Há Chances de Uma Solução Política para a Crise na Ucrânia?
Já se comentou a absurda ideia de que a crise interna da Ucrânia pode ser resolvida pela força militar. Não há como justificar o uso das forças armadas da Ucrânia contra o seu próprio povo para o fim de debelar um movimento separatista e subjugar a população pela força. Para legitimar o recurso à violência, o governo ucraniano considera os separatistas "terroristas" e as repúblicas separatistas são chamadas de "organizações terroristas". A decisão de usar as forças armadas contra os ucranianos residentes no sul do país mergulhou o país numa situação ainda maior de caos, afetando seriamente sua economia e finanças.
Cientes da inviabilidade dessa abordagem, dois países europeus, a Alemanha e a França, que representam o centro político e econômico da União Européia, procuram uma solução não militar para a crise, e nesse esforço conduziram duas mediações entre o governo ucraniano e as forças separatistas. Na última mediação, que contou com a participação ativa da Rússia e da Ucrânia, as partes em conflito celebraram um acordo de cessar-fogo e separação de forças, que prevê também medidas para a solução política da crise, como a outorga de mais autonomia para as províncias separatistas. Os Estados Unidos estranhamente não participaram da mediação, o que pode indicar uma divergência de estratégia e objetivos. O Conselho de Segurança da ONU endossou o acordo, exigindo que as partes a cumpram os seus termos.
Até o momento, há otimismo reservado a respeito do acordo de Minsk, visto que, com exceção de alguns pontos esparsos, as hostilidades praticamente pararam ao longo de boa parte do front, as violações do cessar fogo estão diminuindo, e as partes parecem estar gradualmente cumprindo suas obrigações específicas de desengajamento e retiradas das forças e equipamentos para determinadas posições. Esse progresso parcial foi reconhecido pela Representante da União Européia para as Relações Exteriores, Federica Mogherini.
A Rússia procura em vão definir-se como uma das potências garantidoras do acordo de Minsk, enquanto a Alemanha e a França (e, portanto, a União Européia) classificam a Rússia como parte do conflito na Ucrânia. A líder da Alemanha, Merkel, condiciona o regime de sanções da União Européia contra a Rússia (isto é, sua manutenção, ampliação ou eliminação) à implementação rigorosa do acordo de Minsk, claramente colocando toda a responsabilidade pelo sucesso ou insucesso do acordo nos ombros da Rússia. Supondo-se que as províncias separatistas estão sujeitas às orientações de Moscou, a postura da União Européia coloca o governo da Ucrânia (e suas milícias paramilitares) na posição privilegiada de ser ao mesmo tempo parte e árbitro do conflito.