Por que Ucrânia é tão importante para a Rússia
A Ucrânia está associada à própria história da Rússia. O que se conhece hoje como Ucrânia foi o local onde nasceu o Cristianismo Ortodoxo Russo, e essa região foi parte do império russo por centenas de anos. Foi nesse território que Alexandre I, o imperador da Rússia, finalmente derrotou o invasor Carlos XII da Suécia, consolidando a supremacia russa sobre a Europa do leste.
A Criméia foi historicamente a sede da frota naval russa no Mar Preto, e sua importância estratégica para os Russos reside na sua localização, que permite acesso ao Mediterrâneo.
Até 1954, a Criméia era parte da Rússia (e não apenas da União Soviética), e foi "dada" a Ucrânia, quando esta ainda era parte da União Soviética, pelo líder Soviético Nikita Krushchev (um Ucraniano de nascimento).
A crise na Ucrânia, sob o ponto da vista internacional, pode ser explicada simplesmente como uma disputa de interesses estratégicos opostos entre a Rússia, de uma lado, e a União Européia e a OTAN (que inclui os Estados Unidos e o Canadá), de outro. Parece estranho que mais de 20 anos após o fim da Guerra Fria estejamos revivendo uma situação como essa, mas, como bem o disse Kissinger, o colapso de um império provoca duas fontes de instabilidade: a tentação dos vizinhos de tirarem proveito estratégico do enfraquecimento do centro imperial, e a tendência do poder central de restabelecer a hegemonia perdida.
A OTAN tem se expandido continuamente para o Leste desde o fim da Guerra Fria, e a admissão da Ucrânia, expressamente ventilada na Cimeira de Bucareste em 2008, levaria a OTAN à própria fronteira da Rússia. Informação classificada divulgada na Wikileaks revela que o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Lavrov, deixou bem claro ao Embaixador americano que a admissão da Ucrânia na OTAN seria vista como uma "ameaça militar", e que a Ucrânia era um assunto emocional, neurágico e estratégico para a Rússia. Em tom profético, Lavrov até anteviu que a tentativa de incorporar a Ucrânia à esfera Ocidental poderia dividir o país em duas partes e levar a violência e até a uma guerra civil.
Uma saída viável para essa disputa seria adotar a solução esposada pela Austria, Suiça e Finlândia: a neutralidade permanente da Ucrânia, que seria respeitada pelos dois lados, ao passo que o país teria a liberdade de determinar suas associações econômicas e políticas (preferencialmente, engajando-se economicamente e politicamente com os dois lados). Nesse sentido, a Ucrânia não poderia ser país membro da OTAN. Domesticamente, como dito em outra postagem, faz-se necessário a adoção de políticas que acomodem os interesses dos dois grandes agrupamentos sociais e políticos que compõem o país.
Até o momento, porém, a opção pela neutralidade não parece estar sendo seriamente contemplada pela própria OTAN, o que sugere a continuidade da crise.