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A Invasão Turca se Torna em Ocupação


Os Turcos invadiram a Síria no dia 24 de agosto sob o pretexto de combaterem o Estado Islâmico. O governo sírio imediatamente expediu comunicado denunciando a violação de sua soberania e integridade territorial. Ainda assim, tropas turcas agora ocupam parte do norte da Síria (e também Iraque) e continuam a enviar mais homens e equipamentos para a região. A força aérea turca está atuando em espaço aéreo sírio, antes fechado pelos russos, porque Ancara restabeleceu relações amistosas com a Rússia. Os Estados Unidos, como sempre, concedem carta branca a Erdogan.


Já se falou, no post anterior, sobre os reais objetivos da Turquia com a invasão. Os fatos confirmam as hipóteses. Até o momento, as forças turcas estão combatendo apenas forças curdas. Combatem os curdos turcos do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), na Turquia e no norte do Iraque, e os curdos sírios do YPG e PYD. Se estas operações continuarem, poderemos ter um fluxo transfronteiriço ainda maior de de refugiados curdos e, na pior das hipóteses, um novo genocídio cometido pela Turquia (se considerarmos o genocídio contra os armênios, quando aproximadamente 1,5 milhão de armênios foram mortos ou expelidos do Império Otomano na década de 1910 até o início da década de 1920). Do ponto de vista estratégico, a contradição é óbvia: a Turquia alega que está combatendo o Estado Islâmico, mas na verdade luta contra forças curdas que representam um dos maiores inimigos do Estado Islâmico. Os Estados Unidos, por seu turno, estão virando as costas para seus aliados curdos. O quadro estratégico, porém, é mais amplo.


Enquanto os curdos, por exemplo, buscam um Estado ou uma região autônoma, a Turquia, o Estado Islâmico, e os rebeldes sírios almejam um Califado. Quanto à Turquia, o objetivo maior ou sonho de Erdogan é a restauração do Império Otomano, o último e mais longo califado do mundo islâmico. Em outro Comentário, mostramos como a Turquia e o Estado Islâmico têm atuado juntos. Agora, seria bom mostrar o vínculo entre a Turquia e os rebeldes sírios.


Abdul Hakim, o líder da maior facção rebelde proveniente do Cáucaso que luta na Síria, a Ajnad al Kavkaz, ou Soldados do Cáucaso, foi entrevistado recentemente em Istambul, capital da Turquia, onde estava para arrecadar recursos para a continuação da campanha militar. É sabido que chechenos, uzbeques, cazaques, tadjiques, tunisianos, marroquinos, afegãos, paquistaneses, e até chineses muçulmanos (Uigures) entram na Síria através da Turquia. Muitos deles recebem apoio e treinamento da Turquia, formando grupos armados organizados, como, por exemplo, a Brigada Nour al-Din al-Zinki e a Brigada Al-Muatasim. O que todos têm em comum: anseiam por um Califado sobre todo o mundo islâmico (Al-Muatasim foi um dos califas islâmicos). A única maneira de tal sonho se realizar seria mediante um Estado islâmico militarmente forte na região, como a Turquia. Juntamente com essas forças, pode-se especular que a Turquia controla hoje metade do território sírio. Se e quando o Exército da Síria Livre derrubar o regime de Assad, o controle será completo.


Erdogan, e seu partido, estabeleceram duas metas temporais para o atingimento de uma poderosa Turquia: os anos de 2023 e 2071. Em 2023, serão exatos 100 anos da fundação da República secular da Turquia, após o colapso do Império Otomano (desenvolvimento que e condenado por Erdogan). O ano de 2071 marca os 1000 anos da famosa batalha de Manzikert, quando os turcos seljik derrotaram forças bizantinas, conquistaram a região de Anatólia, a levaram à derrocada do Império cristão Bizantino.

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