Os Interesses Comerciais e Estratégicos da Guerra Civil na Síria
Depois de mais de 190.000 mortos e 3 milhões de refugiados internacionais, o conflito armado na Síria não mostra sinais de recrudescimento. O envolvimento de outros Estados no conflito, apoiando um ou mais beligerantes, somente contribui para a sua escalação e longevidade. Os interesses dos países que têm intervido no conflito são distintos e às vezes opostos.
A Arábia Saudita lidera um grupo de países sunitas, que inclui os demais países do Conselho de Cooperação do Golfo, numa empreitada contra o alastramento da influência Iraniana Shiita na região. O retorno da Síria para o campo Sunita seria um grave golpe contra o Irã. Por isso, o Irã tem investido bastante na manutenção do regime de Assad na Síria, utilizando até os recursos do grupo armado libanês Hezbollah. A Rússia, por sua vez, tem mantido uma estreita aliança política e militar com a Síria que já dura mais de 4 décadas. Dessa relação, a Rússia obteve acesso aos portos sírios de Tartur e Latakia, na costa do Mediterrâneo.
Quando se fala no conflito da Síria, porém, muitos ignoram os aspectos econômicos e estratégicos. Na Notícia intitulada "Como Entender o Declínio no Preço do Petróleo?" , aprendemos que a baixa cotação do barril de petróleo pode ser atribuída a, entre outras coisas, uma ação deliberada da Arábia Saudita para pressionar a Rússia a abandonar seu apoio a Assad. Mas como explicar o contínuo apoio da Rússia a Assad?
O Catar é um pequeno, mas rico, país do Golfo Pérsico que tem dedicado um enorme apoio às forças rebeldes da Síria. Somente nos dois primeiros anos do conflito, reporta-se que o Catar teria enviado 3 bilhões de dólares aos rebeldes. Por que tamanho interesse na mudança do regime na Síria?
O Catar possui uma das maiores reservas de gás natural do mundo. O país teria um projeto conjunto com a Arábia Saudita de construir um gasoduto que sairia do Golfo, passando pela Arábia Saudita, Jordânia, Síria, e Turquia, chegando, finalmente no sul da Europa e alcançando o cobiçado mercado europeu. A proposta foi apresentada a Assad que a rejeitou em favor de um gasoduto alternativo que canalizaria gás proveniente do Irã. A decisão de Assad teria selado a determinação do Catar em removê-lo.
A queda do regime de Assad e a construção do projeto de Catar significaria uma ameaça direta ao domínio russo sobre o mercado de gás na Europa. Isto pode explicar a razão pela qual Putin tem recusado ofertas tentadoras da Arábia Saudita para que venha a trair seu aliado, o Presidente Assad.
Infelizmente, no tabuleiro do jogo dos interesses comerciais e estratégicos, a vida humana não parece valer muito.