A Guerra Contra o Estado Islâmico Favorece o Irã
Na guerra contra o Estado Islâmico, Irã acentua seu controle sobre o Iraque. Após a perda de várias cidades importantes para o Estado Islâmico, especialmente Mosul eTikrit, o Governo iraquiano teve de recorrer ao seu aliado Irã para tentar restaurar o controle sobre aquelas áreas. Enquanto os Estados Unidos oferecem escasso apoio militar aéreo, o Irã envia oficiais do exército, armas, treinamento, inteligência, e milícias shiitas para ajudar o exército regular iraquiano.
Não se deve esquecer que o conflito na Síria e no Iraque assume características de um embate sectário-religioso. O grande pano de fundo é a secular competição entre Sunitas e Shiitas pela dominação do mundo islâmico. O Estado Islâmico é Sunita, assim como os países árabes que o apóiam ou apoiaram, ao passo que Irã, o governo sírio, Iraque, entre outros são Shiitas. O Shiitas são a maioria no Iraque e dominam o governo desde a queda de Saddam Hussein, que era Sunita. O conflito na Sìria apresenta a mesma divisão, e até mesmo dentro de cidades, como Tripoli no Líbano, populações das duas facções estão em estado de guerra.
O exército iraquiano pode estar relativamente enfraquecido e destreinado, mas as milícias shiitas apoiadas pelo Irã estão motivadas, bem treinadas, e muito bem equipadas. Boa parte do progresso do Iraque em conter ou rechaçar os ataques do Estado Islâmico é resultado das ações militares dessas milícias.
As milícias shiitas que estão operando na guerra contra o Estado Islâmico, a saber, a Asaib Ahl al-Haq, as Brigadas Badr e o Kataib Hezbollah, inexistiam antes da invasão do Iraque em 2003 e da deposição de Saddam Hussein. Depois da invasão, o Iraque ficou permeado de grupos paramilitares, alguns fazendo oposição armada ao governo (milícias sunitas), ao passo que outros ficaram associados ao governo ou mesmo participaram do mesmo. As Brigadas Badr, por exemplo, já lutaram contra as tropas americanas durante sua ocupação do Iraque, e até contra o governo iraquiano; estima-se que possuiria em torno de 10.000 soldados. O modelo adotado pelas milícias é o do Hezbollah do Líbano, onde uma mesma organização engloba atividades políticas (às vezes, até um partido político), assistenciais e militares, e a chefia da organização é confiada a um clérico shiita, que por sua vez é subordinado aos ditames da liderança religiosa e política do Irã.
A crise gerada pela expansão do Estado Islâmico dentro do Iraque proporcionou uma oportunidade única para a ampliação da influência do Irã. Para se ter uma idéia, o Irã enviou para o Iraque unidades da Força Quds, que são as forças especiais do exército iraniano, e à frente da ofensiva iraquiana para a retomada da cidade de Tikrit está Qassem Soleimani, o comandante dessa força. Reporta-se que Soleimani e sua Força Quds também têm atuado no conflito da Síria ao lado do regime do Presidente Assad.
Reporta-se que um assessor direto do Presidente Iraniano teria dito que o Irã "é novamente um império cuja influência se estende do Iraque para além. No momento, Iraque é o bastião de nossa civilização. Ele é também nossa identidade, cultura e capital, e isto é verdade agora com o foi no passado".
Num contexto maior, os Estados Unidos estão liderando um grupo de Estados que negocia com o Irã limites ao seu programa nuclear, e, como estímulo às negociações, levantaram grande parte das sanções. A despeito da falta de relações diplomáticas entre os dois países, reporta-se que os Estados Unidos estão coordenando com o Irã sua ações armadas contra o Estado Islâmico. O arqui-rival do Irã, a Arábia Saudita, está muito insatisfeita com a reaproximação americano-iraniana, e isso pode alterar a orientação de sua política externa e de seu círculo de alianças.