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Bulgária e Hungria - As Novas Vítimas da Crise na Ucrânia


Ucrânia é o pais que abriga os gasodutos vindos da Rússia para transportar o gás comercializado para a Europa. A recente crise na Ucrânia, que sucede uma série de outras crises energéticas entre a Ucrânia e a Rússia (disputas referentes ao abastecimento, ao alegado desvio de gás russo para consumo interno, e à falta ou atraso no pagamento), levou o governo russo a planejar a construção de um gasoduto alternativo. O novo gasoduto evitaria a Ucrânia através de uma rota no sul que passaria pelo Mar Negro, Bulgária, Sérvia, Hungria e de lá para outros pontos de escoamento.


Bulgária e Hungria são países relativamente pobres na Europa, e a construção e uso do gasoduto acrescentaria novos recursos aos cofres do Estado (somente a Bulgária receberia mais de 3 bilhões de dólares em investimento russo). Uma outra razão para que os dois países apoiem o projeto é a dependência deles em relação ao gás russo: Bulgária e Hungria importam da Rússia, respectivamente, 90% e 60% do gás que utilizam. Mas os dois países são membros da União Européia e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), organizações que estão alinhadas com a Ucrânia contra a Rússia nessa crise e que impuseram um regime de sanções contra a Rússia. A Bulgária e a Hungria sofreram enorme pressão da União Européia para bloquear a continuidade do projeto de gasoduto, e acabaram anunciando a suspensão do projeto.


Em resposta, a Rússia anunciou em novembro de 2014 o abandono do projeto e, em compensação, a conclusão de um acordo com a Turquia para a construção de um gasoduto que passa pelo país até chegar no mercado do sul da Europa. A ideia, anunciada pelo presidente da Gazprom (empresa russa que produz e comercializa gás), é que o gasoduto irá até a fronteira entre a Turquia e a Grécia; a partir de lá, caberá à União Européia prover os meios necessários para o transporte do gás até o consumidor europeu.


Portanto, os russos resolveram o dilema anulando a planejada ação retaliatória da Europa, ao mesmo tempo em que firmaram um acordo energético estratégico com um membro importante da OTAN (Turquia) que é conhecido por suas posições independentes (por exemplo, já negou acesso ou uso de suas bases militares aos Estados Unidos em determinadas crises, a despeito do pedido americano). A Turquia não é membro da União Européia - e portanto, não se sujeita às mesmas pressões que Bulgária e Turquia -, já importa grandes quantidades do gás russo, e firmou um acordo de troca de moedas com a Rússia. A Turquia também se beneficiaria politica e estrategicamente com o projeto, já que deteria o controle da "válvula do gás" para a Europa. É de se esperar, portanto, que essa relação Turquia-Rússia seja mais proveitosa.

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