As Sanções Ocidentais Contra a Rússia: que resultados podem alcançar?
As sanções impostas pela União Européia, Canada e Estados Unidos são unilaterais, no sentido de não terem sido determinadas ou aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Uma outra distinção em relação à prática seguida pelo Conselho de Segurança é que as sanções do países Ocidentais estão atingindo a economia russa como um todo, e, portanto, afetando a população russa e não apenas a liderança do país ou aqueles indivíduos ou organizações a ela associados. As sanções, de natureza financeira, comercial e econômica, atingem os 5 maiores bancos russos e suas subsidiárias no estrangeiro; as 3 principais empresas de energia da Rússia; e 3 importantes corporações de defesa russas. A essas sanções, somam-se outras de caráter diplomático, e a suspensão de programas bilaterais e regionais de cooperação.
As sanções estão produzindo um impacto econômico grande, porque alcançam os setores mais importantes da economia russa, e têm provocado uma fuga de capitais da Rússia. Não há como não afetar a população em geral. O Ministro das Finanças russo anunciou que a Rússia estaria perdendo 40 bilhões de dólares ao ano em razão das sanções. Somadas ao declínio espetacular do preço do petróleo, a situação da Rússia fica ainda mais difícil, pois o mesmo Ministro estima que o país perderia 90 a 100 bilhões de dólares de recursos da exportação de petróleo. A moeda russa (o rublo) já se desvalorizou em 30%, número que acompanha o percentual da queda do preço do petróleo. Como já se notou anteriormente, a brusca queda do preço do petróleo, provocada sobretudo pela política da Arábia Saudita, teria uma natureza de sanção também, e faria parte do pacote político negociado entre os Estados Unidos e aquele país.
Por causa da amplitude e do impacto das sanções, o Ministro das Relações Exteriores da Rússia afirmou que o objetivo dos países Ocidentais não é apenas forçar a Rússia a mudar sua política em relação à Ucrânia; para além disso, o que se pretende é uma mudança de regime na Rússia, colocando a população contra o atual governo de Putin.
O que os Ocidentais parecem não entender é o valor histórico, cultural, nacional, político, estratégico e militar da Criméia para os Russos (veja a Notícia "Por que Ucrânia é tão importante para a Rússia"). Uma mudança de governo na Rússia não acarretará o retorno da Criméia para a Ucrânia. Enquanto isso, o novo governo da Ucrânia, recém-eleito, anunciou suas prioridades na área da política externa: a admissão do país na OTAN e o retorno da Criméia. Se o Ocidente continuar a apoiar e encorajar a Ucrânia na busca desses dois objetivos, não se vê como a crise possa ser resolvida pacificamente. O Ocidente não deveria encorajar esse tipo de comportamento a não ser que esteja disposto a contemplar a possibilidade de uma ampliação e agravação do conflito que leve à terceira guerra mundial. A continuação da crise, portanto, não pode ser de interesse da sociedade internacional.
Até o momento, o conflito entre as forças do governo da Ucrânia e as forças das regiões do leste que buscam sua independência já causou a morte de 4.300 pessoas e quase 10.000 feridos, sem contar o deslocamento interno e transfronteiriço de quase meio milhão de pessoas, a maioria das quais de ascendência russa. E segundo as Nações Unidas, há evidência, nesse conflito, de graves violações dos direitos humanos e direito humanitário, isto é, crimes de guerra.