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O Inimigo do Meu Inimigo é o Meu Amigo (Enquanto for Necessário)


Os Estados Unidos estão, em parceria com o Reino Unido, Rússia, China, França e Alemanha, negociando com o Irã a respeito do programa nuclear iraniano. Há relatos também que o governo norte-americano tem mantido contato direto com a liderança iraniana. Numa das cartas secretas enviadas pelo Presidente Obama, os Estados Unidos vislumbram a possibilidade de cooperação com o Irã na luta contra o Estado Islâmico (ISIS).


Os dois países possuem uma história de intervenção, confrontação e atrito que culminou no sequestro de diplomatas, agentes consulares e funcionários da embaixada e consulado americano no Irã em 1979, pouco tempo após a revolução iraniana e ascensão ao poder do Aiatolá Khomeini. O sequestro durou 444 dias e teve por consequência o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. Até hoje, não há uma embaixada dos Estados Unidos em Teerã e nem uma embaixada iraniana em Washington. O governo iraniano mantém a pregação de que os Estados Unidos são inimigos do país e a liderança religiosa os chama de “O Grande Satanás”.


Para a surpresa de muitos, o governo iraniano confirmou recentemente o que até então eram rumores: que a força aérea iraniana executou ataques aéreos contra forças do ISIS no Iraque. O Irã, porém, afirmou que o uso do espaço aéreo iraquiano foi solicitado e autorizado pelo Iraque, e que não houve coordenação com as forças norte-americanas atuando na região. Essa última informação é bastante difícil de acreditar. O Iraque ainda não tem uma força aérea auto-suficiente, ou mesmo a capacidade material e técnica de controlar o espaço aéreo de todo o país. Acredita-se que os Estados Unidos assumiram a tarefa de dominar o espaço aéreo e liderar ou coordenar os ataques da coalizão contra o ISIS no Iraque. Não se pode admitir que o Irã tenha penetrado no espaço aéreo iraquiano e realizado o ataque sem a concordância e mesmo a coordenação com os Estados Unidos.


A participação do Irã na luta contra o ISIS deve ser compreendida dentro do contexto da rivalidade secular entre os ramos Suni e Shiita do Islã. Desde a remoção do poder e morte de Saddam Hussein (2003), o Iraque passou a ser governado pela maioria shiita, o que o reaproximou do Irã (ou o colocou sob a esfera de influência iraniana). Há várias razões para essa estreita relação:o Irã representa o centro e a liderança do mundo islâmico shiita; o Irã compartilha uma enorme e porosa fronteira com o Iraque; e há lugares sagrados de peregrinação shiita nos dois países. O ISIS, por seu turno, é um movimento Sunita que controla atualmente 1/3 do Iraque e constitui uma ameaça ao governo shiita atual e à própria sobrevivência do país como unidade política autônoma. Daí aplicar-se um velho ditado segundo o qual “o inimigo do meu inimigo é o meu amigo” para explicar a cooperação entre os Estados Unidos e o Irã no combate ao ISIS.


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