que mantém presença no Iraque para combater o Estado Islâmico, criticou severamente os Estados Unidos por não estarem fazendo coisa alguma, sugerindo que os americanos fazem parte do plano que conspira contra o Iraque e a favor de ISIS. De fato, Irã é o grande opositor do Estado Islâmico, tanto no Iraque quanto na Síria.
De fato, pode haver outra explicação.
Um documento da inteligência americana (Agência de Inteligência da Defesa), recentemente divulgado por decisão judicial, revela que em 2012, os Estados Unidos previam a possibilidade de formação de uma principado Salafista (Estado Islâmico) na Síria Oriental, e que isso era "exatamente o que os poderes que apóiam a oposição desejam, para isolar o regime Sírio". O próprio documento revela quem seriam essas forças externas de apoio aos Salafistas: o Ocidente (EUA, Canadá e União Européia), os países do Golfo (Arábia Saudita, Qatar, e outros) e a Turquia. Já se sabe que esses países têm armado e financiado os "rebeldes" que lutavam contra o regime de Assad. O próprio vice-presidente dos Estados Unidos admitiu que a Turquia, Arábia Saudita e outros estavam enviando centenas de milhões de dólares para os grupos armados islâmicos radicais na Síria. Há evidência de que as armas usadas por ISIS são provenientes dos Estados Unidos e do Golfo. Como podem esses mesmos países serem agora parte de uma coalizão contra o Estado Islâmico?
A presença de ISIS na Síria poderia ser seriamente afetada se a Turquia adotasse medidas efetivas de controle da sua fronteira e parasse de intervir no conflito Sírio. Ao invés, na ânsia de depor o atual regime Sírio, a Arábia Saudita e a Turquia teriam feito uma aliança com o propósito de apoderar os rebeldes mais radicais associados ao grupo al-Nusra. É certo que um eventual novo governo na Síria não seria "moderado", pelos padrões Ocidentais.