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Pode o Conflito na Ucrânia ser Solucionado pela Força Militar?


Os Estados Unidos, a União Européia e a Ucrânia caracterizam o que ocorre no leste e sul da Ucrânia como uma agressão russa. Ignoram que a Ucrânia está tecnicamente numa guerra civil (ou conflito armado interno), e que a luta tem sido conduzida majoritariamente por cidadãos da Ucrânia, embora a própria Rússia admita que nacionais seus estão lá atuando como voluntários. O governo ucraniano chama os milhares de rebeldes de "terroristas" e lançou uma brutal campanha militar contra as duas regiões e suas cidades (isto é, contra a sua própria população), presumindo que o movimento separatista, lastreado em eleições gerais, referendo popular e amplo apoio da população, pode ser debelado com o uso da força armada.


A situação lembra um pouco as guerras de secessão que ocorreram na antiga República Federal Socialista da Iugoslávia (1991-1995), exceto que naquela ocasião os Estados Unidos e a OTAN apoiaram as províncias rebeldes e atuaram contra o governo central controlado pela Sérvia (um país eslavo que mantém relações estreitas com a Rússia). Na ocasião, a OTAN chegou a lançar duas campanhas aéreas militares contra a Sérvia. A segunda intervenção militar foi mais ampla e teve por resultado final, para a Sérvia, a perda de parte de seu território histórico e a formação nele do Estado do Kosovo. Até hoje, nem a Sérvia nem tampouco a Rússia reconhecem esse novo Estado. Kosovo somente consegue manter as diferentes etnias sem confrontação direta, especialmente os albaneses e sérvios, com a ajuda de forças ou missões da OTAN, da União Européia e de uma Operação de Paz da ONU que estão estacionadas em seu território desde 1999. A despeito de toda ajuda econômica que recebem da União Européia, dezenas de milhares de kosovenses estão emigrando e entrando ilegalmente em vários países da União em busca de melhores condições de vida. A situação está tão caótica que o governo da Austria publicou um anúncio de uma página inteira no jornal kosovense de maior circulação para dissuadir os kosovenses de emigrarem para o país.


Já há vários relatórios que apontam que crimes de guerra foram cometidos por forças do governo Ucraniano. Além de bombardearem cidades das regiões separatistas, o que constitui uma violação do direito humanitário, forças do Governo de Kiev têm usado bombas de fragmentação e lançadores múltiplos de foguetes do tipo Grad contra cidades, que por sua natureza são armas de grande potencial de destruição que não discriminam entre alvos civis e militares. O presidente do Comitê do Senado americano sobre as Forças Armadas, senador John McCain, não apenas admitiu tal uso mas chegou a dizer que os Estados Unidos eram parcialmente culpados porque não estavam fornecendo armas para a Ucrânia!


Nessa semana, o governo ucraniano anunciou a suspensão do fornecimento de gás para as regiões rebeldes, no meio de rigoroso inverno, embora tenha justificado a medida com alusão à destruição da infraestrutura durante o conflito armado. Medidas como essa - que se somam aos custos humanos da guerra - só tendem a eliminar qualquer resquício de simpatia popular para com Kiev nas regiões, e minar qualquer possibilidade de um acordo político que estabeleça uma paz sustentável. A Rússia, em contrapartida, decidiu que vai suprir a população das regiões com gás, mas avisou que vai enviar posteriormente a conta para Kiev. Se a Rússia realmente conseguir fornecer gás, ela vai mostrar ao mundo que o governo da Ucrânia estava mentindo, pois terá de usar os gasodutos que estão em território ucraniano.


Os países líderes da União Européia - Alemanha e França - já expressaram seu entendimento de que a crise política interna na Ucrânia não pode ser resolvida militarmente. Eles também se opõem ao envio de armas para o governo ucraniano. Essas duas posições estão em desacordo com a postura dos Estados Unidos desde o início do conflito, o que tem gerado uma certa fissura na frente comum União Européia-Estados Unidos. Mas isso será objeto de uma outra Notícia.


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