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Um Exército Europeu?


Até o momento, a segurança da maioria dos países europeus é assegurada pela manutenção de forças armadas próprias e pela participação na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma organização que concede segurança coletiva para os membros. Por causa da contribuição desigual dos membros na disponibilização de equipamentos, forças e recursos militares para a organização, os Estados Unidos exercem um papel e influência dominantes na OTAN. Para ilustrar o ponto, o Reino Unido e a França dispõem de uma pequena força nuclear dissuasória, mas em face de outras potências nucleares (Rússia e China, por exemplo), esses e os demais países europeus que são membros da OTAN dependem da proteção nuclear norte-americana.


Quando há concordância na estratégia entre os Estados Unidos e os países europeus, a OTAN pode ser efetivamente mobilizada para intervenções militares dentro e até mesmo fora de sua área territorial de defesa (como o fez no Kosovo, na Bósnia, na Líbia e no Afeganistão). No caso da Ucrânia, porém, parece emergir uma diferença de estratégia e objetivos entre os Estados Unidos e a União Européia. Lembre-se que os Estados Unidos estão implicados no planejamento, preparação e execução do movimento que levou à deposiçao do então Presidente ucraniano eleito Yanukovych (veja a Notícia "A Intervenção Ocidental na Ucrânia").


A Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Federica Mogherini, disse recentemente que a União Européia "não será arrastada para uma confrontação com a Rússia". Ela obviamente se referia a um conflito militar, pois a União Européia já está em pé de guerra econômica-financeira contra a Rússia, através do regime de sanções que impôs. Essa declaração mostra a preocupação da União Européia, e certamente de alguns países líderes como a Alemanha, com a postura militar e política mais agressiva e expansionista dos Estados Unidos, e por consequência, da OTAN sobre a questão da Ucrânia.


É nesse contexto que pode ser interpretada a declaração do Presidente da Comissão Européia, Jean-Claude Juncker, na qual ele propõe a criação de um exército da União Européia como uma evolução natural da Política Externa e de Segurança Comum. Junker justifica a proposta como necessária para mostar a Rússia que os Europeus são sérios na defesa de seus valores, explicando também que nem todos os países da União Européia são membros da OTAN.


Há quem argumente, porém, que por trás da proposta está a intenção de livrar os países europeus da tutela militar dos Estados Unidos exercida através da OTAN. Como na crise gerada entre a Europa e os Estados Unidos a respeito da invasão do Iraque em 2003, a situação da Ucrânia revela que os Europeus - particularmente a aliança Franco-Alemã - não estão dispostos a se submeterem à uma política de intervenção na Ucrânica, inspirada pelos Estados Unidos e executada mediante a OTAN, que coloque em risco uma confrontação militar direta com a Rússia. Em outras palavras, a União Européia pode estar buscando mais autonomia em relação aos Estados Unidos e OTAN na definição de suas estratégias políticas e militares.

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