Disputa Pelas Terras Raras: Estados Unidos Buscam Reduzir Dependência Da China
- dri2014
- 7 days ago
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As terras raras — recente objeto de discussões entre Pequim e Washington — são um conjunto de 17 metais fundamentais para a fabricação de produtos de alta tecnologia e de aplicação bélica. A maior parte desses elementos químicos encontra-se espalhada pelo mundo, todavia é raro encontrá-los em sua forma pura, e o processo de extração é considerado arriscado e dificultoso, exigindo mais de 100 etapas de processamento e o uso intensivo de ácidos.
Os minerais raros são essenciais para as atividades industriais e de defesa, uma vez que o seu aproveitamento possibilita a produção de telas de televisão e computadores, discos rígidos, motores de veículos elétricos e motores a jatos, equipamentos médicos de alta tecnologia, semicondutores e tecnologias de defesa. A indústria automobilística representa o maior mercado consumidor desses metais, incorporando-os em componentes como motores de frenagem e direção, ímãs e demais sistemas automotivos. Além disso, as terras raras tidas como “pesadas” são imprescindíveis para a segurança nacional, em razão do seu emprego em campos militares, como mísseis, radares, veículos aéreos e ímãs permanentes.
Na conjuntura global, é possível encontrar metais raros em todas as partes do mundo, porém dificilmente em concentrações altas o suficiente para uma extração eficiente. Segundo dados de 2023 da Agência Internacional de Energia, a extração e processamento de matérias-primas para minerais raros é majoritariamente concentrada na China, responsável por 61% da produção global, seguida por Mianmar (15%), Estados Unidos (9%) e outros países (15%). Essa concentração torna-se mais significativa na produção refinada, com a China dominando 92% da cadeia produtiva, seguida pela Malásia (5%), Vietnã (1%) e resto do mundo (1%). A China realiza o processamento de seus próprios minérios e também de parte considerável da produção do Mianmar e dos Estados Unidos.
Acrescenta-se que o domínio da China quanto à cadeia de fornecimento de metais raros é consequência de políticas governamentais estratégicas e investimentos de longo prazo. Ainda assim, o monopólio chinês é reforçado diante da relutância dos demais países — incluindo os da União Europeia — em produzir recursos de terras raras, visto que a extração e o processamento são caros e poluentes, além de demandarem um descarte seguro para os resíduos radioativos. O território chinês também apresenta alguns dos melhores depósitos de terras raras do globo terrestre, os quais estendem-se do centro-sul da China — em um vale perto de Longnan — até o extremo norte do Mianmar.
Em meio a escalada da guerra comercial com os Estados Unidos, a China impôs restrições rígidas à exportação de sete minerais: disprósio, gadolínio, lutécio, samário, escândio, térbio e ítrio, que são extraídos predominantemente na China e no Mianmar. A decisão de Pequim foi justificada a partir do “uso duplo” dos recursos, que poderiam ser aplicados para fins militares e civis. Destaca-se, nesse sentido, que a China detém o controle do fornecimento de materiais com potencial bélico produzidos em seu território, adotando medidas restritivas de exportação conforme julgar necessário.
Os Estados Unidos apontaram que tal imposição de limitação às exportações de terras raras seria uma retaliação chinesa diante da decisão do governo Trump em impor tarifas sobre as importações vindas da China e de demais países. Em resposta, a China alegou que as restrições impostas se aplicam para todos os países, não apenas aos Estados Unidos. Na verdade, a ação chinesa se entende nesse contexto de guerra comercial, mas também como resposta dos Estados Unidos e aliados ocidentais de restringir a exportação de semicondutores e tecnologia de ponta para a China.
Nota-se que suspensão das exportações terras raras nesse ano remontam a estratégia chinesa adotada em 2010 frente a uma disputa territorial com o Japão, em que um grupo comercial — Sumitomo — juntamente com o governo japonês optaram por investir na capacidade produtiva de uma empresa australiana e de processamento na Malásia com vistas a diminuir a dependência com a China. Como resultado do embargo chinês da época, os Estados Unidos e a Europa tentaram desenvolver indústrias próprias de metais e ímãs de terras raras, frustrando-se em face dos altos custos para a conformidade ambiental.
A decisão da China em limitar substancialmente as exportações dos minerais afeta diretamente a indústria de defesa dos Estados Unidos, que apesar da política de redução de avanço na autossuficiência do governo Trump, não possui capacidade de produção interna para suprir sua demanda dos minerais. A sinalização manifestada por Donald Trump no início do ano em adquirir o controle da Groenlândia compõe a estratégia dos Estados Unidos — antes mesmo da escalada da guerra comercial com a China — em reduzir a dependência dos minerais chineses no setor, uma vez que o território autônomo da Dinamarca dispõe da oitava maior reserva global de terras raras.
Recentemente, os Estados Unidos e a China ajustaram uma trégua comercial, com a possibilidade de levantamento das restrições à exportação dos minerais raros. A eventual conclusão do acordo, após meses de negociações, é uma reação direta às limitações de exportação dos minerais chineses após a escalada da então guerra comercial, que demonstra a tentativa dos Estados Unidos de contornarem a barganha comercial chinesa.
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