Canais de Diálogo entre Rússia e OTAN Estão se Fechando
A crise da Ucrânia somente aprofundou uma contínua e progressiva deterioração dos canais de diálogo, negociação e aproximação entre a Rússia e a OTAN sobre desarmamento e segurança. Em 2001, os Estados Unidos anunciaram sua retirada do Tratado sobre Mísseis Antibalísticos, de 1972. O Tratado impunha limites severos aos sistemas de defesa de defesa contra mísseis balísticos nucleares das duas partes. O efeito prático do tratado era permitir um equilíbrio nuclear entre os Estados Unidos e a Rússia e, portanto, uma paz nuclear, visto que desencorajaria, por efeito da ameaça de retaliação, um ataque nuclear de um contra o outro.
A retirada do tratado permitiu aos Estados Unidos o desenvolvimento de um novo sistema de defesa e sua implantação em áreas mais próximas da Rússia, medidas que não seriam permitidas pelo tratado. Com isso, o equilíbrio nuclear seria, teoricamente, afetado em favor dos americanos, que teriam a capacidade de destruir, no todo ou parte, os mísseis balísticos lançados contra os Estados Unidos, mantendo ao mesmo tempo sua capacidade de ataque ou retaliação nuclear. Tal política, como era de se esperar, gerou forte oposição da Rússia e da China, e uma nova corrida de armamentos para tornar sem efeito o novo sistema americano de defesa.
No plano das armas não nucleares (chamadas de armas convencionais), o Tratado sobre Controle de Armas Convencionais na Europa foi concluído em 1990, ao final da Guerra Fria, entre países membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e do Pacto de Varsóvia (a organização de defesa coletiva dos países do bloco comunista). Celebrado como um marco histórico na nova ordem mundial, o Tratado está sob o risco de se tornar inoperante. A Rússia denunciou repetidamente a contínua expansão da OTAN para o leste, com a incorporação de 12 países do leste europeu (muitos dos quais antigos membros do Pacto de Varsóvia), como uma violação dos termos do Tratado. Essa expansão teve uma consequência importante para a Rússia: o fórum instalado pelo Tratado para a discussão de questões de segurança se transfigurou, passando de uma composição inicial equilibrada para o isolamento da Rússia, pois todos os outros países haviam se tornado membros da OTAN e se sujeitado à influência dos Estados Unidos. Os russos também alegam que o crescente estacionamento de novas forças, equipamentos militares, e centrais de comando nos países do leste europeu seria também uma flagrante violação do Tratado.
Por causa desses desenvolvimentos, a Rússia anunciou em 2007 uma moratória unilateral do Tratado, e mais recentemente, que estará suspendendo toda participação nos fóruns e procedimentos estipulados pelo Tratado. Os membros da OTAN, por seu turno, comunicaram em 2011 a suspensão de troca de informações sobre tropas e armas convencionais sob o Tratado.